sexta-feira, outubro 13, 2006

O "crooner" solitário



Uma terna noite de Inverno. “Cole`s Corner”, o mais recente de Richard Hawley sai voluptuosamente das colunas da aparelhagem em arranjos belos, doces e quentes.
Esqueço o frio Invernal e embrenho-me nas canções de Hawley. Sou transportado pela sua suave melancolia.

Deambulo pelas ruas de uma grande cidade. De repente ouço ao longe uma voz grave e delicada, acompanhada por acordes que saem de uma guitarra subtilmente acariciada. Persigo essa misteriosa elegia sonora. À medida que me vou aproximando vão surgindo novos sons, arranjos mais complexos. Ouço violinos e teclados harmoniosos. Agiganta-se a curiosidade
Entro numa viela pouco movimentada. O som grandiloquente que ouvira à pouco vai baixando de intensidade, e, ao virar a esquina para uma pacata avenida deparo-me com um senhor de meia idade, óculos de massa e uma guitarra a tira colo. Fico a contemplá-lo por uns instantes. O senhor volta a usar a sua voz grave, acompanhada pelos sublimes arranjos de há pouco. Arrepio-me.

“I´m going downtown where there`s people…”, canta ele ignorando a minha presença. Depois, “here in my arms”, sustendo a respiração, esperando a atenção de uma bonita rapariga que passa ao nosso lado. De simples mirone passo a espectador atento. Durante cerca de três quartos de hora sou embalado pelas suas melodias e vejo, enfim, que ele me olha e esboça um sorriso de apreço pela minha atenção. Sou o seu cúmplice, o companheiro de uma noite - entre muitas - passadas numa solene solidão.
Depois de esgotar o reportório, confessa-me que tem mais para me mostrar numa outra ocasião. Por agora pergunta-me apenas se quero ir com ele até à baixa sentir o ambiente, ver pessoas…

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