quinta-feira, janeiro 31, 2008

Alteza Épica


Os alternativos também têm épicos. E que bem que fica a finalizar um disco injustamente desprezado. Foi cartão de visita da Hora do Lobo de António Sérgio no início da década, quando a música era ainda o bálsamo dos devotos...

"Gene Clark"

When the circle finally formed you called me up
the only one making a sound
I can't work out what I want to see
I bury my thoughts in the ground
All the seeds you sow
are just looking for a space to grow

So sleep, sleep and lay your white body down
So sleep, sleep and lay your white body down

No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday
No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday
No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Delícias de Maio



Maio é o "MÊS". Maio é a compilação daquilo que deveria ser um ano "à maneira". Tempo ameno, dias longos, passeatas campestres, audições resguardadas... Se pudesse trazer um mês no bolso seria Maio.
Este ano, ainda a quatro meses de distância do dito, há já duas surpresas a espreitar: o Gaspar irá nascer na ronda de 23. A ansiedade aumenta.
Noutro território os Animal Collective regressam a Portugal para duas actuações: 28 no Teathro Circo em Braga e 29 no Lux em Lisboa. Na manga virá Strawberry Jam, o disco que os fez entrar definitivamente no filão da pop da melhor estirpe da última década. Espero ainda melhor que em Coimbra há quase três anos (isto se o Gaspar me deixar ir ver).
Boa nova (não necessariamente de Maio): ...do Guru! continua empenhado no projecto que deu que falar nas Caldas da Rainha e arredores entre 2004 e 2006. O line-up é novo e algumas canções também. Álbum em 2008? Espreitem www.doguru.blogspot.com

E agora esperemos por Maio... e pelo resto do ano...

sábado, janeiro 19, 2008

O Novo Mundo

1998. Acordo ébrio ao sabor de um piano subtil que me acaricia a alma. Tenho quatro novos amigos que insistem em fazer boa música. Confesso, era uma nova experiência para mim. Um rapaz de vinte anos, habituado aos devaneios dos Pixies e dos Jesus and Mary Chain, agora confrontado com a boa música popular portuguesa. Fausto, Sérgio Godinho, Sétima Legião, Trovante entre outros. Ao mesmo tempo, havia reminiscências dos Divine Comedy. Acordava sem tempo definido. Ele próprio se encarregava de me embalar pelos pequenos prazeres de uma estadia que parecia não ter fim.

Durante um pequeno período da manhã ensaiavamos cordialmente. Depois partíamos no velho jipe verde descapotável rumo à praia mais próxima (normalmente Tocha ou Mira). Comíamos uns carapaus assados com batatinha assada acompanhados por um tintinho carrascão da Bairrada.

Tudo era novidade para mim .

Passeios pela Figueira, pequenas diatribes pelas termas da Cúria, devaneios pela Mata do Buçaco e aventuras no trajecto entre Quiaos e Murtede .

O pequeno músico que hoje trago comigo consolidou-se naquele palacete de paredes encardidas pelo rotação do universo. Aquele Universo ilusoriamente tangível...

Fará em Agosto dez anos. Dez anos de um caminho que teimo em percorrer olhando para o segundo que sucede logo depois deste ponto final.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Macacos do Chinês - Quebrar o Galho no Lux


Um projecto musical é como uma receita culinária: se a combinação dos ingredientes resultar o prato é um sucesso, se não é um fracasso. Mas a comparação não fica por aqui, porque mesmo que os ingredientes sejam os melhores existe sempre a possibilidade de não se acertar no doseamento correcto de cada um deles de forma a que o prato seja melhor que a soma dos ingredientes.
Quinta-Feira, 10 de Janeiro, piso térreo, ou como prefiro chamar-lhe, "Zona Ribeirinha do Lux". Os dois pratos a apresentar chamam-se Macacos do Chinês e Buraka Som Sistema em formato Dj Set. Kalaf é o anfitrião da festa numa iniciativa da Enchufada (editora dos Buraka e agora também dos Macacos).
Chego mesmo no início do concerto e já se sentem boas vibrações no ar. Parece que o refogado está a ficar bem apurado.
Os dois primeiros Macacos (Apache e Tiago Morna) saltam para o palco criando uma interessante introdução percurtiva, mas a maior ovação chega com a entrada da restante equipa: os MC's Miguel Pité e EspectroCliché, Al:x (Cooltrain Crew) na guitarra eléctrica e Tiago Morna na guitarra portuguesa.
Depois de bem apurado, o refogado é guarnecido com ingredientes apetitosos, apimentados e por vezes rebeldes. Pité mostra um flow desavergonhado em temas como Plutão (o novo single) e Déjà-Vu. Chegam a lembrar uns Massive Attack mais dançáveis quando Al:x ataca a guitarra eléctrica com um à vontade desarmante. Há hip-hop, música popular portuguesa, rock q.b. e o propalado grime, importado do Reino Unido, via Macacos do Chinês.
Depois o cozinhado prossegue com a guitarra portuguesa de Morna aliada a beats frenéticos num caldeirão eclético que aterra no solo de Cabo-Verde, Angola e Moçambique, para de repente levantar voo, fazer escala em Bristol e voltar ao destino português, num vão de escada de Alfama ou no grupo cultural e recreativo de Ponte da Barca.
EspectroCliché vai ganhando confiança a partir de "Cliché", um tema de sua autoria devidamente adaptado para o espectáculo dos Macacos e, até ao final a dupla mostra-se imparável no flow, nas rimas e especialmente na cumplicidade em palco.
Apache passa dos samples para o baixo e deste para a percussão com uma versatilidade invejável num projecto em rampa de lançamento (o disco de estreia parece estar para breve).
O Lux dividido por pilares de fumo teve porventura o privilégio de ouvir pela primeira vez - e provavelmente pela última - o Vira de Frielas num apontamento revelador do espírito festivo dos Macacos.
O prato sonoro foi tão apetitoso que a sobremesa servida pelo Dj Set dos Buraka Som Sistema teve de ser consumida de forma comedida.

Macacos do Chinês, numa ementa perto de si...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Tempo: Equilíbrio, Ângulos Retorcidos e também umas palavras sobre a melhor série do momento



Dexter é a série que acompanho agora com a regularidade que o tempo me permite.
O significado do tempo é, no universo da linguagem, uma construção da ordem da significação ambígua. Aliás, o tempo tem sido alvo de inefáveis construções literárias e portentosos estudos académicos no âmbito das mais variadas áreas científicas.
Na arte, o tempo aparece como elemento catalisador entre a criação e a observação. Nada se concebe sem a mediação do tempo e nada se observa sem o consentimento deste. E quando a própria obra é uma reflexão sobre o tempo mais poder es
te ganha. É o Meta-Tempo que entra em cena e nos confunde por não sabermos que estamos a lidar com uma outra dimensão do termo concreto.
No cinema, por exemplo, o paradigma do tempo é abordado sob diversos olhares. Lembrei-me de dois: Lynch e Tarkovsky.
Lynch enche-nos a alma com encruzilhadas ímpares de sequências narrativas onde parece imperar a ditadura do não linear. Acima de tudo são experiências visuais em que o tempo sofre taquicardias constantes: ora é sugado para o limiar da loucura numa auto-estrada a 200 km/h, ora abranda em ruelas de sentido obrigatório com limite de velocidade reduzido (vide Estrada Perdida ou Mulholhad Drive). Com Tarkovsky o tempo é tratado de forma clássica, com as respirações e os compassos exactos. Para Tarkovsky o tempo é a personagem principal da narrativa, e aqui podemos incluír a dor e o desespero. Sofremos a agrura (elogio) de atrevessar um túnel de meia-dúzia de metros em aproximadamente cinco minutos de fita. Esculpir o Tempo? Sim, é esse o título de um dos seus livros. Comprovem com Stalker ou o Espelho. Se Lynch o resguarda, Tarkovski expõe-no. Mas isto são apenas dois exemplos.


Agora Dexter, que vive num diferencial que o põe em dois planos: Tempo de Matar e Tempo de Viver. A rotina, o trabalho, a relação, o prazer. E neste círculo voltamos sempre ao início. Como no Mito do Eterno Retorno. Já dizia o poeta: "Atrás dos Tempos vêm Tempos"..........