sábado, setembro 17, 2011

"THE ROBBER" - PONTO DE FUGA


Esperava de “O Assaltante”, - o filme do alemão Benjamin Heisenberg, apresentado no IndieLisboa 2010, - a mediania apavorante que assola a maior parte da produção cinematográfica actual. Na verdade os tiques perniciosos de Hollywood também já vão passando para as produções europeias e asiáticas (e sim, refiro-me também às de cariz dito independente) – excluo o fenómeno Bollywood por razões culturais e sociológicas específicas que praticamente desconheço.
No entanto, “O Assaltante” está nos antípodas do que poderia ser esta mesma história contada por “Hollywood”.
Baseado em factos reais, o filme conta a história de um ex-presidiário com duas paixões distintas, mas complementares naquilo a que poderemos chamar como dinâmica narrativa do filme: atletismo e cleptomania (na versão bank robbery) – e/ou vice-versa. A corrida em primeiro lugar como atributo de liberdade, mas também como força de bloqueio a essa mesma liberdade. A curiosidade maior reside no facto de que, para Johann Rettenberger (o protagonista), o caminho para a liberdade desagua no desafio da fuga, no instinto primitivo de sobrevivência per si. A ambiguidade nasce da relação de interdependência entre as suas duas paixões (aparentemente) antagónicas.
No início, Rettenberger corre em círculos no pátio da prisão onde cumpre pena por assalto à mão armada. É nesse movimento circular infinito que tomamos conhecimento da sua vida em 90 minutos, sem artifícios, sem jogos de cintura, carros e edifícios a explodir ou efeitos especiais em catadupa. O filme é dele, da sua rotina, da sua espiral. A diferença entre Rettenberger e os funcionários dos bancos que este assalta reside apenas na relação básica de oposição entre ele próprio, que rouba e os outros, que são roubados, mas também no facto de que apenas o primeiro busca algo mais que essa redoma onde parece condenado a correr eternamente. No demais todos são idênticos na prisão da rotina que os endurece e que é também complemento narrativo, frio, formal, mas dinâmico e até romântico.
O que é assustadoramente bem conseguido no filme é o esbater de uma diferença aparentemente abismal entre aquilo que consideramos ser social e moralmente o bem e o mal.
Heisenberg é exímio na forma fria, cerebral e calculista de contar a história simples de um homem que luta como animal feroz em defesa da sua causa, provavelmente consciente de que o destino que lhe está traçado é bem diferente das corridas que vai ganhando e das metas que vai cortando. Poderei exagerar ao dizer que a grande vitória de Rettenberger acontece na sequência final; a fuga interminável que finalmente lhe dá a liberdade que almeja.
“O Assaltante” é mais do que um filme baseado em factos reais. É uma maratona em espiral e em tempo real que transpira suor por todos os poros.
Num farol, depois de subirmos a escada em caracol ficamos “perto” do céu, entre terra e mar. O mesmo acontece com Rettemberger depois de terminada a sua corrida. Talvez seja aí que termina a fuga e começa a liberdade.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Refugeee



Vagas sem Som
Torrente Vazia
Inerte,
Território.
Escuras Memórias
Ingrato Pesadelo

quarta-feira, setembro 07, 2011

Polpa (En)Coura(çada)


Existem momentos atemporais. Fragmentos, pedaços de vida que vagueiam pelo cosmos, escondidos.

Em 1994 os Pulp lançaram His n’ Hers, quarto capítulo de uma história apagada durante os anos 80. Em plena euforia do brit-pop e longe das querelas entre Oasis e Blur, que os meios de comunicação fizeram questão de empolar, os Pulp (e especialmente Jarvis Cocker) viram finalmente chegar a centelha do sucesso com temas como Babies, Razzmatazz ou Do You Remember the First Time, eivadas de trivialidades e sarcasmo nas letras de Jarvis. Puberdade, adolescência ou se preferirem, coming of age, se de um filme se tratasse. Existem também vidas comuns, banais, histórias aguçadas, adocicadas pelas palavras do crooner.

A história repetiu-se com distinção nos capítulos seguintes, ainda que com a introdução lírica de novas referências sociais. Different Class, This is Hardcore e We Love Life (o suposto canto do cisne) demonstraram que os Pulp não queriam facilitar e, talvez por isso, decidiram abrandar e estacionar por tempo indeterminado. Jarvis ainda se empolgou e lançou dois discos em nome próprio.

Em 2010 o anúncio de uma reunião. A surpresa deu lugar à previsibilidade e, ao olharmos para trás, percebemos que a última década foi profícua em desavenças e benquerenças similares, quase sempre debaixo do manto do cifrão. Vide Jane’s Addiction, Pixies, Smashing Pumpkins ou Jesus and Mary Chain.

Os Pulp de Paredes de Coura não me desiludiram mas estiveram longe de me surpreender. O que mais me desapontou no concerto dos Pulp em Coura não foi tanto o alinhamento escolhido – com uma quantidade aprazível de temas de His n’ Hers - ou a prestação (competente) do grupo, mas sim a percepção de que todo o concerto foi um esboço de metade de uma carreira, cuidado atempadamente com o objectivo muito simples de apenas agradar e não surpreender o público que assistiu ao seu espectáculo.

A garra de Jarvis mantém-se, o grupo mostrou-se coeso, o som passou de sofrível ao início até ao aceitável no final, mas o best of que nos apresentaram não me convenceu. Cerebrais e racionais são adjectivos que cabem no dicionário dos Pulp versão 2010/2011. E a verdade é que esta colheita dos Pulp é uma espécie de condutor passivo, que prefere conduzir a 90 km/h numa auto-estrada, mesmo sabendo que pode acelerar até aos 120 km/h, preferindo não fazê-lo, temendo que ao arriscar possa chegar aos 125 km/h e com isso apanhar uma pesada multa.

Admito com humildade: é difícil desfazer o mito de um adolescente de 16 anos. Ainda não foi desta, mas da próxima vez quero ouvir Help the Aged, Bob Lind, the Trees, Weeds, the Fear, Have you seen her lately e My Lighthouse.

Alinhamento de Paredes de Coura:

1. Do You Remember the First Time?

2. Pink Glove

3. O.U. (Gone, Gone)

4. Razzmatazz

5. Acrylic Afternoons

6. Pencil Skirt

7. Something Changed

8. Disco 2000

9. Sorted For E's & Wizz

10. F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E.

11. Babies

12. Mis-Shapes

13. This Is Hardcore

14. Sunrise

15. Bar Italia

16. Common People