segunda-feira, dezembro 25, 2006

Coisas de 2006

Época de balanços, de pesos e medidas, de classificações, e de listas seriadas. Enfim, um não mais acabar de presentes embrulhados em forma de "Best of" ou se preferirmos, os melhores de...
Não sou excepção, e como tal deixo aqui publicada a minha listinha de discos referentes ao ano que está prestes a findar. Sem qualquer critério de preferência, entenda-se...



  • "Jarvis" - Jarvis Cocker
  • "The Body, The Blood, The Machine" - The Thermals
  • "Fastman Raiderman" - Frank Black
  • "Victory for the Comic Muse" - The Divine Comedy
  • "Damaged" - Lambchop
  • "The Life Pursuit" - Belle and Sebastian
  • "At War with the Mystics" - Flaming Lips
  • "Hosannas from the Basement of Hell" - Killing Joke

PRÉMIO "FALTOU-TE UM BOCADITO ASSIM..."

  • "The Information" - Beck

CONCERTOS

  • Belle and Sebastian no Coliseu - 17 de Julho
  • Tom Zé na Culturgest - 4 de Maio
  • Camera Obscura no Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra) - 26 de Outubro

PRÉMIO "NUM PALCO SEMPRE IGUAL..."

  • Pixies no Pavilhão Atlântico - 27 de Julho

FILMES

  • O Novo Mundo - Terrence Mallick
  • Uma História de Violência - David Cronemberg

quarta-feira, dezembro 13, 2006

I`m a song mad(k)e like paper


Sou uma canção. Descobri-o há algumas horas atrás.

Entranho-me no feedback despudoradamente delicado da guitarra de Mark Kozelek,

A anarquia melódica prossegue em cadência lenta, ao sabor da espontaneidade de quem arrasta as notas como se fossem bolas de sabão lançadas ao acaso num céu azul carregado de pequenas nuvens brancas inquietas, à espera do momento oportuno para descarregar silvos invernais de água morna, para depois, enternecidamente deixar escapar fagulhas de uma lareira crepitante, pronta a aquecer-me o espírito.

Metáfora da vida passada? Dio Mio… Passa por mim um vulcão chamado “Make Like Paper”. Continua em ebulição de há dez anos para cá…

terça-feira, dezembro 12, 2006

F.O.D.A. adiado(a) para dia 4 de Janeiro


O F.O.D.A. foi adiado para dia 4 de Janeiro, o que quer dizer que o caldense Nélson Rodrigues (Guru, Nelo, Jambé, Morto), o benfarrense Edgar Guerreirro (Benfas, Benfarras, Botifarras, O Grande Cabrão), o alfacinha Ricardo Costa (Garcia, Garça), o sintrense??? Hugo Moisés (Mão, Mão Rai) e o cartaxense André Pitta-Groz (Pitta, Cabrito, Fritz, Amadeu, Nã sê, dig eu) irão ter mais umas férias para olear a máquina ...do Guru! para o frio gélido da encosta serrana.
Vão estando atentos porque... Nelo é Nelo e ...do Guru! é Nelo... e desta começa mesmo a TourNelo 2007. E mais não digo.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

...do Guru! no F.O.D.A., Covilhã, 12 de Dezembro



Ei-los de volta. Quando nada o fazia prever eis que ...do Guru! volta de novo. Desta feita para o verdadeiro concerto da licenciatura, e, pela primeira vez fora da cidade Natal - Caldas da Rainha.
No próximo dia 12 de Dezembro, na Covilhã, e inserido no projecto F.O.D.A., ...do Guru! dará o seu quinto concerto, onde se espera não faltem os sucessos que fizeram deste jovem caldense e seus companheiros de banda um verdadeiro fenómeno local (lembram-se da lotada praça do Daiquiri em Maio de 2004 e dos esgotadíssimos concertos no Centro da Juventude em Outubro de 2004 e Fevereiro de 2006?).

A não perder... MESMO

sábado, novembro 18, 2006

Os Reis mag(r)os


Há um tempo atrás publiquei aqui no Rebuçados um desabafo onde manifestava a minha indignação face à discriminação dos monos.

A quadra natalícia aproxima-se e com ela a inevitabilidade do consumo desregrado, consequência do “bom desempenho” de uma poderosa máquina de marketing, que se alimenta de forma autofágica, num processo circular, muitas vezes confrangedor, mas sempre rentável e vencedor. É caso para dizer que o novo espírito natalício – distante daquele que herdámos dos nossos avós – comeu a galinha, o peru, ou ainda – num rectângulo à beira-mar plantado – o bacalhau com batatas.

Os valores esvaem-se numa inocente aparência de quem debita meia dúzia de balelas e frases feitas sobre a paz, o amor e a solidariedade. Os restantes 99% são árvores gigantescas, decorações estilizadas, luzes e neons coloridos apontados à retina de milhões de pessoas, que, perante tal cenário parecem libertar uma espécie de insanidade recalcada guardada exclusivamente para esta altura do ano.

“Bom” – diríamos – “mas isto é apenas o Natal”. Não, não é. Uma semana depois o espírito ganha novos contornos, as baterias da poderosa máquina são apontadas para outra direcção, mas a base de sustentação contínua a ser a mesma. O Natal foi “engolido” para produzir o “monstrinho” pagão do Ano Novo. Consome sem parar. Bebidas: espumante, champanhe, vinho, cerveja. É preciso é entrar com o pé direito e de preferência a cambalear. Menos mau. Já lá vão as bocas cheias de verborreia dos cínicos mandantes do mundo que aproveitam a semana anterior para propalar os seus beneméritos desígnios.

Lembram-se da história da discriminação que referi logo ao início? É aqui que ela entra.
Cresci a saber que a quadra natalícia só terminava no dia de reis. A “máquina” – provavelmente esgotada depois de duas semanas imparáveis – ainda não encontrou uma forma de rentabilizar as potencialidades deste dia. Não me parece que o bolo-rei dê crédito ao dia mais discriminado da quadra festiva. Por mim ainda bem. Acho apenas que o pobre dia merecia maior consideração; que se falasse dele (não que se aproveitassem dele). O 1º de Maio é um feriado mundial sem aproveitamento comercial aparente e toda a gente fala dele (será mesmo por ser feriado?). Pronto, até o dia 1 de Abril (vulgo dia das mentiras) tem maior promoção que o dia 6 de Janeiro. Quanto mais não seja pela mentirinha “marota” do pivot do telejornal.
É essa discriminação que me chateia.

Se a humanidade não consegue (ou não quer) encontrar um equilíbrio justo entre pares num mundo “sacaninha”, pelo menos que o tente fazer com os supostos dias importantes do ano…

E pronto, em 2007 o dia de reis vai ter um saborzinho especial…

domingo, novembro 12, 2006

Rebuçados Viajeiros


Os dias são curtinhos, mas o Verão de S. Martinho pode e deve ser aproveitado para fazer pequenas viagens. Aqui ficam cinco propostas para uma viagem bem passada:

  • "World Cup Fever" - Air Miami (Me, Me, Me, 1995)
  • "Beers before the Barbican" - Lambchop (Damaged, 2006)
  • "Beanbang Chair" - Yo La Tengo (I`am not Affraid of you and I`ll beat your Ass, 2006)
  • "Lazarus" - Boo Radleys (Giant Steps, 1993)
  • "Paper Tiger" - Beck (Sea Change, 2002)

"Memories - Work in Progress"

  • Maio de 2006 - Praia de S. Julião
A comemoração do dia da espiga em S. Julião (Ericeira) é no minímo peculiar. Uma praia que é também parque de campismo, o bar Limipicos a debitar o belo "barrão house", o Jonhy Cristino a tocar rock só com a mão esquerda, uma brasileira que, a dançar em cima de uma coluna vai rejeitando todos os pretendentes e um Dj animador de alto gabarito. Pró ano há mais.


  • Novembro de 1997 - Cartaxo
O meu aniversário. 80 convidados, muita bebida e distracção. Um fernesim de som com direito a jam session. E estava passada a barreira dos vinte.


  • Agosto de 2001 - Zambujeira do Mar
Rumo ao sul com a Joana para ver e ouvir o último dia de Sudoeste, com Divine Comedy (a promoverem o rebelde "Regeneration") e Flaming Limps. Tempo ainda para sentir a poeira levantar com os Sepultura.
Viagem de regresso atómica na mesma noite.


  • Março de 2002 - Gerês

Um acampamento de três dias no Gerês. Muita calma e descanso num ano atípico, mas proveitoso. Viagens madrugadoras pela serra abaixo, acompanhadas de vinho e cerveja.

sábado, novembro 04, 2006

E vão mais 5 castanhadas

  • Adeus Orelhas de Abano – Fausto (A Ópera Mágica do Cantor Maldito, 2004)
  • Prisioner of the Past – Prefab Sprout (Andromeda Heights, 1997)
  • The Vanishing Spies – Frank Black (Teenager of the Year, 1994)
  • Alegria, Alegria – Caetano Veloso (Tropicália, 1968)
  • Seymour Stein – Belle and Sebastian (The Boy with the Arab Strap, 1998)

e mais uma para comer à lareira enquanto se espreita o Novo Mundo:

  • Center of the Universe – Built to Spill (Keep it like a Secret, 1999)

Prisioneiro do Passado (sem Eládio Clímaco)


A Prisioner of the Past teria sido uma forte candidata à vitória do Festival Eurovisão da Canção de 1997, caso os Prefab Sprout não se ficassem apenas pelo bom senso da procura da canção pop perfeita (algo que almejam desde o início de carreira) sem pretensiosismos bacocos.
Para mim, os Prefab Sprout são uma daquelas bandas que, não sendo apaixonantes, vão deixando pequenos segredos em forma de canções, simpáticas e comedidas.
A fazer um paralelo com o que já aqui escrevi no rebuçados, diria que estão numa divisão de honra ao lado dos Pet Shop Boys, mas numa estética musical um pouco diferente.
A Prisioner of the Past é uma canção orquestrada a fazer lembrar os Divine Comedy, num exercício pop que mistura violinos e sopros com teclados naíves que por vezes parecem aqueles pequenos casios para crianças.
Essa conjugação de universos aparentemente ambíguos serve de ponte para o cruzamento com o tema principal onde Paddy McAloon canta sobre o (des)amor – afinal o que é isso? – “I'm a ghost to you now, I'm someone you don't really wish to see”. Enfim, é uma daquelas canções que se ouve em qualquer circunstância – num supermercado, numa discoteca, num bar, num jantar romântico – sem qualquer tipo de preconceitos, e isso só pode, obviamente, ser um elogio.

sexta-feira, novembro 03, 2006

"Memories: Work In progress"

Agosto de 1991 – Quinta da Graminheira (Vale de Santarém)

Em tempo de puberdade, dois jovens passam o tempo em amenas cowboiadas em plena lezíria ribatejana. O pequeno tractor Isuzu era motivo de discussão para as conduções aluadas de ambos.
O tanque de água fresca era o prémio merecido depois de um desgastante dia de trabalho.

Palavras / Nomes / Expressões chave:

  • Melão
  • Martelada
  • Tractor
  • Nirvana

Fevereiro de 2006 – Caldas da Rainha (Carnaval)

O último Carnaval caldense foi um épico de parvoíce e divertimento. Uma extensa família cigana criou o caos na cidade dos falos. Foi a despedida dos finalistas estagiários.

Palavras / Nomes / Expressões chave

  • Gipsy Kings
  • “lo lai lo lai… à mi manera”
  • Palácio Cigano
  • Nelo

Abril de 1994 – Cartaxo

A descoberta da “Margem de Certa Maneira” na comercial, e de que era possível ouvir boa música independente em Portugal.
1h/3h da manhã, num pequeno quarto, com os headphones a ouvir a colheita do “melhor” ano de sempre da música pop: Pavement, Beck, Frank Black, Madder Rose e outros na cartilha.

Palavras / Nomes / expressões chave

  • K7
  • Atenção
  • Golden Palominos
  • Frank Black
  • Rui Vargas

Maio de 2001 – Guitar Club (Pechão – Faro)

Uma jovem banda do Cartaxo ruma ao sul para participar na eliminatória do concurso “Maio Jovem”.
Valeu a óptima noite primaveril, o espírito e a amizade da banda e respectivas groupies…!!!
Regresso num intercidades com sabor a erva, desembocado num sereno cacilheiro.

Palavras / Nomes / Expressões chave

  • Temple of Noise
  • Pousada de Juventude
  • Cacilheiro

quinta-feira, novembro 02, 2006

Cinco Copos de 25

Para quem já provou as castanhas aqui ficam agora cinco copos de 25 de vinho novo para degustar durante o S. Martinho:


  • The Long Voyage - Hector Zazou com Suzanne Vega e John Cale (Songs from the Cold Seas, 1995)
  • Evangeline – Cocteau Twins (Four – Calendar Café, 1993)
  • Jumbo – Underworld (Beaucoup Fish, 1998)
  • Ain`t that enough – Teenage Fanclub (Songs from Northern Britain, 1997)
  • Big Gay Heart – The Lemonheads (Come on feel…, 1993)

e como, quem bebe cinco bebe sempre mais um aqui fica também uma das melhores pomadas de 2006:

  • Stamps - I´m from Barcelona (Let me introduce you to my friends, 2006)

quarta-feira, novembro 01, 2006

Do CCC pró DocLx

As artes visuais e performativas, fazendo parte de um extenso universo, onde, em última instância dão expressão e corpo a uma determinada cultura, devem ser alvo de uma atenciosa observação.
O espírito crítico desenvolve-se a partir da capacidade de argumentar através de opiniões, posições críticas, mas também de saber ouvir, dialogar e respeitar, para, em consonância, contra-argumentar, concordar ou discordar.
Nesta perspectiva sinto-me um espectador de diversas expressões artísticas e culturais com um espírito crítico cada vez menos passivo, mas sim mais mordaz e acertivo.
As diversas formas de expressão artística procuram de alguma forma despertar emoções e sentimentos no espectador.
Nos últimos dias e, apesar da escassez de tempo, tive a oportunidade de ver uma peça encenada pelo grupo de teatro “O Bando”: “Gente Feliz com Lágrimas”, no Centro Cultural do Cartaxo. Tive também a possibilidade de assistir a dois filmes na última sessão de Terça-Feira na terceira edição do DocLisboa a decorrer na Culturgest até ao próximo dia 29 de Outubro.
Curiosamente, nenhum destes três produtos culturais me suscitou particular sensação. Este sentimento de alguma frustração deriva, talvez, do facto de não me ter conseguido imbricar nas obras, em não ter sentido que, de certa forma eu era também uma peça essencial do produto artístico. Não me senti envolver pelos actores, cenas ou locais representados.

Sábado, 21 de Outubro

“Gente Feliz com Lágrimas” é a adaptação de uma obra de João de Melo, autor que, confesso, desconheço.
No palco está uma estrutura giratória – metáfora da passagem do tempo. Dois actores. Ele interpreta sublimemente todo um processo metamórfico de personagens e estados de alma. Ela cumpre bem o seu papel, mas não excede.
Não me parece que o facto de não ter conhecimento de causa da obra em questão seja um requisito essencial para a apreciação da adaptação da mesma para o palco. Vi Bestia da Stile três vezes consecutivas na Culturgest sem nada conhecer do seu autor – Pier Paolo Pasolini e ainda assim achei a peça um portento de interpretação, de expressão verbal e corporal, sem recurso a grandes dispositivos técnicos e cénicos.

Terça-Feira, 24 de Outubro

Uma sessão da terceira edição do DocLisbboa com direito a dois filmes.
O primeiro, uma curta-metragem de Edgar Pêra – confesso que também desconheço o seu trabalho – que explora de forma cínica dois acontecimentos mediáticos do ano transacto: a morte do Papa João Paulo II e respectivas exéquias, homenagens e funeral e na mesma perspectiva, mas no ângulo ideológico – social inverso, a morte de Álvaro Cunhal e também o respectivo funeral.
Não deixa de ser curioso o cruzamento de símbolos aparentemente antagónicos e que acaba por acentuar o paroxismo que normalmente acontece inconscientemente em situações limite. Exemplos concretos que extraí da visualização da curta: imagens de um povo simples, pobre que presta homenagem ao chefe de um dos Estados mais ricos do mundo (senão mesmo o mais rico). Na segunda parte uma espécie de reverso complementar, o povo que acorre em massa ao funeral a um dos ícones maiores do comunismo a nível mundial. As bandeiras vermelhas, com a foice e o martelo esvoaçam ao lado das cruzes no cimo dos jazigos.
Alusão ao 11 de Setembro na imagem de uma implosão antecedida por um plano onde vemos dois aviões?

Arcana
O filme documentário que se seguiu procurou ser a fidelização a uma realidade recentemente desaparecida. Porquê o uso do preto e branco? Tentativa pretensiosa de dimensionar uma retrospectiva trágico – decadente de um lugar e respectivos habitantes? Falhada…
“Arcana” tenta retratar uma realidade – os últimos dias da prisão de Valparaíso no Chile – sem que o realizador Cristobal Vicente tenha conseguido escolher o enquadramento correcto para o seu retrato.
O filme é uma amálgama de imagens frias, palavras secas, proferidas pela voz dos prisioneiros que parecem, ora intimidados pela presença da câmara, ora com um à vontade desarmante, como se tudo estivesse meticulosamente preparado para resultar num registo natural e imprevisível. “Arcana” é a antítese da surpresa, dessa imprevisibilidade.
É todo um registo extenso, redundante, sem chama, com uma clarividência tão óbvia que nem o uso do preto e branco deixou ocultar.
Uma desilusão, até porque os planos iniciais, em registo quase Slide show prometiam uma visão peculiar e original dessa realidade. Foi isso que me ficou na retina, bem como os últimos minutos (que contam a história toda sem comunicação verbal), e o plano final em zoom out, em distanciamento formal (uso da cor), num redimensionamento espacio – temporal politicamente correcto num registo documental audiovisual.
Pobrezinho
.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Cinco Castanhas para o S. Martinho

Aqui ficam cinco castanhinhas para acompanhar com uma boa jeropiga ou água-pé durante os primeiros dias de Novembro:



  • The Certainty of Chance - The Divine Comedy (Fin de Síècle, 1998)
  • 23 minutes in Brussels - Luna (Penthouse, 1995)
  • Mad as Snow - Kitchens of Distinction (The Deatho of Cool, 1992)
  • St. Rosa and the Swallows - The Thermals (The, body, the blood, the machine, 2006)
  • Come on - The Jesus and Mary Chain (Stoned and Dethroned, 1994)

Kitchens of Distinction

domingo, outubro 29, 2006

Camera Obscura, Teatro Académico Gil Vicente – Coimbra, 26 de Outubro de 2006




22 Horas. O Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra está totalmente cheio, pronto a receber os convidados especiais da noite, a pretexto da apresentação da nova grelha de programação da RUC (Rádio Universidade de Coimbra).
Chamam-se Camera Obscura, são escoceses e esta é a única actuação na sua passagem por Portugal.
Cinco minutos depois (de muita publicidade) abrem-se as cortinas e surgem seis músicos prontos a adocicar-nos as almas com pequeninos bombons pop, country e folk.
Mais uma vez a comprovação de que da fria terra escocesa brotam talentos capazes de aquecer os corpos mais tímidos e envergonhados em terras lusitanas.

Tracyanne Campbell é a anfitriã, tal como Stuart Murdoch o havia sido no concerto dos conterrâneos e padrinhos Belle and Sebastian no concerto do Coliseu dos Recreios no passado dia 17 de Julho (comparação inevitável).
O começo é morno, mas ao terceiro tema, “Tears for Affairs”, surge a primeira grande ovação para um convidado muito especial, Francis MacDonald, baterista dos amigos Teenage Fanclub. Tracyanne explica que Francis e a sua namorada acabaram de ter um filho, mas ele ali está, sorridente, pronto a dar uma ajuda nas percussões. É disto que se faz uma banda pop ao vivo. Das pequenas subtilezas, das coisas simples e delicadas e do sentimento de irmandade que emana do palco.

“Lloyd, I´m ready to be heartbroken” arranca alguns dos presentes para a frente do palco, quando Tracyanne já o havia sugerido momentos antes: “…to dance a little, maybe…”.
“Let`s get out of this country”, tema título do super elogiado ultimo disco da banda recebe rasgados aplausos.

Tracyanne convida-nos a beber um vinho do Porto, enquanto o guitarrista diz estar muito contente por estar a ser tão bem recebido na sua primeira visita a Portugal.
Francis vai entrando e saindo do palco, tocando em pedacinhos de temas, coadjuvando o baterista…

“Teenager” é um dos momentos mais bonitos do concerto… Curto infelizmente. 45 Minutos e os músicos saem do palco depois de tocarem o magistral “Razzle Dazzle Rose”. Voltam para um pequeno encore de 15 minutos onde incluiram “Suspended from Class” do seu segundo album, “Underachievers please try harder”. O público aplaude de pé, mas as cortinas fecham-se.
Os Camera Obscura deixa-nos ficar com muita água na boca na gestão do tempo/música que fizeram do seu espectáculo, como se aquele fecho de cortinas fosse apenas um “até breve… temos ainda muito para vos dar”.
Talvez tenha sido mero capricho do acaso, mas o dia seguinte raiou com um saudoso sol outonal. É caso para dizer que, com os Camera Obscura o Verão de S. Martinho chegou mais cedo.
Viessem os Teenage Fanclub até final do ano, e 2006 seria o ano perfeito em campos verdejantes salpicados por pequenas centelhas alaranjadas.

segunda-feira, outubro 23, 2006

DocLisboa 2006

A verdade é que o evento já começou, mas nunca é tarde para relembrar que a edição 2006 do DocLisboa está a decorrer na Culturgest (edifício sede da Caixa Geral de Depósitos),desde o passado dia 20 até ao próximo Domingo, dia 29.

Informações detalhadas em: http://www.doclisboa.org/

sexta-feira, outubro 20, 2006

Jesus "reeditados"


A propósito da reedição da discografia dos Jesus and Mary Chain algumas linhas se têm escrito muito recentemente nas páginas dos meios de comunicação social impressa especializados.
Este facto só vem acentuar a importância e a influência da banda durante a segunda metade dos anos 80 e o início dos anos 90 (sim, "Loveless" dos My Bloody Valentine nasce dos escombros de "Psychocandy").
Ontem li num livro de "Contos Apátridas" uma frase que dizia algo do género: o que tentamos esquecer é o que mais dificilmente conseguimos esquecer. Nesta simples aferição se aplica o que me apraz dizer sobre o que foi comentado sobre a supracitada reedição de quase toda a discografia dos Mary Chain.
Ponto 1 - Há um disco chamado "Psychocandy" que ninguém quer esquecer. As razões óbvias são por demais conhecidas: foi uma pedrada no charco num meio musical pejado e obeso de "beats" hiperbólicos da desgastada "New Wave". Torrentes de feedback ao lado de melodias "à la" Beach Boys, as vozes profundas dos irmãos Reid, a bateria primária e grostesca de Bobbie Gillespie fizeram do disco um marco na história da música pop.
Ponto 2 - Depois de "Psychocandy" e com uma distância temporal de 8 anos desde a edição do último disco ("Munki" de 1998) e posterior dissolução da banda, existe toda uma discografia (4 discos reeditados à excepção do último), que alguns pretendem esquecer mas não conseguem.
Urge a questão: o que fazer depois de "Psychocandy"? A resposta foi fácil e surgiu na forma de um disco chamado "Darklands".
Em "Darklands" a muralha sonora de distorção e feedback foi praticamente abolida (excepção para "Fall"), para deixar despidas as melodias melancólicas que marcam transversalmente todo o disco.
O baixo e a bateria passam a ser programados e é aí que reside o único defeito do disco. Onde "Psychocandy" é agreste e orgânico, "Darklands" é apenas cumpridor, característica que acabou também por passar para o seu sucessor, "Automatic".
"Automatic" é para muitos o patinho feio da discografia dos Mary Chain, mas se pensarmos bem é a sequência natural de "Darklands". Repetem-se na diferença. Estão lá de novo os 3 ou 4 acordes básicos, os "riffs" gordos, mas desta vez a estética volta a mudar: Rock directo, a roçar o FM - "Head On" comprova-o.
Novo hiato e em 1992 regressam com "Honey´s Dead", numa tentativa de exorcismo aos fantasmas da crítica que quase arrasou "Automatic".
"Honey`s Dead" é a primeira parte de uma tentativa de súmula da carreira da banda. É um disco semi-híbrido que tenta conciliar estilhaços punk ("Reverence") com canções delicadas ("Almost Gold").
Dois anos depois sai o último disco desta reedição e o penúltimo da banda: "Stoned and Dethroned". Dez anos depois de "Psychocandy", os Mary Chain fazem nova revolução sonora... maneirinha. Mais uma vez conseguem sair da encruzilhada e encontrar um caminho por desbravar na sua carreira. A história repete-se... em formato (quase) acústico, numa pradaria texana, com a as colaborações de Hope Sandoval (Mazzy Star) e Shane MacGoawn (The Pogues) e tudo faz sentido. 10 anos e a curva faz 180º.
"Munki" que não está incluído no lote da reedição, é a segunda teentativa de resumo de carreira. Denunciada em faixas como "Birthday" no recurso à batida de "Just like honey" (primeira faixa de "Psychocandy"). Este sim, é um verdadeiro híbrido. Está lá a recolha de alguns pedacinhos deixados por terra em cada um dos discos. Ouço "Psychocandy", "Stoned and Dethroned" ou "Automatic", naquilo que acaba por ser o seu pecado maior: a falta de coerência e consistência que os seus antecessores não revelavam.
Contudo, o canto do cisne não é disco desprezível e fica bem ao lado das reedições agora apresentadas.
Nesta perspectiva e caindo no facilitismo de classificar e engavetar tudo o que é produção musical, a crítica sempre tendeu a subvalorizar a discografia pós "Psychocandy", caindo no erro - no meu entender - de não perceber que a qualidade de um disco não se mede pela sua relação de proximidade com outro, mas sim pelos ingredientes que contém, de não perceber também que as circunstâncias da germinação de qualquer um dos discos seguintes foram substancialmente diferentes daquelas que elevaram "Psychocandy".
Obra essencial, "Psychocandy" é o cérerbro neurótico da sua carreira, "Darklands" e "Stoned and Dethroned" são o coração, "Automatic" é o estômago, "Honey´s Dead" e "Munki" são os membros.
Metaforizei, mas não engavetei. Façam o vosso juízo se escutarem cada um dos discos, mas desde já vos digo que não deverá ser nada fácil esquecer a falta dos pés ou das mãos...

sexta-feira, outubro 13, 2006

O "crooner" solitário



Uma terna noite de Inverno. “Cole`s Corner”, o mais recente de Richard Hawley sai voluptuosamente das colunas da aparelhagem em arranjos belos, doces e quentes.
Esqueço o frio Invernal e embrenho-me nas canções de Hawley. Sou transportado pela sua suave melancolia.

Deambulo pelas ruas de uma grande cidade. De repente ouço ao longe uma voz grave e delicada, acompanhada por acordes que saem de uma guitarra subtilmente acariciada. Persigo essa misteriosa elegia sonora. À medida que me vou aproximando vão surgindo novos sons, arranjos mais complexos. Ouço violinos e teclados harmoniosos. Agiganta-se a curiosidade
Entro numa viela pouco movimentada. O som grandiloquente que ouvira à pouco vai baixando de intensidade, e, ao virar a esquina para uma pacata avenida deparo-me com um senhor de meia idade, óculos de massa e uma guitarra a tira colo. Fico a contemplá-lo por uns instantes. O senhor volta a usar a sua voz grave, acompanhada pelos sublimes arranjos de há pouco. Arrepio-me.

“I´m going downtown where there`s people…”, canta ele ignorando a minha presença. Depois, “here in my arms”, sustendo a respiração, esperando a atenção de uma bonita rapariga que passa ao nosso lado. De simples mirone passo a espectador atento. Durante cerca de três quartos de hora sou embalado pelas suas melodias e vejo, enfim, que ele me olha e esboça um sorriso de apreço pela minha atenção. Sou o seu cúmplice, o companheiro de uma noite - entre muitas - passadas numa solene solidão.
Depois de esgotar o reportório, confessa-me que tem mais para me mostrar numa outra ocasião. Por agora pergunta-me apenas se quero ir com ele até à baixa sentir o ambiente, ver pessoas…

quinta-feira, outubro 12, 2006

De novo... O "nerd rock"

Quando penso no "nerd rock" lembro-me do carácter pueril da sua estética, musical, lírica e visual.
Musicalmente o "nerd rock" é a antítese da puberdade mental que nunca se perdeu. Digamos que é a capa rebelde que mascara os conflitos interiores de quem escreve letras sobre os amores frustrados da adolescência, sobre o gozo de que eram alvo por parte dos colegas na escola ou sobre os primeiros actos de rebeldia juvenil.
E o mito constrói-se. Três ou quatro acordes melosos, distorção q.b., ritmos gordos e preenchidos et voilá: a aparência rebelde.
O mito preenche, no entanto apenas o espectro sonoro/instrumental.
Tanto no aspecto lírico como no visual a máscara decompôm-se e os rapazes rebeldes voltam a ter 16 anos e a pele impregnada de acne. Nas letras aí estão os conflitos interiores e na aparência visual os grandes óculos de massa, as t-shirts e camisas colegiais desvirtuam a rebeldia musical emanente dos rapazes.
Quando se cresce demasiado, mas a tentação "nerd" permanece corre-se o sério risco de se cair na idiotice e na nulidade pretensiosa de achar que ainda exista quem acredite nas palavras secamente cantadas. Ouçam o último de Weezer e tirem as conclusões.
Não há pachorra para a inocência e a maquilhagem forçadas...
*Na foto: OZMA

quarta-feira, outubro 11, 2006

O elogio da circularidade




Quando era criança adorava carroceis. Particularmente aqueles carrinhos que andavam em círculo sobre dois pequenos carris. Por alguns minutos era um exímio condutor, uma criança com o sonho de poder viajar em círculos contínuos, como se a felicidade residisse nesses infímos cinco minutos. Triste ficava quando terminava a voltinha mágica. Tornava a replicar junto dos meus pais por mais uma moeda com direito a nova viagem.
"23 minutes in Brussels" dos Luna é essa pequena/grande viagem circular, mas ainda assim cheia de pequenos apontamentos deliciosos, prontos a serem descobertos em renovadas audições.
Metaforizando desta vez com um exemplo actual, diria que "23 minutes in Brussels" é aquela viagem que me dá sempre prazer fazer. É como percorrer todos os dias os 12 km que separam o Cartaxo de Valada sem me cansar, encontrando em cada viagem um novo pedacinho de terra fértil, uma nova ilha no meio do Tejo ou um touro que pasta pacatamente na imensidão da lezíria ribatejana.

"23 minutes..." tem uma base consistente, um ritmo circular... como a viagem no carrossel, como a viagem a Valada, mas ao longo dos cerca de 7 minutos de duração vai sendo polvilhada com condimentos que coloram o tema.
No início a base rítmica dá o mote. As guitarras entram fortes, mas o refrão é apaziguador e a verdadeira viagem mágica começa com o "solo" (palavra feia) de guitarra. Talvez um dos melhores momentos de guitarra que já ouvi até hoje. Tão válido para a versão original incluída em "Penthouse" de 1995, como para a versão ao vivo de 2001, a qual me habituei a ouvir ultimamente com maior frequência.
Dizia eu que esse momento de guitarra nada tem de virtuoso ou de tecnicamente esplendoroso, mas é de uma simplicidade, de uma pureza e de um recorte de bom gosto tão refinado que não me canso de o ouvir.
A versão ao vivo consegue captar apenas em registo sonoro toda a ambiência do espaço, o desenrolar da viagem, as curvas e contracurvas que me passam ao lado em circunstâncias normais, mas que aqui me seduzem.
O mais engraçado é que a viagem continua na mesma via. Ok.... quando chegar ao destino final vou voltar atrás e recomeçar de novo.
Talvez a lezíria se transfrome em savana...

Portalegre-Marvão-Albuquerque-Badajoz-Évora-Almendres-Cartaxo


Começamos o concerto sem saber o que nos espera. Alguns aplausos vigorosos quebram a irrisória monotonia do "levanta copo e emborca" tão cara a esta época de recepções por vezes a roçar o limite da estupidez. É, para alguns a compensação da baixa auto-estima em actos violentos e bárbaros... Já divago...
Os meus amigos - os 4/5 - estão um pouco desiludidos. Eu estou contente. Eles acabam por ficar também depois de algumas opiniões mais pragmáticas de quem vê, sente e ouve de fora.
Adoro este ritual de convívio: de jantar, de vestir, de conversar e gozar, e por fim de subir ao palco e transpirar as entranhas.
A imprevisibilidade é um dado adquirido. Os locais, as pessoas, as conversas, são elementos do ritual, da mística, da maior ou menor carga de sensações que guardo comigo; as memórias que não esqueço.
Não estou sózinho. Partilho, mas com a consciência da pessoalidade intrínseca de cada expressão, movimento, som ou ruído.
O complemento é uma viagem a um píncaro inconquistável com cerca de 700 metros de altura, com direito a visitar um castelinho de lacraus.
Um pequeno desvio para ouvir os estremadurenhos??? em Badajoz, uma visita fugaz ao património mundial alentejano e o pôr-do-sol no cromeleque dos almendres.
À chegada ficam saudades e memórias passadas... Bonitas essas...

terça-feira, outubro 03, 2006

"Charentais" à solta


Hora de abrir.

Imagino a "pole position" à entrada de Kermani. De seguida o tiro de partida e o início da corrida. Para alguns o consumo desregrado, para outros o desespero, a raiva, o ódio, o medo...
Eu... continuo sentado, olhando vagarosamente o pequeno espaço que me rodeia, impecavelmente arrumado.
É estranho escrever num pedaço de papel solto. Habituei-me ao meu "Charentais", à sua desorganização, às ideias e frases empilhadas, mas especialmente aos pedaços de mim que nele expus.
Habituo-me... que remédio. O "Charentais" ficou em casa e tu que me olhas de cima, hoje vais à solta até te firmar em pequenos parágrafos de uma máquina que não descansa.

..."Agora que eu já não estou aqui."

quinta-feira, setembro 21, 2006

A boa disposição ou como não ter vergonha de gostar de PSB




Acordei especialmente bem disposto.
Depois de "Uomo Tutto", "Fatalidad" e companhia agarrei no pequeno carrascão vermelho e procedi à limpeza dos despojos "Qwentinescos" perdidos nas rotundas da nossa pequena cidade.

Há 18 anos atrás ligava diariamente para a rádio Cartaxo e dizia a frase mágica que dava direito a ouvir um disco pedido. Quase sempre pedia "What have I done to deserve this" ou " It´s a sin" dos Pet Shop Boys. Eram os meus preferidos.

Como dizia, acordei bem disposto. Enquanto recolhia os esforçados cartazes passava no velhinho leitor de k7 do carrascão um tema dos Pet Shop Boys que me deixou ainda mais alegre. "Que bonita é a vida", pensei eu enquanto passeava alegremente com a viatura carregada de platex vazio (pelos vistos o Qwentin vai tendo alguns fans que gostam de guardar recordações da banda).
"I wouldn´t normally do this kind of thing" é uma daquelas canções dance-pop para escutar à beira-mar num final de tarde de Verão.
A festa prossegue no leitor de k7 e desta vez entram os Aztec Camera com "Walk out to Winter". Vivo o espírito do Natal em pleno Verão. Ausculte-se os teclados em registo médio/agudo para perceber que a canção está no Inverno, mas com um pé na Primavera. E continuo sorridente a caminho de casa.

O espírito crítico do ser humano leva-o (especialmente nos últimos anos) a avaliar tudo apenas sob dois parâmetros: o bom e o mau. O mesmo é dizer que deixou de existir o espaço para as entrelinhas, para a justificação da existência de um acto, de um acontecimento, de um produto, de um disco.
Durante largo tempo foram atribuídos os mais diversos epítetos depreciativos a bandas/projectos que fizeram sucesso no virar dos anos 70 para os 80. Casos flagrantes: ABBA, Bee Gees, Village People.
Depois, mais tarde com a avalanche de rock no início dos anos 90 foi a vez de atirar às urtigas os projectos "pseudo foleiros" nascidos nos meados de 80. Desta feita os "hereges" foram, entre outros: os Duran Duran, os Human League e os supra-citados Pet Shop Boys.
Ora se bem me parece, a vaga retro-revivalista dos "foleiros" anos do disco-sound voltou a estar na moda, e, mais bizarro ainda: caiu no goto dos críticos de música mais ferozes e mordazes. Madonna pilha os ABBA e é a maior diva da pop de sempre.
O passado já lá vai mas o paradoxo mantém-se. Enfim...

Voltemos à minha boa disposição e particularmente aos Pet Shop Boys.
Na minha meninice foram os meus heróis (confesso que tinha a colecção inteira de calendários de Chris Lowe e Neil Tennant). Entretanto descobri o rock com os Pixies em 93 e passei os restantes anos 90 a acompanhar a vaga "indie" através de programas excepcionais na Comercial e na extinta XFM, casos de "Margem de Certa Maneira" apresentado por Rui Vargas (hoje todos o conhecem do Lux), "O Grande Delta" e "A Hora do Lobo" ambos apresentados por António Sérgio.
O sucesso hiperbólico de "Very" e mais concretamente de "Go West" passou-me ao lado. O air-play do tema foi de tal forma exagerado que ainda hoje me causa arrepios ouvi-lo. No entanto, os Pet Shop Boys sempre tiveram um cantinho pequenino guardado no meu coração. Alego que foi o meu primeiro grande amor no que à música diz respeito.
Hoje em dia relativizo a qualidade de uma boa parte do seu trabalho. Contudo, souberam manter sempre uma coerência estética que lhes permitiu não descer abaixo do limite da razoabilidade musical. Esta minha aferição não é fruto de um profundo conhecimento de causa. Como disse, os Pet Shop Boys ficaram pelo caminho, mas pontualmente gosto de revisitá-los. Se tiver de falar em nomes de boa dance-pop descartável, assim como um rebuçado docinho, docinho, docinho, eles aparecem indiscutivelmente à cabeça. E se alguém vier com o argumento de que: "Ah e tal, eles são tão foleiros como a Shakira ou a Madonna", posso sempre contra-argumentar relembrando o teor (ainda que básico e facilmente assimilável) social de alguns dos seus temas. Caso de "Opportunities", um dos seus primeiros sucessos: "you`ve got the luck, I`ve got the brain, let´s make lots of money" ou mesmo o arrepiante "Go West" numa clara alusão à libertação comunista dos países de leste, bem como ao fascínio que suscitou nestes o modo de vida ocidental.
Não pretenderam revolucionar, mas foram introduzindo umas pitadinhas de actualidade político-social na sua música.
Hoje passam ao lado da imprensa e da crítica apesar de uma carreira musical e comercial consolidada.
Valham-nos as Shakiras, as Aguileras e a "mãe" Madonna.
Será que os Xutos têm razão? Estará o mundo mesmo ao contrário? Nada que me tire a boa disposição e me envergonhe de ouvir os "meus pequenos" passados 18 anos.

Para quem não for diabético e precisar de mais uma boa dose de rebuçados propensos a causar aftas auditivas, aconselho vivamente a audição dos Lightning Seeds: pop em estado puro a cheirar a Pet Shop Boys no eu melhor

terça-feira, setembro 12, 2006

A valsa dos MY MORNING JACKET - "Into the woods"

Um bosque denso... No norte da Europa: Noruega, Suécia, Dinamarca. Talvez Finlândia, que, segundo me confidenciou Gospodar, é o país mais dissonante do conjunto nórdico.
Nesse bosque finlandês vejo um par a dançar um ritmo tripartido, comummente designado de valsa.
A profundidade do plano deixa perceptíveis todos os movimentos do jovem casal a uma distância focal considerável.
O crescer de intensidade trá-los para primeiro plano. Os movimentos são leves e serenos e a melodia é de uma beleza intensa.
Quem me concederia esta dança no passado dia 4?

Reencontro

Olá!
Que bom voltar a encontrar-te. Estou farto desta solidão agitada. Encontrar-te, dizia, voltou a fazer sentido.
Se calhar na minha insegura capacidade de resolver os mistérios da razão e da emoção nunca deixou de fazer sentido. Todos os momentos, todos os actos têm um sentido próprio. Aquele que lhe quisermos dar...
Há coisas que a razão não entende, mas que nem por isso deixam de ter explicação. Por vezes, levam-se anos a encontrar a explicação de um simples pulsar. Às vezes uma vida inteira.
Com frequência me apercebo de que não procuramos um sentido imediato nas decisões e nos actos que tomamos. Às vezes fingimos e tentamos não pensar. É mais fácil agir do que pensar.
Como vês começo a desprender-me facilmente do sentido primeiro desta carta; a verdadeira essência da sua existência, o nosso reencontro, a percepção de que a fugacidade de um momento não matou os sentimentos.
Um dia... quando voltares, talvez possamos voltar a encontrar-nos de novo... Talvez...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Baranhices



Barany usa:

Bateria Premier Zoie endorsada por produtos Kermani
Pratos Sábios DT (série Detroit):
Pratos de Choque DT 50
Ride DT 125
Crash DTRock 50
Crash NSR 125

Encosta ociosa

Cheguei sozinho sem me importar.
Foi o penúltimo recanto visitado da minha viagem veraneante.
Não posso dizer que tenha sido uma visita proveitosa, mas ainda assim tive o privilégio de conhecer a casa do clérigo da aldeia. Lar humilde e tristemente abandonado.
Reina a alegria e a boa disposição na terra dos "Sh". Uma pequena jóia perdida ao lado do cimento e alcatrão que foram apanágio da governação e do desenvolvimento propalado pelos nossos tristes mandantes.
Pena não ter subido os 650 metros e observado as encostas e as colinas que guardam segredos tão bonitos como aquele onde estive.
Talvez prá próxima...

segunda-feira, agosto 28, 2006

VENDO DT EM 2ª MÃO (MONTADA POUCAS VEZES; COISA QUE NÃO POSSO DIZER DE CERTOS TIPOS)



Tenho uma DT parada há uns anos aqui no meu quintal. Já queria ter posto aqui este anúncio há mais tempo, mas só agora tive a ajuda do meu compadre pra conseguir escrever esta traquitana sem erros ortográficos (é que eu escrevo como falo). A DT tá novinha em folha e só foi montada duas ou três vezes por um cú não sagrado. Comprovem na fotografia.

Contacto: MACACO BRANCO - 931 234 567

"EXTRACTOS" DE BARANY


Barany propõe o roubo da vossa identidade por algumas fracções de segundo. Não fiquem intimidados. Será um roubo consentido no qual serão geradas imagens através de um programa - facto este que não as transforma em imagens necessariamente programadas.
Como disse: apenas algumas fracções de segundo e podeis voltar a contemplar o meu mestre, o nosso mestre... Quem sabe!?... o vosso mestre!?...

terça-feira, agosto 22, 2006

A FRASE

Escrevi uma frase. Uma daquelas frases que nunca devem ser escritas.
A sua essência era pura, mas a razão da sua existência era nula. As letras permaneceram visíveis... algum tempo.
Certo dia apercebi-me que essa frase pura, escrita num caderno aberto em frente aos meus olhos, deixara de fazer sentido. Tinha de apagá-la.
Lentamente peguei na borracha e apaguei letra a letra cada uma das palavras. A frase desaparecia lenta e harmoniosamente.
Sentimos a cumplicidade dos primeiros tempos.
Preparava-me para fechar o caderno quando de repente, como um raio fulminante o caderno aberto vê acercar-se dele uma nova frase proibida. Olhei as minhas mãos, agora inocentes.
A frase grotesca tinha um ponto final.

sexta-feira, agosto 18, 2006

QWENTIN - O Contador de Histórias no Centro Cultural do Cartaxo

O contador de histórias está de regresso. No mesmo local sensivelmente à mesma hora e 147 dias depois da primeira aparição.
Adensa-se o mistério: que histórias terá Qwentin para nos contar desta vez, que universos mágicos nos irá apresentar?
A versatilidade de Qwentin permite-lhe não só fazer uso da palavra nas mais diversas línguas, mas também contar as mesmas histórias de diferentes formas, dando-lhes novas roupagens, novos segredos.
Surgirá na penumbra ou aparecerá de rompante como um sobressalto depois do acordar de um pesadelo?
Dia 9 de Setembro Qwentin poderá responder a estas e outras questões.

De Nova Iorque para rebentar com Paredes de Coura

Poderoso, pitoresco e enérgico são alguns dos adjectivos que podem bem caracterizar a actuação dos Fischerspooner em Paredes de Coura.


O calmo e relaxante “the 15th” abriu as hostes dum concerto “Electro Rock”, recheado de graves robustos, guitarras flutuantes e sons hipnóticos, sempre acompanhados por uma bateria “trigada” até aos dentes.

Alternando entre temas dos álbuns #1 e “Odyssey” as música que acabaram por surpreender Paredes de Coura foram os singles “Sweetness” e “Megacolon” pelas suas melodias entusiásticas e poderosas.

Além do espectáculo sonoro poderoso, Warren Fischer e Casey Spooner, em conjunto com três músicos convidados e duas bailarinas desvairadas, ofereceram ao público presente um espectáculo performativo que reuniu disciplinas como o teatro a dança.

Para o “Grand Finale” ficou reservado “Emerge”, o primeiro sucesso da banda, anteriormente abortado em pleno pico da faixa, segundo Warren Fischer porque “estavam fartos”. Ninguém percebeu bem porque, de qualquer maneira terminaram o concerto em beleza, com o hino do “electroclash”.
Se o público delirou com os graves astronómicos da banda, os Fischerspooner fascinaram-se com a energia fantástica do público português.

Única nota negativa para a atitude de Warren Fischer ao puxar pelo público de forma excessiva e arrogante: “Come on motherfuckers, dance motherfuckers!”.

Ainda assim valeu a pena percorrer os cerca de 370 km até Paredes de Coura e ver meio concerto debaixo de chuva.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Bloguista Convicto

O blog aí está...
Há um ano salvo erro.
Sou apologista de que as opiniões, as emoções, as parvoíces que nos consomem devem ser exprimidas da forma que cada um achar mais conveniente.
O ponto de partida do "Rebuçados" foi a construção de um espaço de partilha sobre temas ligados à música, ao cinema e às artes em geral. Continua a sê-lo, mas extravasou esse princípio para se transformar num encontro de ideias, personalidades, e, como referi acima, também de emoções e sentimentos.
Critérios? Não existem... Discorram sobre tudo o que vos apetecer. Escrevam, divaguem, mostrem e aproveitem ideias, discutam, divulguem. Digam bem e digam mal. Deixem marca se vos apetecer. Se não vos apetecer deixem na mesma e indignem-se.
Olha Paredes a decorrer e eu aqui sentado numa salinha a saltitar de linha em linha...

Monos e Marbelos

Sou contra a discriminação dos Monos. Especialmente contra a discriminação dos monos cinzentos.
Aqui há dias li numa revista que uma das coisas que mais irrita os portugueses são os monos cinzentos. A razão falaciosa: não se sujam com tanta facilidade. Convenhamos que a sujidade não é tão perpectível a olho nú como nos restantes monos.
Ai se os monos fossem pessoas...
Uma das coisas que mais me irrita, são tipos que escrevem artigos sobre as 50 coisas que mais irrita os portugueses.
Fiquem com:

NADA IRRITANTE E BASTANTE ENGRAÇADO (DIGO EU)

quarta-feira, agosto 16, 2006

Teenage Fanclub - "Scotland on Sunday": "Please Stay"


"Oh please stay, make this moment last forever..."
As notas saem pacatamente do baixo de Gerrard Love. Acompanham a melodia das guitarras de Blake e McGinley, mas nele sente-se o pulsar doce de quem compôs o tema.
A canção fala de estabilidade, mas o seu âmago é viajeiro, como se estivesse embalada num Fiat 600 que não ultrapassa os 80 km/h.
Que bom existirem canções assim, que não desejam protagonismo, mas apenas saudar delicadamente os ouvidos dos amantes da pop.
Com os Belle and Sebastian, os Teenage Fanclub são os represantes maiores da música pop escocesa e, segundo algumas publicações uma das melhores bandas de sempre.
Acho que sei a resposta: são simples, simpáticos, inocentes. Fazem canções literalmente bonitas, com pingos de melancolia agri-doce e são um dos segredos mais bem guardados da música pop.
Com eles os bons momentos duram realmente mais tempo...

terça-feira, agosto 15, 2006

Laurêncio do Ribatejo




Laurêncio é um jovem ribatejano habituado a travar batalhas difíceis.
Ainda ontem o jovem Laurêncio teve de deter o ímpeto violento de um enxame de vespas, enquanto "mangueirava" as máquinas do ar condicionado de uma pequena cidade africana. No entanto, Laurêncio não se deixou bater e levou de vencidos os intrépidos insectos. Esguicho cá, esguicho lá, acabou por ter de se afastar um pouco para não ser surpreendido por uma picada marota.
O trabalho de Laurêncio não é rotineiro, apesar do seu raio de acção se cinscunscrever à zona alta de Kermani. Ora de mangueira, chave ou martelo na mão, Laurêncio não se deixa vencer pelas adversidades do trabalho. Assim foi quando hoje ao voltar à colina da cidade se deparou com a reconstrução do forte dos vespuns.

Preparação para novo ataque aos vespuns

Com a tenacidade que todos lhe conhecem, o rapaz logo tratou de preparar novo ataque sem tréguas. Mas hoje Laurêncio estava mais sensível e a guerra preparada transformou-se em tratado de paz. Deixou os insectos a descansar e provou que além de ser um mercenário implacável é também um jovem com coração de manteiga.

Em comunicação permanente com a base

quinta-feira, agosto 10, 2006

O Deus Lazycame

Solta-se um ruído, um gemido em forma de nota... musical. Abre-se a melodia anarquicamente em acordes simples e melancólicos.
Lazycame estaria muito provavelmente no Drugstore e também muito provavelmente sob o efeito de substâncias alteradoras do SNC. Não interessa. O devaneio começa e arrebata-me com "God". O resto nem por isso. "God" sim, leva-me por aí...
A voz dilacerante, suave, quente, arrastada é a metáfora do "slow motion" cinematográfico".
Revejo o meu amigo Ricardo, sentado numa bicicleta com o pedalar falseado a dirigir-se para o fora de campo...
Bonita noite de Inverno...
A melodia continua e mil e uma coisas podem acontecer enquanto a partitura espontânea de Lazycame tem lugar. Choro, rio, brinco, amo e desamo.
Na simplicidade dos pequenos momentos aparece a grandiosidade dos gestos e dos actos. Mas arrastada. Sempre...
E é por me deixar entranhar por essas notas, acordes, sons, ruídos, que construo castelos de areia em orlas costeiras imaginárias, bebo um vinho branco à beira-tejo, ou pura e simplesmente me lembro do meu amigo Ricardo a pedalar numa bonita noite de Inverno...

"Pinkerton" - o regresso dos nerds... rebeldes



Ao segundo disco os Weezer mudaram. Melhor, Rivers Cuomo mudou, ou pelo menos, aparentemente, revoltou-se contra o inesperado sucesso do primeiro disco (ele que até queria ser uma estrela de rock).
"Pinkerton" começou por ser um disco polémico logo no título. Pinkerton é o nome de uma agência de detectives Norte-Americana, e, por esse facto a empresa abriu um processo judicial contra a banda alegando violação de direitos de autor. Tudo ficou resolvido quando Cuomo explicou que o nome foi inspirado na ópera "Madame Butterfly". Meandros extra-música sobre os quais não estou devidamente informado.
Depois do sucesso de "Blue Album", os Weezer quiseram desmistificar a imagem de meninice ingénua que os marcou a partir de então.
"Pinkerton" apresenta-nos os mesmos quatro rapazes num tom aparentemente mais rebelde. A produção rude do disco encobre as melodias cantaroláveis de "No other one" ou "Why Bother". Essa crueza, enquanto opção estética, como se o disco tivesse sido gravado num ensaio, nasce da dúbia vontade de abrir um novo rumo musical, passando nas encruzilhadas abertas pelo disco anterior (um publicitário diria: inovação na tradição).
Os golpes de génio acontecem assim: dissimuladamente premeditados. "Pinkerton" é um desses casos.
Abre raivoso com "Tired of Sex". Houve quem escrevesse que este tema era uma tentativa frustrada de canção; um esboço de canção. Pelo contrário, penso que "Tired of Sex" é deliberademente uma tentativa de não canção que o acaba por ser. No jogo da imprevisibilidade os Weezer ganham logo na linha de partida.
Seguem-se os fenomenais "Getchoo" (get you?) num piscar de olho a "Blue Album", "No other one" e "Why bother?". Mais uma vez o fascínio da imprevisibilidade com os ritmos, os breaks viscerais e anormais da bateria de Patrick Wlison a roçar o génio da difícil simplicidade.
O single "El Scorcho" e "The Good Life" encontra-os de novo bem dispostos mas sempre crus e não boçais.
O ritmo amaina até chegarmos a "Butterfly", a balada acústica que encerra o disco. Aí sim, percebemos que Pinkerton é o esvair de emoções de Rivers Cuomo, é o grito do leão rebelde que, depois de caçar a presa e saciado dá o último suspiro. Calmamente, como se os problemas de há dois minutos nunca tivessem existido.

O disco foi um falhanço comercial, mas uma preciosidade para a história do rock dos anos 90.

Depois de "Pinkerton" ouçam os The Rentals e os Ozma. Uns e outros com discos francamente superiores aos discos dos Weezer editados posteriormente a "Pinkerton".

www.weezer.com

www.therentals.com

quarta-feira, agosto 09, 2006

VIAGEM




A viagem fez-se sem problemas. Nada foi previamente definido. Daí a beleza de cada momento: o crepitar das pedrinhas sob os pneus do carro, o olhar contemplativo sobre a ponte que atravessa o rio "Turvini", a facilidade em construir a casa.
Depois a carne, os movimentos de excitação e prazer, como se o amanhecer ainda não tivesse chegado.
O "day two" levou-nos a inóspitas mas belas paragens. Crus e desnudados. Secura selvagem. Fomos habitando suavemente cada pedacinho de alcatrão, terra, rocha e vegetação. Entranhá-mo-nos, deixá-mo-nos levar.
Falam-se outras línguas por cá, mas não nos deixámos enganar. Esta terra é nossa. Pronto... é nossa e deles. De todos. As ruelas, as quelhas levam-nos a visitar pequenos recantos, mimosos, e sem me encantar embrenho-me neles.
A miscisgenação aconteceu em tudo.
Preciso de uma informação. "Obrigado" e despeço-me. A simpatia vence a burocracia. Sinto-me bem.
O regresso doloroso, sem dor fez-se de boa disposição e retina desalinhada.
O alcatrão voou de mansinho.


Chegámos. Nada de novo. Tudo de bom.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Kermani



Kermani, 03 de Agosto de dois mil e qualquer coisa


Olá!!


As naves espaciais não param de aterrar nesta cidadezinha africana. Na verdade de africana tem muito pouco. Apenas um afro-descendente wortiniano, um ou outro rabito mais proeminente e algumas frutas e especiarias.
Ontem pintei um dos pequenos nichos da cidade: "Pedimos desculpa pelo incómodo..."
Kermani está, ora em "slow motion", ora em constante ebulição. Visita-se em poucos minutos e não tem grandes atractivos.
O maior defeito de Kermani é o efeito "espremedor" que provoca a quem a visita. No entanto esse facto permite-lhe a auto-suficiência e o crescimento.
Os habitantes têm diversos tipos de personalidades. Essa diversidade é muito maior quando comparada à escala com cidades como Lisboa, Coimbra ou Porto.



Não existem loucos, o que é uma pena. Existem sim tentativas transviadas de loucura, o que, não sendo lamentável, revela uma frustração típica dos indiferentes.
Essa característica marca mesmo a maioria dos kermanicenses. Esperam que o céu lhes seja benevolente, permanecem e não questionam.
Depois existem os turistas com estatuto de cidadania kermani. É o meu caso- ou talvez não.
À noite a cidade fecha as portas e os seus habitantes saem. Alguns deambulam por aí, outros fecham-se em cubículos semi-habitáveis semeados nas cidades circundantes.

Durante o dia os cheiros cruzam-se nas pequenas vias da cidadela.
O clima é bastente atípico para uma localidade africana: varia entre os -22º e os 40º. As temperaturas mais baixas têm pouca variação e acontecem apenas em locais específicos: os mais recônditos e menos fascinantes.
Kermani guarda segredos que, embora não sendo fascinantes, são pelo menos interessantes. Esses estão longe dos olhos do turista preguiçoso e muito menos do turista fugaz. Apenas os habitantes ou membros com estatuto de cidadania podem aceder a esses pequenos e deliciosos recantos.
Sou um privilegiado por poder sujar-me na infra-estrutura que suporta Kermani. Não que seja óptimo. Tem piada... Apenas isso.

Viva África, Viva Kermani.


Adeus

terça-feira, agosto 01, 2006

PÓS DE GRUNGE OU O APARECIMENTO DO "NERD ROCK"?


Em 1994 o meio musical norte-americano vivia a ressaca "pós-grunge".
O movimento "grunge", enquanto fenómeno criado pela imprensa musical para designar o som sujo e cru de algumas bandas emergentes no início dos anos 90, conhece grande fulgor durante cerca de três anos: entre 1991 e 1994.
Kurt Cobain suicida-se a 7 de Abril de 1994 e houve quem declarasse que com ele levou todo o espírito do movimento.

Com o lançamento de Vitalogy os Pearl Jam distanciam-se dos dois albuns anteriores: "Versus" e "Ten" e assumem definitivamente que pretendem construir uma carreira sólida, não refreada pelo sucesso desses dois primeiros discos.

Os Stone Temple Pilots tentavam demarcar-se do movimento e das constantes comparações com a banda de Eddie Vedder.

Os Soundgarden dão o seu último suspiro dois anos mais tarde com "Down on the Upside".

O legado grunge é deixado a bandas pré-fabricadas. Os Creed são o exemplo maior, mas os 3 Doors Down também lá estão.

A indústria musical precisa de nova injecção. Todos anseiam por novos ídolos, por novos hinos. Torna-se premente a urgência de um “Smells like Teen Spirit” para os meados de 90.
O hino não voltou a aparecer, mas o fenómeno sim. Chamaram-lhe "nu-metal" e teve à cabeça os Korn, os Limp Biskit e os Deftones.

Mas recuemos a 1994.
Sol, Califórnia. Quatro amigos lançam o disco de estreia depois de terem começado a tocar em 1992 impelidos pelo espírito grunge e pelo rock dos 80. Os quatro amigos chamam-se Weezer e o disco é homónimo mas ficou conhecido na história do rock como “Blue Álbum” (a capa apresenta os quatro amigos sobre um fundo azul).
Rivers Cuomo é o frontman e principal compositor. Matt Sharp é o excêntrico baixista.
Rivers é um jovem socialmente rejeitado. Baixote, atarracado e com um ar muito pouco “groovy”, Rivers era o estereotipo do “nerd” americano. Com óculos de massa gigantes, tímido e constantemente gozado pelos colegas de escola, Rivers só tem uma opção para revirar o seu amaldiçoado “status” social: comprar uma guitarra, formar uma banda e compor canções simples, sarcásticas, e denunciadoras de uma personalidade frágil e introvertida.
“Blue Álbum” é o álbum charneira daqueles que, órfãos de sangue novo depois do "hype" "grunge" procuraram rumos alternativos aos clichés do "pós-grunge" e do "nu-metal". É também um disco peculiar, porque tendo sido editado numa altura tão ávida de novidades e de frescura, imiscuiu-se de várias influências para originar um “bolo” coeso, simples e original. Se lá estão os Nirvana também lá encontramos os Pixies, os Beach Boys ou até os Kiss e os Cars – Rick Ocasek, mentor destes últimos foi o produtor do disco.
“I play my stupid songs, I write this stupid words, and I love everyone”, canta Rivers com a inocência imberbe de quem vê um sonho realizado. O sonho é ser uma estrela de rock, é vingar-se dos traumas da juventude com sarcasmo: “If you want to destroy my sweater pull this thread as I walk away”, no melhor tema do disco – "Undone–The Sweater Song".
"Buddy Holly" transforma o ouvinte num teenager à procura do primeiro beijo no baile de finalistas do 12º ano (reportemo-nos à realidade portuguesa).
"Surf Wax America" transporta-nos para onde quisermos numa onda gigante: “You´ll take your car, I´ll take my board…”.
"Say ain`t So" balança ao ritmo de um passeio pelos grandes passeios de uma avenida marginal de Los Angeles. A influência chegou aos Deftones que fez uma cover deste tema, como também de "El Scorcho", tema editado no album seguinte, "Pinkerton".

Rivers, o mundo mudou mas não te deixou para trás. Para o bem e para o mal.



Weezer – The Blue Album (1994)

Rivers Cuomo
– Voz e Guitarra
Brian Bell – Guitarra e Voz
Matt Sharp – Baixo e Voz
Patrick Wilson – Bateria
Rick Ocasek – Produção

domingo, julho 30, 2006

Jerónimo e Belmiro contra os Aranhiços Marcianos



De vez em quando sou surpreendido pelas coisas mais (in)vulgares da rotina diária.
Quando entro numa superfície comercial, de imediato os meus olhos são assaltados pelos cartazes gigantes que anunciam as maiores e melhores promoções de sempre. O apelo ao consumo é imediato: ele é a luz direccionada para os belos kiwis portugueses, ou ele é o bife de alcatra que brilha na vitrina da charcutaria. Somos convidados a entrar no fabuloso mundo do consumo... volto a repetir: consumo (lá diziam os Repórter Estrábico).
Depois dos olhos ouvem os ouvidos. A música lamecha do Bryan Adams sempre pode ajudar a vender mais um livrinho da Margarida Rebelo Pinto, o James Brown faz sentir-nos numa ilha tropical cheia de coisas "boas e baratas", ou quiçá levar-nos-á ao cantinho do vestuário de forma a podermos substituir a velha indumentária por algo mais "cool". Objectivo: sentir-mo-nos bem. É essa a missão do velho James Brown.
De repente salta um David Bowie das colunas do "aglomerado comercial" e naturalmente passo a ser um ouvinte atento, tentando perceber se os tímpanos não estão a enviar impulsos nervosos enganosos ao cérebro. Não... é mesmo o Bowie de 72... melhor, o Ziggy Stardust. Fico a pensar um pouco. "Mas que raio faz o Ziggy aqui?".
O camaleão Bowie, ícone de uma geração bamboleante, com ganas de revolucionar, de agarrar nos anos sessenta e torná-los realmente irreverentes, é a personificação dessa geração, também em crise de identidade, nascida e criada numa sociedade em constantes convulsões (Maio de 68, a guerra do Vietname e a banalização do "Peace and Love" da geração hippie de finais de sessenta).
Ziggy Stardust, o esquizofrénico alter-ego de Bowie não foi propriamente um fenómeno anti-sistema, mas antes uma válvula de escape para os não-alinhados, para aqueles que buscavam a alienação de um mundo que permanentemente os desiludia. Seria Bowie um alienado que se refugiou na identidade de um esquizofrénico Ziggy? Ziggy não era deste mundo, Bowie era e continua a ser.
Vejamos então: o que vou eu consumir quando ouço Ziggy Stardust and the Spiders from Mars? Uma t-shirt, shampoo, tapetes? Nada? Bem, talvez um livro de ficção científica... Não... Ziggy não me impele a consumir nada, apenas a deixar-me levar para outro lugar.

A sociedade de consumo em que vivemos é capaz de subverter a lógica original de um "produto" marginal, alternativo, para tirar dividendos em seu proveito.
Os politizados Clash passavam há pouco nas colunas da mesma superfície comercial. Tão poucos como eles se insurgiram contra o sistema injusto do capitalismo. Agora as suas canções são produtos de marketing. Tal como Che Guevara.
O sarcástico e melodioso Morrisey também está cá metido. O que se passará?
Tento pensar racionalmente. Não creio que seja apenas a lógica do marginal-radical sinónimo de arrojo e irreverência a construir esta espécie de paradoxo. Penso nas estratégias de marketing promovidas pelos grupos económicos detentores das cadeias de distribuição, melhor, penso nas pessoas que comandam essas operações. Provavelmente rebeldes com e sem causa durante a adolescência, transformados em modernos Yuppies aos trinta e aos quarenta anos.

A formatação musical insuflada nos hipermercados diáriamente repetida até à exaustão é imposta por uma direcção de marketing empenhada em agradar o mais comum dos consumidores, mas também aqueles que como eles sentem uma espécie de vazio que os remete para um saudosismo, que, à falta de melhor é colmatado por uma selecção musical eclética mas pouco criteriosa do ponto de vista da homegeneidade estética própria de um local comercial.
Importar-se-ão Bowie e Morrisey. Provavelmente nem terão tempo para pensar nisso, num sistema que vive a dez mil à hora e em que o dinheiro comanda todos os sectores da vida activa.
Coincidência ou não, acabo de escrever esta opinião com uma caneta do Bloco de Esquerda que tem inscrito o seguinte: “Vota Anita”.
O Barco é o mesmo as soluções pouco ou nada diferem.


Desalinhados que alinham de vez em quando ou vice-versa:

Pixies – Something Against You vs. Here comes your man

Pearl Jam – Do the Evolution vs. Daughter

Weezer – Tired of Sex vs. Buddy Holly

Killing Joke – Asteroid vs. Love like Blood

Clash – London`s Burning – The Magnificent Seven

ETC, ETC, ETC, ETC