segunda-feira, janeiro 14, 2008

Macacos do Chinês - Quebrar o Galho no Lux


Um projecto musical é como uma receita culinária: se a combinação dos ingredientes resultar o prato é um sucesso, se não é um fracasso. Mas a comparação não fica por aqui, porque mesmo que os ingredientes sejam os melhores existe sempre a possibilidade de não se acertar no doseamento correcto de cada um deles de forma a que o prato seja melhor que a soma dos ingredientes.
Quinta-Feira, 10 de Janeiro, piso térreo, ou como prefiro chamar-lhe, "Zona Ribeirinha do Lux". Os dois pratos a apresentar chamam-se Macacos do Chinês e Buraka Som Sistema em formato Dj Set. Kalaf é o anfitrião da festa numa iniciativa da Enchufada (editora dos Buraka e agora também dos Macacos).
Chego mesmo no início do concerto e já se sentem boas vibrações no ar. Parece que o refogado está a ficar bem apurado.
Os dois primeiros Macacos (Apache e Tiago Morna) saltam para o palco criando uma interessante introdução percurtiva, mas a maior ovação chega com a entrada da restante equipa: os MC's Miguel Pité e EspectroCliché, Al:x (Cooltrain Crew) na guitarra eléctrica e Tiago Morna na guitarra portuguesa.
Depois de bem apurado, o refogado é guarnecido com ingredientes apetitosos, apimentados e por vezes rebeldes. Pité mostra um flow desavergonhado em temas como Plutão (o novo single) e Déjà-Vu. Chegam a lembrar uns Massive Attack mais dançáveis quando Al:x ataca a guitarra eléctrica com um à vontade desarmante. Há hip-hop, música popular portuguesa, rock q.b. e o propalado grime, importado do Reino Unido, via Macacos do Chinês.
Depois o cozinhado prossegue com a guitarra portuguesa de Morna aliada a beats frenéticos num caldeirão eclético que aterra no solo de Cabo-Verde, Angola e Moçambique, para de repente levantar voo, fazer escala em Bristol e voltar ao destino português, num vão de escada de Alfama ou no grupo cultural e recreativo de Ponte da Barca.
EspectroCliché vai ganhando confiança a partir de "Cliché", um tema de sua autoria devidamente adaptado para o espectáculo dos Macacos e, até ao final a dupla mostra-se imparável no flow, nas rimas e especialmente na cumplicidade em palco.
Apache passa dos samples para o baixo e deste para a percussão com uma versatilidade invejável num projecto em rampa de lançamento (o disco de estreia parece estar para breve).
O Lux dividido por pilares de fumo teve porventura o privilégio de ouvir pela primeira vez - e provavelmente pela última - o Vira de Frielas num apontamento revelador do espírito festivo dos Macacos.
O prato sonoro foi tão apetitoso que a sobremesa servida pelo Dj Set dos Buraka Som Sistema teve de ser consumida de forma comedida.

Macacos do Chinês, numa ementa perto de si...

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