sexta-feira, abril 11, 2008

A Fábula do Filósofo de Estado e outras Curiosas Assunções

Confesso. A preguiça mental apoderou-se de mim com uma fé letal. Já não deixo a mente surumbar durante horas a fio como era costume nos tempos em que era um funcionário de uma gigantesca cadeia de distribuição, confiscadora de membros superiores e inferiores mas não de mentes, de ideias, de utopias construídas a fio em recantos, por vezes frios e distantes, por vezes quentes caóticos e fascinantes.


Vivemos no Estado da Taxa e do Tacho. Podem suceder-se os governos, as pastas, os ministérios e toda a panóplia vocabular inerente, que os desgovernados continuarão a ser os mesmos, aqueles que, sem tugir nem mugir, continuam a pagar o imposto sobre o rendimento, as taxas moderadoras na saúde, o imposto automóvel, o imposto imobiliário, o imposto de valor acrescentado, as portagens, os parquímetros. Fujamos para Espanha meus amigos. Eu quero três Zapateros, porque nem do filósofo de 0,05 € quero falar. Porque antes do filófoso já outros famosos por cá andaram e a parca diligência foi idêntica: pobre na teoria, nos conteúdos e sobretudo uma nulidade na prática. Porque de reformas na saúde, e no ensino oiço eu falar desde que zaragateava com os pequenos inimigos dos 8 anos. Já lá vão 22. Continua a espera no corredor das urgências enquanto alguns senhores comentam as almoçaradas de fim-de-semana. O que vale é que passado algum tempo temos em casa um envelope com um documento discriminativo de todo o tratamento efectuado e... O RESPECTIVO VALOR A PAGAR, CARO UTENTE, QUE NOS OCUPOU UMA PRECIOSA MACA PROVIDA DE BACTÉRIAS E OUTRAS MAIS VALIAS PARA A SALVAÇÂO DA SUA VIDA. Enfim... Bem, mas o que me vale aqui no nosso cantinho à beira mar plantado são as vias rodoviárias, esse primor da engenharia civil portuguesa. Existe um apreço tão grande aos nossos eixos viários que é comum ver operários zelosos em obras constantes aqui e acolá, tanto nas Auto-Estradas (quem me dera poder chamá-las de Auto Vias), como nas Estradas Nacionais (suspiro... pela Red de Carreteras del Estado). Ponho-me a pensar: ora aí está, é para isto que eu pago 3,50 € de portagem entre o Cartaxo e as Caldas. Tenho ondinhas, má impermeabilização do tapete, mas tenho pessoal que zela pelas estradas, colocando, por vezes aqueles pins com listas brancas e laranja na divisão das faixas de rodagem. Maravilhoso. Diria mais: ESPECTACULAR. Adoro os 3 semáforos de obras na Nacional 3, que me fazem esperar o mesmo tempo que demoraria a percorrer, em circunstâncias (a)normais, os cerca de 12 km que separam o Cartaxo de Santarém. Mas reflectindo chego lá. O filósofo deve ter lido o preâmbulo, ou o epílogo, do livro S. Judas de Iscariotes de Fátima Pinto Ferreira que diz o seguinte: "Mas o tempo, que tanto nos aflige porque andamos sempre a dizer que "não temos tempo", não existe, não há. Nós é que, com a pretensão a tudo controlar, inventámos forma de o espartilhar."
Não fosses tu um culto Homem e o que seria da nossa vida. Disfrutai o sabor da rotação terrestre.

Eu percebo tudo. Vivemos num Estado democrático, plural onde a igualdade de oportunidades é um direito adquirido por todos. Podem dizê-lo aos filhos, sobrinhos, e afilhados dos Srs. Ministros e Secretários de Estado. Esses coitados têm pluralidade a menos. São obrigados pelos seus parentes a exercer cargos para os quais muitas vezes não têm competência nenhuma. E atenção se fôr falar dos amigos e dos compadres então, uuuiiiii. Sou impelido a afirmar que temos uma fatia considerável da população portuguesa que anda no limbo da democracia. Esses pobres coitados que são obrigados a viver à conta dos tachos. Só com um tacho ninguém se aguenta. É por isso natural que os acima mencionados Ministros e afins de Ministro tenham de arranjar um segundo e até um terceiro tacho para os familiares e amigos. Afinal de contas temos de ser uns para os outros. O que vale é que, como diz um grande amigo meu, toda a gente anda na ordem que a tropa manda, e o sr. Amâncio Jesus de Freixo-de-Espada-a-Cinta não quer saber senão do seu Benfica, da sua mini na tasca do Chico Zé e do quinhão de pão à mesa logo depois da jorna.

Bendito Fim-de-Semana. Ébrio Sábado. Mesquinho Domingo...

Enfim... É a vida...

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