sábado, dezembro 27, 2008

Os Ajustes de 2008 Pt.1

O Natal não me aqueceu o coração como desejei. Recorro por isso a uma pequena garrafa de Alexandrion, uma bebida que segundo, indicação do rótulo é originária da Grécia, mas fabricada na Roménia. Enfim, fenómenos da globalização.
Global, ou de uma forma mais adequada e eclética, aqui fica a primeira parte da selecção de canções que não saíram dos meus ouvidos durante este mirabolante ano de 2008.
Mais um ano, mais uma lista:

Little Joy - The Next Time Around (2008) - A primeira aventura conjunta entre o baterista dos Strokes, Fabrizzio Moretti e Rodrigo Amarante, vocalista dos Los Hermanos (esses mesmos do hiper desgastado Anna Julia). Uma pérola pop a tocar a estrela brilhante de Brian Wilson e o lo-fi dos primeiros anos dos Strokes.



Lou Reed - Caroline Says II (1973) - Depois de ver o filme-documentário de Julian Schnabel, Berlin, ouvi com alguma regularidade esta canção musicalmente densa e liricamente estonteante. A poesia de Reed é dura, áspera, sufocante, mas ao mesmo libertadora e brilhante na metaforização:
"All her friends call her Alaska...
She put her fist through the window pane
It was such a funny feeling
It's so cold in Alaska
it's so cold in Alaska
It's so cold in Alaska"



Wilco - Impossible Germany (2007) - Incontornável. O disco de onde saiu a canção foi sobejamente declarado como um esforço ingrato de polimento do som da banda norte-americana. A irreverência dos Wilco talvez tenha ficado pelo caminho mas a beleza de Impossible Germany caminha ao longo de quase seis minutos e, na passagem pelo solo de guitarra do recém-adicionado Nels Cline encontra o seu momento mais sublime.




Animal Collective - Water Curses (2008) - A pop anda de mãos dadas com o psicadelismo. Depois das experiências mais ruidosas e caóticas dos primeiros anos de carreira, os Animal Collective têm vindo a desenvolver o melhor antídoto para cruzar experiências noisy com pop quase assobiável.
Desde o auge dos Flaming Lips há quase dez anos (The Soft Bulletin de 1999) que não fazia tanto sentido distorcer o arco-irís.

Lambchop - Ohio (2008) - Os puristas dirão: "mais do mesmo". Eu acrescento: "ainda bem". Ohio é o cartão de visita de OH, o mais recente de originais dos Lambchop. Nunca fizeram uma canção abaixo ou no limite da linha de água. "Green doesn´t matter when you're here...". Tenho dito.

Weezer - The Greatest Man That Ever Lived (2008) - A canção mais progressiva dos Weezer. Progressiva no sentido mais literal do termo. Começa com a embalagem hip-hop debitada nas palavras de Rivers Cuomo. No caminho passa pelo ska rasgado e entra em regime de marcha militar com camadas de vozes sobrepostas, depois segue para os Queen versão Bohemian Rhapsody com um falsete claramente denunciado de tão xaroposo se trata (a auto-medicação nem sempre é prejudicial). Prosseguem e, apenas aos dois minutos e quarenta e quatro segundos são eles próprios: os Weezer despidos. Logo de seguida trocam-nos as voltas com um swing jingão a transportar os 50 para os 00. Há ainda espaço para declamações mais preocupadas com a forma (rima, entenda-se) do que com o conteúdo. Já a preparar o final entram os inevitáveis Beach Boys com harmonizações vocais em confluência pacifíca. O final é pura ganga rasgada à la Weezer.
One of the greatest songs that Weezer gave to life.

Jim O'Rourke - All Downhill from Here (2001) - O' Rourke dispensa apresentações nos sectores mais familiarizados com a estética post-rock que deu que falar no final dos anos 90 e inícios de 2000. Esteve em bandas como os Gastr del Sol, os Sonic Youth ou Loose Fur.
Em 2001 lança Insignificance que abre com este All Downhill from Here, um curioso desvio da estética experimental ligada ao fenómeno post-rock que até aí ajudara a desenvolver. É uma canção rock-pop simples, directa, com guitarras agrestes, batida primitiva e os devidos uh-uhs devedores dos Rolling Stones ou dos Kinks.
Surpresa é sermos surpreendidos por aquilo que menos esperamos. Nada mais redudante e verdadeiro que esta canção "esquiva".

The Lassie Foundation - The Battle of Vernon (2001) - O Shoegazing já havia sido inventado 17 anos antes, quando os Lassie Foudation lançaram El Dorado L.P., disco que contém Battle of Vernon, uma ácida mas penetrante canção que deveria ser tida como lição nº 1 para qualquer garage rock band (assim mesmo em inglês para não confundir o estilo musical com o termo depreciativo "banda de garagem" português). A produção lo-fi perfura (elogio) os tímpanos com torrentes de electricidade em desvario sónico, apenas suavizada pela voz de Wayne Everett, bem mais à frente que em qualquer registo dos My Bloody Valentine ou dos primeiros discos dos Jesus and Mary Chain.

Lou Reed - The Blue Mask (1982) - O tema título do disco é uma das canções rock mais enraivecidas de Lou Reed. Mais uma vez o desespero, a morte, a agonia são tratados por tu, num à vontade tão desarmante que ao invés de nos incomodar pede-nos para nos sentar e simplesmente curtir. Porque Reed é assim, o poeta da inquietude que aparentemente parece não querer dar importância àquilo que ouvimos, mas somente àquilo que nos diz (talvez daí a sua distância, a sua propalada arrogância). Blue Mask é pura adrenalina rock com uma secção ritmíca de luxo: Doanne Perry na bateria e Fernando Saunders no baixo (aquele som fretless é o comboio do refrão). Robert Quine completa a formação na guitarra com a imaginação da fase pós-punk que trouxe da época em que tocou com Richard Hell (os Sonic Youth aproveitaram bem os ensinamentos).
"Take the blue mask down from my face and look me in the eye
I get a thrill from punishment
I've always been that way
I loathe and despise repentance
You are permanently stained
Your weakness buys indifference"

Destroyer - Plaza Trinidad (2008) - Músico prolífico, Dan Bejar desdobra-se em Destroyer quando não está a ajudar os New Pornographers. Leva já oito discos gravados, mas só começou a ser reparado q.b. em 2004 com o lançamento de Your Blues, ao mesmo tempo que os New Pornographers também ganhavam alguma projecção. Trouble In Dreams de 2008 traz este magnífico Plaza Trinidad, uma melodia em crescendo portentoso e arrítmico. Aqui todos os instrumentos se complementam (incluíndo a própria voz de Bejar), cada um tem o seu "momentum", como se a canção tivesse sido escrita para um encontro de amigos que tem muito para contar e escutar.
Encontramo-nos na Plaza Trinidad. Obrigado.

sábado, dezembro 06, 2008

A Tocha que iluminou 2008



2008 percorre aceleradamente os últimos kilómetros. O saber popular diz que, até ao lavar dos cestos é vindíma. O mesmo será dizer que um projecto só termina quando todas as etapas do mesmo estão concluídas. Acontece, por vezes, que, antes da vindíma propriamente dita existem vários factores externos que podem determinar a qualidade da colheita de um ano: a qualidade e a característica do solo, o clima, o tratamento da vinha, as pragas... resumindo: uma série de variáveis mais ou menos constantes que condicionam a qualidade do produto final.

A pequena introdução em forma de palestra agrícola (qual Borda d' Água antecipado) serve para justificar o artigo que guardei para o melhor disco de 2008, apesar de faltarem percorrer os acima citados poucos kilómetros para o final, ou, se preferirem, alguns lagares e cestos para lavar. O mesmo é dizer que até ao final e com a quadra natalícia pelo meio, ainda existem porventura alguns coelhos a sair da cartola. No entanto, e até ao final dificilmente deverá aparecer no mercado discográfico um album que satisfaça tanto o meu apetite auditivo como o 2º capítulo da carreira dos Torche, de seu nome Meanderthal.

Vamos ao que interessa. Meanderthal é um disco de rock, de rock pesado visceral. Nos guias musicais on-line e nas rádios virtuais é catalogado de Sludge Rock, Stoner Rock ou simplesmente Heavy Metal. Acontece que não sou um especial admirador de sonoridades mais pesadas. Chego ali aos Queens of the Stone Age, aos Kyuss, aos Killing Joke (colheita pós-94) e depois o resto são as clássicas: Black Sabbath, Led Zeppellin, AC/DC. Obviamente que vou buscando uns resquícios aqui e acolá de uma ou outra banda de paisagens sonoras mais pesadotas, mas a verdade é que nunca um disco no espectro musical que incluísse a palavra metal me encheu tanto as medidas como este Meanderthal (Killing Joke, homónimo da banda com o mesmo nome andou lá perto em 2003).

Os Torche não escapam aos rótulos como acima especifiquei, mas são inteligentes ao ponto de se tornarem imunes a eles. Isto porque apesar do engavetamento, a banda tem uma personalidade musical que transcende todos os géneros que lhes queiram impôr. Se a abertura com "Triumph of Venus" é uma ode progressiva a explodir em compassos arrítimicos e riffs de guitarra virtuosos, já o single "Grenades" é a canção pop mais pesada que ouvi nos últimos anos. Depois o disco continua apressadamente com cançãos que vão jingando entre alguns ritmos acelerados e outros mais arrastados. "Piranha" faz o cruzamento perfeito entre o punk mais pesado e arrastado dos Fu Manchu, com a herança stoner, via Black Sabbath. Tudo isto sem floreados. Canções entre os dois e os três minutos e meio, exceptuando as duas últimas, "Fat Waves" (a minha preferida), num exemplo perfeito de rock progressivo, no sentido mais estrito do termo, segue uma linha sonora sequencial, em que o todo é a soma perfeita de várias partes, vários pedaços sonoros que desafiam as nossas sensações auditivas, e que portanto só fazem sentido imersas nesse bolo sonoro que lhes segura as entranhas.

Meanderthal não vive de momentos esparsos, mas sim de um bloco sólido de canções que augura tudo o que de elogioso acima referi.

Nasce progressivo e eclético e termina circular com a faixa título "Meanderthal", em registo drone.

São treze canções - trinta e seis minutos e dezanove segundos - que chegam e sobram para considerar este o disco do ano ainda antes de Jesus Cristo apagar as 2008 velinhas.

O espaço dos rapazes: www.myspace.com/torche

sexta-feira, novembro 21, 2008

Nú Ventre Maria


É um embrião... um embrião pequenino que agora começou a fazer pequenos movimentos, pequenas diatribes em forma de silly experiences, mas com seriedade q.b. para perceber que o embrião vai crescer e vai andar por aí na esperança que na sua andança não tropece no engasgado Santana Lopes (sim, esse tal que também anda por aí).

sábado, novembro 01, 2008

Wilco - A Shot in the Arm

A Shot in the Arm
The ashtray says
You were up all night
When you went to bed
With your darkest mind
Your pillow wept
You covered your eyes
And you finally slept
While the sun caught fire
You've changed
We fell in love
In the key of C
We walked along
Down by the sea
You followed me down
The neck to D
We fell again
Into the sea
You've changed
Oh, you've changed
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Maybe all I need is a shot in the arm
Something in my veins, bloodier than blood
Something in my veins, bloodier than blood
Something in my veins, bloodier than blood
Something in my veins, bloodier than blood
The ashtray says
You were up all night
When you went to bed
With your darkest mind
You've changed
Oh, you've changed
What you once were isn't what you want to be anymore
What you once were isn't what you want to be anymore
What you once were isn't what you want to be anymore
What you once were isn't what you want to be anymore
What you once were isn't what you want to be anymore


Aaahhh, e o senhor Jeff Tweedy (o vocalista e mentor dos Wilco) até apoia o Obama. Comprovem:


terça-feira, outubro 28, 2008

Santa Música

Perante mercados recuados, sob a batuta de uma crise financeira sem fim à vista, somos levados a suspirar de funesta desesperança. No nosso cantinho, ora quente, ora ventoso, preparam-se as adegas a abrir os portões para a prova do vinho novo, servido com galanteadores pedaços de carne grelhada, azeitonas e outras iguarias de fazer crescer água na boca de qualquer bon vivant ribatejano.

A Feira dos Santos também se aproxima a passos largos, mas isso apenas na minha pequena urbe.

A mostra musical para este S. Martinho e todos os outros santos é um pulverizar eclético de canções.




  • Torche - Fat Waves (Meanderthal, 2008)
  • M. Ward - Requiem (Post-War, 2006)
  • The Beatles - I'm so Tired (White Album, 1968)
  • M83 - Kim & Jessie (Saturday=Youth, 2008)
  • Lambchop - A Hold of You (Oh, 2008)
  • Koushik - Lying in the Sun (Out my Window, 2008)


segunda-feira, outubro 27, 2008

O Idiota

Određeni član smiješan
Mil vozes
Mil sussurros
Mil línguas
Fartas são as palavras escolhidas
De tão ambiciosa gula poliglota
Parca é a comunicação
De tudo não mais que idiota

sexta-feira, outubro 10, 2008

De Trás para a Frente


Durante parte das suas carreiras estiveram lá atrás onde por vezes a luz não chega. Mais tarde passaram para a frente do palco, assumindo a responsabilidade de verdadeiros frontmans e até de gestores de carreira.
Estou a falar-vos de bateristas que, por impulso criativo ou simples necessidade afectiva decidiram tornar-se compositores, ou numa linguagem apropriadamente pop, simples escritores de canções.

Aqui fica uma pequena lista, desde os mais mediáticos a outros mais acanhados.

  • Paul Quinn - Foi baterista dos Soup Dragons no final dos anos 80 e início de 90. Depois do término da banda esteve nos Teenage Fanclub durante sete anos (1993-2000). Trabalhou como carteiro durante um ano. Aprendeu a tocar guitarra e formou os Primary 5 em 2001. Em 2004 saiu o primeiro disco, North Pole. Há cerca de um mês saiu o terceiro capítulo da carreira promissora de um humilde baterista que era "apenas" o sólido suporte ritmíco dos Teenage Fanclub (www.myspace.com/primary5).
  • Dave Grohl - Talvez o mais mediático. Depois da consistência e solidez que deu às angustiantes composições de Kurt Cobain, Grohl não fez longa a espera e logo em 1995 lançou o álbum homónimo dos Foo Fighters totalmente composto e gravado por si. Estava dada a prova de que o homem mais recuado dos Nirvana era mais do que um sólido e competente baterista. Seis discos depois com os Foo Fighters e várias colaborações extra (Queens of the Stone Age, Killing Joke, Probot...) Grohl afirma-se como um dos bateristas/músicos mais versáteis da história do rock.
  • Patrick Wilson - Continua a marcar o ritmo nos Weezer, mas em 2001 e depois de um hiato de 5 anos com a banda de origem, decide arrancar com um projecto paralelo, os Special Goodness. Passa a assumir a posição de principal compositor, vocalista e guitarrista. Nota positiva para os dois registos gravados até à data. Vamos esperar para ver o que aí vem, numa altura em que os Weezer se encontram numa fase de evidente ascensão musical depois do flop chamado "Make Believe".



  • Bobby Gillespie - Pode gabar-se de ter tocado bateria (talvez mais tarola e timbalões) num dos disco míticos da história do rock (Psychocandy, dos Jesus and Mary Chain). Depois partiu para a aventura com os Primal Scream logo em 1987 e sempre como vocalista/ frontman. Em 1992 consegue nova proeza: lançar um dos discos mais importantes da história do pop/rock dos anos 90 - Screamadelica. A mistura de rock polvilhado com ritmos plenos de efervescência house marcou uma parte da criação musical dos anos 90 e 00. Os Kasabian que o digam.
  • Phil Collins - Palavras para quê? Esteve nos Genesis desde a sua formação. Com a saída de Peter Gabriel segurou as rédeas da banda, mesmo quando a genialidade da primeira metade dos 70's se esvaiu. Na liderança dos Genesis gravou oito discos entre 1976 e 1991. Teve tempo para formar os Brand X, onde tocou bateria e em 1981 iniciou o seu percurso musical de homem só com o aclamado Face Value. Terminou a sua carreira há poucos meses devido a problemas de surdez. Fica a memória de um dos mais dinâmicos e versáteis músicos da história do rock.
  • Maureen Tucker - O elemento feminino permanente dos Velvet Underground compensava a falta de técnica com ritmos mecânicos e vigorosos, por vezes a emanar uma energia visceral e selvática tão condizente com a linguagem rock que os Velvet Underground ajudaram a desenvolver no desbravamento de novas linguagens como o Punk e uma certa vanguarda alternativa, distante dos devaneios progressivos e experimentais do meio musical envolvente. Com o fim dos V.U., Maureen esteve sempre longe do olhar crítico, ao contrário dos seus companheiros, Lou Reed e John Cale. Ainda assim aventurou-se a solo em 1981, assinando 5 discos desde aí até 1994. Por onde andas, Moe?

quarta-feira, setembro 24, 2008

A Anedota em 3 Dimensões


A expressão é do meu primo "austríaco" e refere-se ao nosso cantinho de brandos e estupidificantes costumes.
Não. Não se trata de um ataque de mau humor. Na verdade até me encontro muito bem disposto (ao contrário do que diriam muitos conterrâneos na mesma situação que eu). A anedota é um rectângulo, polvilhado aqui e acolá de pequenas reentrâncias e saliências. Constituiu-se como pátria há oito séculos e em pseudo anedótica democracia há apenas 33 anos.
A cultura reduz-se ao futebol dos pequeninos, à tourada, à chanfana de cabrito, às árvores de Natal gigantes e aos eventos insuflados de pompa e circunstância - o mesmo é dizer, de vazio, de falta de ética, de valores, de civismo. No entanto, continuamos sempre a achar que somos os maiores. O ego incha com o futebol, mas acabrunha-se com o depauperado Sistema Nacional de Saúde, com a Educação e a Formação de cidadãos, com as estruturas inadaptadas às exigências e necessidades do Séc. XXI. Deixamos andar o barco à deriva. Somos cúmplices do clientelismo, das cunhas e dos compadrios, fechamos os olhos aos lobbys imoboliários que violam os PDM's e destroiem literalmente a qualidade de vida das nossas vilas e cidades, observamos silenciosamente a aprovação da proposta de um TGV que vai servir apenas as empresas implicadas na reestruturação de toda a linha, à custa de uns bons milhões de euros que dariam certamente para criar melhores condições na Educação, na Saúde, na reestruturação da rede viária secundária e da rede ferroviária que numa grande parte dos troços tem apenas uma via (linha do Oeste, linha da Beira Interior).
Num país com menos de 100.000 km2 se precisar de viajar de Castelo Branco a Faro vou ter de percorrer cerca de 450 km em 8 horas, com provável mudança de autocarro em Lisboa. O país está desmantelado.
Previligiamos o Luxo, o Ócio, o Desenrasca. Previdenciam-se favores aqui e acolá porque até conhecemos o Sr. vereador (ainda ontem estive nos copos com ele até às 3 da matina). Saudamos o superfluo e ostentamos o material descartável mesmo que ganhemos 500 ou 600 € por mês.
A crise de valores confunde-se com o vazio de ideias e as mentalidades teimam em não mudar num ciclo perpétuo.

A anedota é apenas um pouco disto que aqui registo. E por todas estas circunstâncias, os verdadeiros cidadãos portugueses acabam por sair para outras paragens, regressando apenas para apanhar o sol do Verão e saudar a família.
A resposta do meu primo quando o confrontei com um possível regresso permanente a Portugal foi a seguinte: "Para quê? Para ir projectar vivendazinhas à beira-mar, ou assinar projectos que violam não apenas o regulamento dos PDM's mas também a moral e o bom senso de um povo que olha primeiro para o acessório e só depois, muito mais tarde para aquilo que é verdadeiramente essencial?"

Está na Áustria, por lá se vai manter, talvez com a esperança de que esta Anedota se venha a tornar apenas numa piadinha privada... a 3 dimensões, claro está...


terça-feira, agosto 26, 2008

Não Dizer Nada e Contar os Rip Offs

A preguiça é o maior dos males. Bem, se excluírmos a maldade. Sim, porque a maldade é o ópio puro, prejudicial quando usado indevidamente.
Em duas linhas aleatórias não disse nada. Enfim... Há dias, há semanas, há meses assim.
Quando este torpor da silly season se desvanecer talvez regresse animado.

Bem, para já aqui ficam dois rip offs descarados por parte de duas bandas que por aqui andaram algures nos 90.

O Original - The Stranglers, No More Heroes, 1977



O Rip Off - Elastica, Waking Up, 1995




O Original - Killing Joke, Eighties, 1985



O Rip Off - Nirvana, Come as You Are, 1991


sábado, agosto 09, 2008

Odes Augustas

O Verão acelera o passo, os Olímpicos começam por entre protestos e sequestros.
Numa calma que me é alheia selecciono cinco odes a Agosto.
E as vindímas aí à porta.

É só tesourar pessoal:

  • Animal Collective: Water Curses (Water Curses EP, 2008)
  • Weezer: The Greatest Man that Ever Lived (The Red Album, 2008)
  • Beirut: Elephant Gun (Lon Gisland EP, 2007)
  • Atlas Sound: Recent Bedroom (Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel, 2008)
  • Sleeper: Delicious (SMART, 1995)


sábado, agosto 02, 2008

Novo Acordo Ortográfico (ou como tirar a paciência a uma ave de Varsóvia)


O novo acordo de linguagem gestual já está em vigor. Na imagem podemos ler: "Fui completamente amassa(ç)do por um Tou(i)ro em Salvaterra De Magos. Ou terá sido um Pato?"

Viva o Novo Acordo Ortográfico.
Verdade seja dita. Não estou a par da maior parte das alterações que a Língua Portuguesa irá sofrer com este acordo, nem consigo prever quais as reais implicações que terão tais alterações na Sociedade Civil Portuguesa.

Sou um português médio, que se vai informando, que vai ouvindo uns zum-zuns e abrindo uns mails de provocação e de indignação, mas como qualquer cidadão livre tenho o direito de fruir deste pequeno espaço virtual para escarrapachar o que bem entender.

Entristece-me saber que a consoante surda (ou será muda?) seja suprimida de palavras tão bonitas como Homem, Húmido, ou Hora. A gravidade disto meus senhores não está na anulação da dita consoante, mas sim na morte instantânea de uma das mais velhas piadas portuguesas: o Homem com O Grande agora é mesmo Omem com O Grande. Mandamos assim um pedaço do nosso humor flácido pelo cano de esgoto abaixo.

Adiante...
Nem só de más notícias vive este novo acordo.

Há muitos anos atrás, sentado numa cadeira de escola, algures pelos meus 15 anos ouvi falar de um tal de Pacto de Varsóvia, que, num dito mundo bipolar à moda do Séc. XX andava sempre às turras com uma tal de Nato (não confundir com Nacto. Isso, era antes do anterior acordo ortográfico). Ora (não confundir com Hora), como bom apreciador de culinária sempre fiquei tentado em saber qual o sabor de um Pato de Varsóvia, e eis que, passados uns outros tantos 15 anos vou ter esse prazer graças a este querido acordo.
Não sei como o fazem por lá, mas se me permitem deixo aqui uma pequena dica. A minha avó escondia-o (o Pato, entenda-se) num enorme tabuleiro de arroz decorado com pequenas rodelas de choruriço que era depois levado ao forno até ficar bem apuradinho.
A certeza que fica é a de que este acordo é também um pato. Um pato para saborear em todos os países lusófonos. Também é um fato (o meu nº deve andar pelo 52) que existem pessoas que não patuam [ato (ou desato, essa agora...) de se fazer passar por pato) com este acordo. A mim não me convencem, por isso brego alto e bom som:


VIVA O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO (eu até gosto de um bom petisco).

segunda-feira, julho 21, 2008

Esfera



Vou ALI e já venho e,
Enquanto lá vou, perco
A Arte e o Engenho,
Do Zelo e do Desmazelo,

Danço, enquanto
mordo o cotovelo,
Balanço...

Viral Utopia Capitalista

Cegos são os Desígnios
Fechados para Balanço
Presos em Condomínios
Frágil Engrenagem de Papel
De Ferro Forjado Escondido

ROMA...

segunda-feira, junho 30, 2008

Shadow of a Million Doubts


A tristeza invade-me... uma peculiar tristeza que não chega a derrubar, a ferir, a penetrar... Talvez por amar viver, embora o dissabor seja a nota dominante. É uma amargura cândida, tolerante, compreensiva, necessária até, em última instância. Poderá corresponder a uma operação matemática quando a soma dos negativos dá resultado positivo? Não quero questões, não me interessam opiniões, mal formadas, bem intencionadas. Quero respostas sem as procurar, sem me questionar. Mas que raio... Quem finjo ser? Que convénio ilusório é este onde me encontro encerrado? Seguirei... para onde? Não sei...

sábado, junho 07, 2008

MGMT for the Friends

Sem Espinhas:

Para: David Marques, Mafalda Amaro, Nuno Neves, Zé Miguel, Matéria "Monstrinho Verde" Vazia, Nuno Crespo:

Junho em Pleno:



Disabled by request: what a shame...

quinta-feira, maio 29, 2008

Dj Quiçá Vs Macro Point


A Nouvelle Vague do Djiing chega ao Cartaxo pelas mãos de dois Senhores que ninguém conhece: Dj Quiçá e Dj Macro Point. O embate promete ser duro, e, para já está prometido um serão com rock, pop, reggae, e demais estilos desengavetados.

30 de Maio é o dia. 22 é a hora


Até lá amig@s.

quarta-feira, maio 21, 2008

Mensagem nº 151. Já lá vai

A imagem que aqui vêm não existe. É uma criação da vossa mente
É uma mitomania em forma de publicação virtual/binária

A abordagem tem como ponto de partida um cliché por demais esmiuçado, debatido e conversado.
A tentação diz-me que vivemos num tempo sem presente, sem aqui e agora. O espaço não é habitado, é local de passagem e por isso fugaz e untuoso.
A sociedade dos números não se coaduna com emoções expressas ou ambivalência - polivalência, também - de posições. A segregação social começa aqui, quando o cidadão apregoa o estigma da pessoa que nasce, estuda, trabalha, paga (ou não), envelhece e desaparece. Porque é preciso salvaguardar a cidadania dos que nascem, de facto os homens e mulheres de amanhã.
Projecto Nascer Cidadão. Pomposo. Ora na maternidade, antes de mais, o Gaspar antes de ser Gaspar e cidadão já tinha a honra de ser um.... número. Era o número 6. E siga para o jackpot...
Depois, e quando me preparava para fazer o registo in loco, ou seja, logo na maternidade, o sistema estava lento e o processo iria demorar um bocadinho. Iria (não a Santa, mas a conjugação do verbo ir na 3ª pessoa do singular no Pretérito Imperfeito)... porque quando a senhora por detrás da secretária (talvez a Srª nº 18 da maternidade) soube que o nome do petiz nº 6 iria ser Gaspar Graça Nogueira Pedro Pita-Groz avisou-me logo que tal não era permitido perante a lei que só contempla 4 apelidos no nome de um novo cidadão. Um bebé, mas um cidadão (que sumptuosidade tão pateta). Acontece que tratei de explicar à srª nº 18 ou talvez 17 porque entretanto um outro funcionário poderia ter metido baixa, que Pita Groz é um apelido composto, formado por 2 nomes. 1+1=1. Já o ido Afonso com 20 filhos na algibeira o passou para o Amadeu - o apelido, entenda-se - e depois este para mim. Mas factos são factos e o registo só pode ser feito com prova concreta no registo civil da zona de residência do(s) pai(s). Por outras palavras, eu, André Miguel Pedro (da minha mãe) Pita-Groz (do meu pai), terei de recuar entre 3 a 5 gerações para provar que os meus antepassados já usavam o apelido. Teimosia. Afinal o Gaspar (nome fictício) agora só quer ser um número para poder fazer o que um bebé cidadão TEM de fazer, consultas médicas no pediatra e no posto de saúde. 2750 gr. na última pesagem.
Ao cabo de 18 dias de existência o Gaspar... não existe, nem sequer é um número. Paradoxal e curioso, hein? O sistema informático do registo civil tem estado lento e parado (pelo menos de há 3 semanas a esta parte) e portanto o melhor remédio é esperar e passear com o filho nº 1, atentando que nesta anedota a 3 dimensões à beira-mar plantada, o tempo nunca se esgota, o marasmo prevalece e no futuro que também será ausente, aquele a quem chamamos Gaspar (porque somos loucos de todo e damos um nome a um ser que não existe, e, de certo modo a uma pessoa que ninguém conhece), poderá vir a ser um cidadão numerado, com uma conta bancária recheada de muitos números (sim, recebemos um kit para abrir conta num conhecido banco português logo à saída da maternidade) e quem sabe até poder vir a ser feliz por detrás de tanta enumeração.

Esta mensagem tinha outro propósito. Já a tinha iniciado há uns dias, mas os meus números da sorte segundo o horóscopo nº 21/05 encaminharam-na para aqui.

Foi um número diferente. Só isso.

Números da Sorte para o Sagitário (mas apenas para 1 dia, o de hoje): 1, 15, 29, 30, 31, 40.

Vou apostar nisto para o Euronúmerimilhões.

Saudações.

Mafia... Máfia.... eeee prontes...

quinta-feira, maio 01, 2008

Maio...

Chegou Maio, o MÊS. A Primavera anda titubeante. Por isso mesmo as escolhas que aqui ficam são um reflexo disso mesmo: algures entre o calor dos trópicos e a serena melancolia do Norte:

  • Gorky's Zygotic Mynci - Yn Neud Gwalllt Ei Glydd (Singles & B- Sides, 2003)
  • The Cure - Pictures of You (Disintegration, 1989)
  • Cyber People - Doctor Faustus (Doctor Faustu S, 2005 EP)
  • Everclear - Amphetamine (So Much for the Afterglow, 1997)
  • Black Francis - Garbage Heap (SVN FNGRS, 2008 EP)

sábado, abril 19, 2008

Uma Mossa na tarola depois... O Regresso ...do Guru!



A sensação é de alegria, mas também de uma moderada nostalgia. Há momentos que nos fazem sentir assim. Os reencontros são um dos melhores bálsamos para a alma.
No passado dia 17 de Abril dei aquele que considero ter sido o melhor concerto da minha humilde e amadora carreira de músico. Desculpem-me os Qwentin que tão bem sabem o quão especial foi o concerto do Musicbox, talvez o segundo melhor. Desculpem-me os Geração XXI que sabem também a alegria que tenho em partilhar com eles uma boa parte das noites de Verão, alegrando os corações que anseiam a chegada das festas anuais das suas terras.
...do Guru! regressou cerca de um ano e dois meses depois ao Centro de Juventude. A primeira aparição foi há quatro anos numa praça do peixe lotada, em pleno coração das Caldas. Vivia-se a lufada primaveril do Caldas Late Night. Depois as actuações sucederam-se ao ritmo de um concerto por ano, com actuações em 2005, 2006, 2007 e este novo regresso memorável em 2008.
Não vale a pena descrever detalhadamente as sensações que tive a tocar naquele palco pela enésima vez. Foi divertido, competente... foi mágico. O rock tem destas coisas. Ora nos traz a lágrima ao canto do olho, ora nos carrega com a adrelina necessária para mandar ao chão uns pratos, uma tarola e alguns microfones.

O sabor do reencontro foi o regresso às conversas partilhadas com colegas e amigos que não via há imenso tempo, porque um concerto ...do Guru! é um brotar de simples confidências que falam de diversos estados de alma, de diversas vivências, como se fosse nula a diferença entre o palco onde estão os quatro amigos e uma mesa de café onde se sentam mais de quatro amigos para conversar... sobre coisas simples, mas que nos transportam para "um pequeno mundo de magia".

Venham mais mossas na tarola como esta.

Obrigado.

www.myspace.com/doguru
www.doguru.blogspot.com

sexta-feira, abril 11, 2008

A Fábula do Filósofo de Estado e outras Curiosas Assunções

Confesso. A preguiça mental apoderou-se de mim com uma fé letal. Já não deixo a mente surumbar durante horas a fio como era costume nos tempos em que era um funcionário de uma gigantesca cadeia de distribuição, confiscadora de membros superiores e inferiores mas não de mentes, de ideias, de utopias construídas a fio em recantos, por vezes frios e distantes, por vezes quentes caóticos e fascinantes.


Vivemos no Estado da Taxa e do Tacho. Podem suceder-se os governos, as pastas, os ministérios e toda a panóplia vocabular inerente, que os desgovernados continuarão a ser os mesmos, aqueles que, sem tugir nem mugir, continuam a pagar o imposto sobre o rendimento, as taxas moderadoras na saúde, o imposto automóvel, o imposto imobiliário, o imposto de valor acrescentado, as portagens, os parquímetros. Fujamos para Espanha meus amigos. Eu quero três Zapateros, porque nem do filósofo de 0,05 € quero falar. Porque antes do filófoso já outros famosos por cá andaram e a parca diligência foi idêntica: pobre na teoria, nos conteúdos e sobretudo uma nulidade na prática. Porque de reformas na saúde, e no ensino oiço eu falar desde que zaragateava com os pequenos inimigos dos 8 anos. Já lá vão 22. Continua a espera no corredor das urgências enquanto alguns senhores comentam as almoçaradas de fim-de-semana. O que vale é que passado algum tempo temos em casa um envelope com um documento discriminativo de todo o tratamento efectuado e... O RESPECTIVO VALOR A PAGAR, CARO UTENTE, QUE NOS OCUPOU UMA PRECIOSA MACA PROVIDA DE BACTÉRIAS E OUTRAS MAIS VALIAS PARA A SALVAÇÂO DA SUA VIDA. Enfim... Bem, mas o que me vale aqui no nosso cantinho à beira mar plantado são as vias rodoviárias, esse primor da engenharia civil portuguesa. Existe um apreço tão grande aos nossos eixos viários que é comum ver operários zelosos em obras constantes aqui e acolá, tanto nas Auto-Estradas (quem me dera poder chamá-las de Auto Vias), como nas Estradas Nacionais (suspiro... pela Red de Carreteras del Estado). Ponho-me a pensar: ora aí está, é para isto que eu pago 3,50 € de portagem entre o Cartaxo e as Caldas. Tenho ondinhas, má impermeabilização do tapete, mas tenho pessoal que zela pelas estradas, colocando, por vezes aqueles pins com listas brancas e laranja na divisão das faixas de rodagem. Maravilhoso. Diria mais: ESPECTACULAR. Adoro os 3 semáforos de obras na Nacional 3, que me fazem esperar o mesmo tempo que demoraria a percorrer, em circunstâncias (a)normais, os cerca de 12 km que separam o Cartaxo de Santarém. Mas reflectindo chego lá. O filósofo deve ter lido o preâmbulo, ou o epílogo, do livro S. Judas de Iscariotes de Fátima Pinto Ferreira que diz o seguinte: "Mas o tempo, que tanto nos aflige porque andamos sempre a dizer que "não temos tempo", não existe, não há. Nós é que, com a pretensão a tudo controlar, inventámos forma de o espartilhar."
Não fosses tu um culto Homem e o que seria da nossa vida. Disfrutai o sabor da rotação terrestre.

Eu percebo tudo. Vivemos num Estado democrático, plural onde a igualdade de oportunidades é um direito adquirido por todos. Podem dizê-lo aos filhos, sobrinhos, e afilhados dos Srs. Ministros e Secretários de Estado. Esses coitados têm pluralidade a menos. São obrigados pelos seus parentes a exercer cargos para os quais muitas vezes não têm competência nenhuma. E atenção se fôr falar dos amigos e dos compadres então, uuuiiiii. Sou impelido a afirmar que temos uma fatia considerável da população portuguesa que anda no limbo da democracia. Esses pobres coitados que são obrigados a viver à conta dos tachos. Só com um tacho ninguém se aguenta. É por isso natural que os acima mencionados Ministros e afins de Ministro tenham de arranjar um segundo e até um terceiro tacho para os familiares e amigos. Afinal de contas temos de ser uns para os outros. O que vale é que, como diz um grande amigo meu, toda a gente anda na ordem que a tropa manda, e o sr. Amâncio Jesus de Freixo-de-Espada-a-Cinta não quer saber senão do seu Benfica, da sua mini na tasca do Chico Zé e do quinhão de pão à mesa logo depois da jorna.

Bendito Fim-de-Semana. Ébrio Sábado. Mesquinho Domingo...

Enfim... É a vida...

domingo, abril 06, 2008

O Síndroma da Meia Idade Britânica

O que dizer do sarcasmo latente deste(s) menino(s)?

Help the aged,

one time they were just like you,
drinking, smoking cigs and sniffing glue.
Help the aged,
don't just put them in a home,
can't have much fun when they're all on their own.
Give a hand, if you can,
try and help them to unwind.
Give them hope and give them comfort
cos they're running out of time.

In the meantime we try.
Try to forget that nothing lasts forever.
No big deal so give us all a feel.
Funny how it all falls away.
When did you first realise?
It's time you took an older lover baby.
Teach you stuff although he's looking rough.
Funny how it all falls away.

Help the aged
cos one day you'll be older too -
you might need someone who can pull you through
and if you look very hard
behind those lines upon their face
you may see where you are headed
and it's such a lonely place.

In the meantime we try.
Try to forget that nothing lasts forever.
No big deal so give us all a feel.
Funny how it all falls away.
When did you first realise?
It's time you took an older lover baby.
Teach you stuff although he's looking rough.
Funny how it all falls away.

You can dye your hair but it's the one thing you can't change.
Can't run away from yourself.

In the meantime we try.
Try to forget that nothing lasts forever.
No big deal so give us all a feel.
Funny how it all falls away.
When did you first realise?
It's time you took an older lover baby.
Teach you stuff although he's looking rough.
Funny how it all falls away.
Funny how it all falls away.
So help the aged.


terça-feira, março 25, 2008

Intensa Estação

Uma garrafa de água, o som dos Gorky's Zygotic Mynci e Roma de Fellini são os convidados especiais para o casamento entre a Páscoa e a Primavera. Tempo de celebração, renascimento, cor e vigor.
Embriago-me nas boas vibrações que o ar da nova estação persiste em renovar, como se estivesse sentado numa esplanada à Beira-Tejo perdido entre cubas libertas, whisky's demolhados em cola, ou um bonito e saboroso Quinta do Falcão Reserva de qualquer ano após 2000. A seguir um Fonte Bela de 2007 enquanto a brisa fresca que calcorreia os ferros da Ponte D. Amélia - mesmo ali em Porto de Muge, pouco antes de Valada - me alenta para novo intenso rodopio.

Deixemos chegar os convidados para celebrar os estilhaços do Sol brando.

Alô Strokes...

terça-feira, março 11, 2008

Selecção de 94

1993 - 2008. 15 anos.
A selecção é declaradamente influenciada pelo saudosismo de um "petiz" com 30 anos. O mesmo que ouviu o nascimento e a morte do grunge. Aquele que, amiúde, ouviu ser pronunciada a morte do rock. Os Noventas fizeram vénias ao pop rock britânico, proclamaram a morte do rock e deram início ao advento do revivalismo electrónico perdido entre o alvor dos oitentas e esquecido à entrada da nona década de 1900. Ok, esta é um selecção engavetada, mas desprentiosa, porque antes e depois tudo foi válido e continua a sê-lo.


A BASF Ferro II continha algumas destas pérolas:

  • Golden Palominos - I'm not Sorry (1993) - A composição parece ter sido feita à medida de Lori Carson. Uma audição cuidada desmente o assunto e põe a inocência e a versatilidade de Carson a cantar uma das melhores canções dos anos noventa. Um autêntico bálsamo para um teenager que vivia os seus primeiros sérios desgostos amorosos.
  • Madder Rose - Panic On (1993) - Uma melodia melancólica com traços rítmicos a fazer lembrar o emergente trip hop "Bristoliano". E aquela voz...

  • Sonic Youth - Bull in the Heather (1994) - Um trilho tumultuoso a demarcar-se do sucesso imprevisível de Dirt. Um limão ácido marca presença no repertório suave de meados de 90.
  • Beck - Loser (1993) - Antes da escala planetária o esguio cantautor passou no éter da Comercial sem que (quase) ninguém desse por ele. Foi preciso chegar o Verão de 94 para pôr toda a gente a cantar: "Soy un perdedor"... O resto da história é por demais conhecida.
  • Frank Black - Headache (1994) - Os meus 16 anos não se aperceberam que os Pixies tinham terminado apenas 2 anos antes. O fascínio pela figura de proa da banda era imenso. Headache é uma das canções mais refrescantes da história da pop e o álbum que a contém (Teenager of the Year) é uma caldeirada condimentada com, rock sem espinhas, pop refinada, reggae electrónico, punk, e outros géneros descomplexados (favor ver um dos primeiros posts deste blog).
  • Pavement - Cut Your Hair (1994) - A banda mais séria de todas as que aspiram apenas a um cantinho pequenino na história do rock independente. Todos os discos dos Pavement são bons, mas esta canção é a afirmação de uma tendência sonora e estética já a querer demarcar-se do lo-fi caro ao registo de estreia, Slanted & Enchanted.
  • Crash Test Dummies - MMM, MMM, MMM, MMM (1993) - Acreditem ou não os C.T.D. já foram uma banda de franjas mais alternativas. Não é uma canção de que alguma vez tivesse gostado muito. É morninha e ouvi-la recorda-me os doces 16 anos.
  • Weezer - Undone (The Sweater Song) (1994) - A nerdice aplicada ao rock. Quando a simplicidade se aliou a uma ingenuidade sincera e mesmo pueril, a guitarra de Rivers Cuomo tocou por desamor. Desamor de uma adolescência gozada e pouco levada a sério. Rivers não se importou de a escrever. Que bem fez ele...
  • Boo Radleys - Wake Up Boo! (1995) - Algures neste blog mencionei um dia, que esta canção tinha sido considerada a mais alegre de todos os tempos, segundo parâmetros de avaliação que incluíam a estrutura harmónica e melódica, a letra, entre outros. Este tipo de estudo vale o que vale, mas os B.R. embarcaram na pop fresca de meados de 90 sem qualquer tipo de recurso a artíficios ou pose de super estrelas. Talvez por isso nunca tenham obtido o mérito que lhes é devido.
  • Inspiral Carpets - Saturn 5 (1994) - Injustamente engavetados na segunda linha de Manchester, os Inspiral Carpets misturavam o espírito mais efusivo e sorridente dos Doors com o ácido dos Happy Mondays e de toda a movida de Manchester.
  • Que bom era ouvi-los às duas da manhã.
  • Renegade Soundwave - Positive ID (1994) - Provavelmente a música de dança que ouvi durante mais tempo. Do meu quarto rumava até uma imaginária Nova Iorque fora de horas.
  • Luna - Tiger Lily (1994) - Embora na K7 tenha ficado outro registo (Great Jones Street) do mesmo disco (Bewitched), Tiger Lily foi a canção pop-mistério de 1994. Percorri lojas de música nos anos seguintes à procura do dito disco que infortunadamente, por via da lei da oferta e da procura, nunca consegui encontrar até uma belíssima tarde na antiga Virgin dos Restauradores onde finalmente consegui adquiri-lo a peso de ouro. Valeu a pena.

quarta-feira, março 05, 2008

A Debandada Virtual

A Crueza e a pureza de Ouagadougou

A alma viageira não descola. Os Meridianos e os Trópicos tendem a fundir-se e, no pequeno espaço que ocupo cabe o mundo inteiro. Chego-lhe com a mesma facilidade com que coço o nariz.

Na impossibilidade de tocar e escutar todas as latitudes e longitudes, sou forçado a fazer uma ambiciosa selecção que a seu tempo poderá ter alguns acrescentos:

  • Madrid (Espanha) - Fica aqui tão perto e ainda não tive o prazer de visitar a "outra" cidade que não dorme. Em breve... quiçá...
  • Maputo (Moçambique) - Há qualquer coisa em Moçambique que me impele a uma visita demorada. Será por ser África? Será por se falar português? Pois... Será? Talvez...
  • Nova Iorque - Los Angeles (E.U.A.) - Não quero guardar apenas as memórias descritivas de Kerouac, quero senti-las. Um pouco apenas.
  • Puerto Ordaz (Venezuela) - Um entre vários destinos sul-americanos a visitar...
  • Colónia de Sacramento (Uruguai) - Uma cidade fundada por portugueses no Uruguai? Património da Unesco desde 1995? Razões de sobra...
  • Manchester (Inglaterra) - Madchester, Happy Mondays, Stone Roses, Oasis, Manchester United... Um dos poucos destinos acinzentados que gostaria de visitar.
  • Santiago do Chile (Chile) - Um país que é uma finíssima linha costeira e cuja capital se assemelha arquitectonica e culturalmente a algumas das capitais europeias. Huummm... Uma curiosidade há muito instalada.
  • Oslo e Fiordes (Noruega) - O país com maior indíce de desenvolvimento humano do mundo merece uma visita.
  • Auckland e excertos da Nova Zelândia - Os cinco continentes imersos num só país, já para não falar da aventurosa distância de uns tantos mil km...
  • Dilí e Timor Leste - Segundo rumores que ouvi após a independência, a extensão territorial de Timor é mais ou menos equivalente à do Alentejo. Depois de ver as deliciosas imagens daquele país remoto numa conhecida revista de viagens, o apetite ficou ainda mais aguçado.
  • Teerão (Irão) - As imagens de Abbas Kiarostami revelaram pequenos fragmentos de uma capital que parece ter tanto de tristeza como de fascinante melancolia.
  • Barrow (E.U.A.) - Apenas por ser a localidade mais a norte do Estado do Alasca. Chris Nolan e Al Pacino tiveram influência neste destino em potência (Insomnia). Aqui a noite não chega. Pena o sol não espreitar com a regularidade desejada.
  • Ouagadougou (Burkina-Faso) - Esta a acontecer será com o amigo Guru. Não há mar, mas há fronteiras com: Mali, Togo, Níger, Benim, Gana e Costa do Marfim. Ah, e estamos "dentro" de África.
  • Porto Alegre (Brasil) - O estado brasileiro de Rio Grande do Sul está deslocado dos olhares massificados dos turistas que vão à procura de sol, praia, samba e outras virtudes paradísiacas no maior país sul-americano. Esmiuçando o olhar sobre São Paulo até à fronteira com o Uruguai, passando por Porto Alegre, talvez se vislumbre o porquê de o Brasil estar actualmente entre as 10 maiores economias do mundo.
  • Monsaraz (Portugal) - Pensam vocês: "Olha o espertinho que é tão viajado e nem sequer conhece uma das mais importantes aldeias históricas do país". Pois é, mas as melhores fatias do bolo devem ser saboreadas mais delicada e intensamente, e Monsaraz terá esse privilégio em breve... muito em breve mesmo.
As luzes do artíficio em Manchester

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Três razões para Viggo Mortensen ter ganho o Oscar que não ganhou

Cá para mim ganhava o Viggo Mortensen:
  1. Promessas Perigosas foi o único filme que vi de todos os nomeados e isso para mim já seria argumento mais que suficiente para que Viggo ganhasse a estatueta.
  2. Era o único actor nomeado com um nome "exótico" e tendo em conta que os E.U.A. estão prestes a eleger o primeiro presidente "exótico" da sua míngua história, ficaria bem à academia seguir os trâmites da moda política do seu país.
  3. Vejam a sequência da sauna em Promesssas Perigosas e perguntem-se se seriam capazes de aguentar tanta facada num ambiente tão austero.
E não; Não vou entrar pelo argumento Senhor dos Anéis.

Fica para uma próxima.

sábado, fevereiro 23, 2008

Palpitações Mundanas



A cidade sombria acolhe-me debaixo de um tecto salpicado de pequenas luzes, reminiscências de felizes memórias passadas.
Hoje palpito aqui, sózinho, melancólico e feliz, como se estivesse banhado por águas claras e límpidas de uma enseada caribenha.
Jonquil por agora. El Guincho mais tarde.
O tempo não se esgota numa linha. O espaço é mundano. A encruzilhada é inesgotável. O que farei é apenas uma das possibilidades...


sábado, fevereiro 09, 2008

Toda a gente quer uma...

Quando a digestão do Natal e do Ano Novo é interrompida abruptamente por um Carnaval entre o radioso e o cinzento, o melhor mesmo é "limparmos" os tímpanos das cabeleiras do Zézé e das Cachaças que pensam que são Água:

  • Shady Lane - Pavement (Brighten the Corners, 1997)
  • Complete or Completing - Annuals (Be He Me, 2006)
  • Dead Sound - The Raveonnetes (Lust, Lust, Lust, 2008)
  • Souvenir - Neil Finn (Try Whistling This, 1998)
  • All That Stars - Obi (The Magic Land of Radio, 2002)

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Alteza Épica


Os alternativos também têm épicos. E que bem que fica a finalizar um disco injustamente desprezado. Foi cartão de visita da Hora do Lobo de António Sérgio no início da década, quando a música era ainda o bálsamo dos devotos...

"Gene Clark"

When the circle finally formed you called me up
the only one making a sound
I can't work out what I want to see
I bury my thoughts in the ground
All the seeds you sow
are just looking for a space to grow

So sleep, sleep and lay your white body down
So sleep, sleep and lay your white body down

No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday
No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday
No matter what you do it all returns to you
No matter what you say you'll hear it all someday

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Delícias de Maio



Maio é o "MÊS". Maio é a compilação daquilo que deveria ser um ano "à maneira". Tempo ameno, dias longos, passeatas campestres, audições resguardadas... Se pudesse trazer um mês no bolso seria Maio.
Este ano, ainda a quatro meses de distância do dito, há já duas surpresas a espreitar: o Gaspar irá nascer na ronda de 23. A ansiedade aumenta.
Noutro território os Animal Collective regressam a Portugal para duas actuações: 28 no Teathro Circo em Braga e 29 no Lux em Lisboa. Na manga virá Strawberry Jam, o disco que os fez entrar definitivamente no filão da pop da melhor estirpe da última década. Espero ainda melhor que em Coimbra há quase três anos (isto se o Gaspar me deixar ir ver).
Boa nova (não necessariamente de Maio): ...do Guru! continua empenhado no projecto que deu que falar nas Caldas da Rainha e arredores entre 2004 e 2006. O line-up é novo e algumas canções também. Álbum em 2008? Espreitem www.doguru.blogspot.com

E agora esperemos por Maio... e pelo resto do ano...

sábado, janeiro 19, 2008

O Novo Mundo

1998. Acordo ébrio ao sabor de um piano subtil que me acaricia a alma. Tenho quatro novos amigos que insistem em fazer boa música. Confesso, era uma nova experiência para mim. Um rapaz de vinte anos, habituado aos devaneios dos Pixies e dos Jesus and Mary Chain, agora confrontado com a boa música popular portuguesa. Fausto, Sérgio Godinho, Sétima Legião, Trovante entre outros. Ao mesmo tempo, havia reminiscências dos Divine Comedy. Acordava sem tempo definido. Ele próprio se encarregava de me embalar pelos pequenos prazeres de uma estadia que parecia não ter fim.

Durante um pequeno período da manhã ensaiavamos cordialmente. Depois partíamos no velho jipe verde descapotável rumo à praia mais próxima (normalmente Tocha ou Mira). Comíamos uns carapaus assados com batatinha assada acompanhados por um tintinho carrascão da Bairrada.

Tudo era novidade para mim .

Passeios pela Figueira, pequenas diatribes pelas termas da Cúria, devaneios pela Mata do Buçaco e aventuras no trajecto entre Quiaos e Murtede .

O pequeno músico que hoje trago comigo consolidou-se naquele palacete de paredes encardidas pelo rotação do universo. Aquele Universo ilusoriamente tangível...

Fará em Agosto dez anos. Dez anos de um caminho que teimo em percorrer olhando para o segundo que sucede logo depois deste ponto final.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Macacos do Chinês - Quebrar o Galho no Lux


Um projecto musical é como uma receita culinária: se a combinação dos ingredientes resultar o prato é um sucesso, se não é um fracasso. Mas a comparação não fica por aqui, porque mesmo que os ingredientes sejam os melhores existe sempre a possibilidade de não se acertar no doseamento correcto de cada um deles de forma a que o prato seja melhor que a soma dos ingredientes.
Quinta-Feira, 10 de Janeiro, piso térreo, ou como prefiro chamar-lhe, "Zona Ribeirinha do Lux". Os dois pratos a apresentar chamam-se Macacos do Chinês e Buraka Som Sistema em formato Dj Set. Kalaf é o anfitrião da festa numa iniciativa da Enchufada (editora dos Buraka e agora também dos Macacos).
Chego mesmo no início do concerto e já se sentem boas vibrações no ar. Parece que o refogado está a ficar bem apurado.
Os dois primeiros Macacos (Apache e Tiago Morna) saltam para o palco criando uma interessante introdução percurtiva, mas a maior ovação chega com a entrada da restante equipa: os MC's Miguel Pité e EspectroCliché, Al:x (Cooltrain Crew) na guitarra eléctrica e Tiago Morna na guitarra portuguesa.
Depois de bem apurado, o refogado é guarnecido com ingredientes apetitosos, apimentados e por vezes rebeldes. Pité mostra um flow desavergonhado em temas como Plutão (o novo single) e Déjà-Vu. Chegam a lembrar uns Massive Attack mais dançáveis quando Al:x ataca a guitarra eléctrica com um à vontade desarmante. Há hip-hop, música popular portuguesa, rock q.b. e o propalado grime, importado do Reino Unido, via Macacos do Chinês.
Depois o cozinhado prossegue com a guitarra portuguesa de Morna aliada a beats frenéticos num caldeirão eclético que aterra no solo de Cabo-Verde, Angola e Moçambique, para de repente levantar voo, fazer escala em Bristol e voltar ao destino português, num vão de escada de Alfama ou no grupo cultural e recreativo de Ponte da Barca.
EspectroCliché vai ganhando confiança a partir de "Cliché", um tema de sua autoria devidamente adaptado para o espectáculo dos Macacos e, até ao final a dupla mostra-se imparável no flow, nas rimas e especialmente na cumplicidade em palco.
Apache passa dos samples para o baixo e deste para a percussão com uma versatilidade invejável num projecto em rampa de lançamento (o disco de estreia parece estar para breve).
O Lux dividido por pilares de fumo teve porventura o privilégio de ouvir pela primeira vez - e provavelmente pela última - o Vira de Frielas num apontamento revelador do espírito festivo dos Macacos.
O prato sonoro foi tão apetitoso que a sobremesa servida pelo Dj Set dos Buraka Som Sistema teve de ser consumida de forma comedida.

Macacos do Chinês, numa ementa perto de si...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Tempo: Equilíbrio, Ângulos Retorcidos e também umas palavras sobre a melhor série do momento



Dexter é a série que acompanho agora com a regularidade que o tempo me permite.
O significado do tempo é, no universo da linguagem, uma construção da ordem da significação ambígua. Aliás, o tempo tem sido alvo de inefáveis construções literárias e portentosos estudos académicos no âmbito das mais variadas áreas científicas.
Na arte, o tempo aparece como elemento catalisador entre a criação e a observação. Nada se concebe sem a mediação do tempo e nada se observa sem o consentimento deste. E quando a própria obra é uma reflexão sobre o tempo mais poder es
te ganha. É o Meta-Tempo que entra em cena e nos confunde por não sabermos que estamos a lidar com uma outra dimensão do termo concreto.
No cinema, por exemplo, o paradigma do tempo é abordado sob diversos olhares. Lembrei-me de dois: Lynch e Tarkovsky.
Lynch enche-nos a alma com encruzilhadas ímpares de sequências narrativas onde parece imperar a ditadura do não linear. Acima de tudo são experiências visuais em que o tempo sofre taquicardias constantes: ora é sugado para o limiar da loucura numa auto-estrada a 200 km/h, ora abranda em ruelas de sentido obrigatório com limite de velocidade reduzido (vide Estrada Perdida ou Mulholhad Drive). Com Tarkovsky o tempo é tratado de forma clássica, com as respirações e os compassos exactos. Para Tarkovsky o tempo é a personagem principal da narrativa, e aqui podemos incluír a dor e o desespero. Sofremos a agrura (elogio) de atrevessar um túnel de meia-dúzia de metros em aproximadamente cinco minutos de fita. Esculpir o Tempo? Sim, é esse o título de um dos seus livros. Comprovem com Stalker ou o Espelho. Se Lynch o resguarda, Tarkovski expõe-no. Mas isto são apenas dois exemplos.


Agora Dexter, que vive num diferencial que o põe em dois planos: Tempo de Matar e Tempo de Viver. A rotina, o trabalho, a relação, o prazer. E neste círculo voltamos sempre ao início. Como no Mito do Eterno Retorno. Já dizia o poeta: "Atrás dos Tempos vêm Tempos"..........