2008 percorre aceleradamente os últimos kilómetros. O saber popular diz que, até ao lavar dos cestos é vindíma. O mesmo será dizer que um projecto só termina quando todas as etapas do mesmo estão concluídas. Acontece, por vezes, que, antes da vindíma propriamente dita existem vários factores externos que podem determinar a qualidade da colheita de um ano: a qualidade e a característica do solo, o clima, o tratamento da vinha, as pragas... resumindo: uma série de variáveis mais ou menos constantes que condicionam a qualidade do produto final.
A pequena introdução em forma de palestra agrícola (qual Borda d' Água antecipado) serve para justificar o artigo que guardei para o melhor disco de 2008, apesar de faltarem percorrer os acima citados poucos kilómetros para o final, ou, se preferirem, alguns lagares e cestos para lavar. O mesmo é dizer que até ao final e com a quadra natalícia pelo meio, ainda existem porventura alguns coelhos a sair da cartola. No entanto, e até ao final dificilmente deverá aparecer no mercado discográfico um album que satisfaça tanto o meu apetite auditivo como o 2º capítulo da carreira dos Torche, de seu nome Meanderthal.
Vamos ao que interessa. Meanderthal é um disco de rock, de rock pesado visceral. Nos guias musicais on-line e nas rádios virtuais é catalogado de Sludge Rock, Stoner Rock ou simplesmente Heavy Metal. Acontece que não sou um especial admirador de sonoridades mais pesadas. Chego ali aos Queens of the Stone Age, aos Kyuss, aos Killing Joke (colheita pós-94) e depois o resto são as clássicas: Black Sabbath, Led Zeppellin, AC/DC. Obviamente que vou buscando uns resquícios aqui e acolá de uma ou outra banda de paisagens sonoras mais pesadotas, mas a verdade é que nunca um disco no espectro musical que incluísse a palavra metal me encheu tanto as medidas como este Meanderthal (Killing Joke, homónimo da banda com o mesmo nome andou lá perto em 2003).
Os Torche não escapam aos rótulos como acima especifiquei, mas são inteligentes ao ponto de se tornarem imunes a eles. Isto porque apesar do engavetamento, a banda tem uma personalidade musical que transcende todos os géneros que lhes queiram impôr. Se a abertura com "Triumph of Venus" é uma ode progressiva a explodir em compassos arrítimicos e riffs de guitarra virtuosos, já o single "Grenades" é a canção pop mais pesada que ouvi nos últimos anos. Depois o disco continua apressadamente com cançãos que vão jingando entre alguns ritmos acelerados e outros mais arrastados. "Piranha" faz o cruzamento perfeito entre o punk mais pesado e arrastado dos Fu Manchu, com a herança stoner, via Black Sabbath. Tudo isto sem floreados. Canções entre os dois e os três minutos e meio, exceptuando as duas últimas, "Fat Waves" (a minha preferida), num exemplo perfeito de rock progressivo, no sentido mais estrito do termo, segue uma linha sonora sequencial, em que o todo é a soma perfeita de várias partes, vários pedaços sonoros que desafiam as nossas sensações auditivas, e que portanto só fazem sentido imersas nesse bolo sonoro que lhes segura as entranhas.
Meanderthal não vive de momentos esparsos, mas sim de um bloco sólido de canções que augura tudo o que de elogioso acima referi.
Nasce progressivo e eclético e termina circular com a faixa título "Meanderthal", em registo drone.
São treze canções - trinta e seis minutos e dezanove segundos - que chegam e sobram para considerar este o disco do ano ainda antes de Jesus Cristo apagar as 2008 velinhas.
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