terça-feira, agosto 01, 2006

PÓS DE GRUNGE OU O APARECIMENTO DO "NERD ROCK"?


Em 1994 o meio musical norte-americano vivia a ressaca "pós-grunge".
O movimento "grunge", enquanto fenómeno criado pela imprensa musical para designar o som sujo e cru de algumas bandas emergentes no início dos anos 90, conhece grande fulgor durante cerca de três anos: entre 1991 e 1994.
Kurt Cobain suicida-se a 7 de Abril de 1994 e houve quem declarasse que com ele levou todo o espírito do movimento.

Com o lançamento de Vitalogy os Pearl Jam distanciam-se dos dois albuns anteriores: "Versus" e "Ten" e assumem definitivamente que pretendem construir uma carreira sólida, não refreada pelo sucesso desses dois primeiros discos.

Os Stone Temple Pilots tentavam demarcar-se do movimento e das constantes comparações com a banda de Eddie Vedder.

Os Soundgarden dão o seu último suspiro dois anos mais tarde com "Down on the Upside".

O legado grunge é deixado a bandas pré-fabricadas. Os Creed são o exemplo maior, mas os 3 Doors Down também lá estão.

A indústria musical precisa de nova injecção. Todos anseiam por novos ídolos, por novos hinos. Torna-se premente a urgência de um “Smells like Teen Spirit” para os meados de 90.
O hino não voltou a aparecer, mas o fenómeno sim. Chamaram-lhe "nu-metal" e teve à cabeça os Korn, os Limp Biskit e os Deftones.

Mas recuemos a 1994.
Sol, Califórnia. Quatro amigos lançam o disco de estreia depois de terem começado a tocar em 1992 impelidos pelo espírito grunge e pelo rock dos 80. Os quatro amigos chamam-se Weezer e o disco é homónimo mas ficou conhecido na história do rock como “Blue Álbum” (a capa apresenta os quatro amigos sobre um fundo azul).
Rivers Cuomo é o frontman e principal compositor. Matt Sharp é o excêntrico baixista.
Rivers é um jovem socialmente rejeitado. Baixote, atarracado e com um ar muito pouco “groovy”, Rivers era o estereotipo do “nerd” americano. Com óculos de massa gigantes, tímido e constantemente gozado pelos colegas de escola, Rivers só tem uma opção para revirar o seu amaldiçoado “status” social: comprar uma guitarra, formar uma banda e compor canções simples, sarcásticas, e denunciadoras de uma personalidade frágil e introvertida.
“Blue Álbum” é o álbum charneira daqueles que, órfãos de sangue novo depois do "hype" "grunge" procuraram rumos alternativos aos clichés do "pós-grunge" e do "nu-metal". É também um disco peculiar, porque tendo sido editado numa altura tão ávida de novidades e de frescura, imiscuiu-se de várias influências para originar um “bolo” coeso, simples e original. Se lá estão os Nirvana também lá encontramos os Pixies, os Beach Boys ou até os Kiss e os Cars – Rick Ocasek, mentor destes últimos foi o produtor do disco.
“I play my stupid songs, I write this stupid words, and I love everyone”, canta Rivers com a inocência imberbe de quem vê um sonho realizado. O sonho é ser uma estrela de rock, é vingar-se dos traumas da juventude com sarcasmo: “If you want to destroy my sweater pull this thread as I walk away”, no melhor tema do disco – "Undone–The Sweater Song".
"Buddy Holly" transforma o ouvinte num teenager à procura do primeiro beijo no baile de finalistas do 12º ano (reportemo-nos à realidade portuguesa).
"Surf Wax America" transporta-nos para onde quisermos numa onda gigante: “You´ll take your car, I´ll take my board…”.
"Say ain`t So" balança ao ritmo de um passeio pelos grandes passeios de uma avenida marginal de Los Angeles. A influência chegou aos Deftones que fez uma cover deste tema, como também de "El Scorcho", tema editado no album seguinte, "Pinkerton".

Rivers, o mundo mudou mas não te deixou para trás. Para o bem e para o mal.



Weezer – The Blue Album (1994)

Rivers Cuomo
– Voz e Guitarra
Brian Bell – Guitarra e Voz
Matt Sharp – Baixo e Voz
Patrick Wilson – Bateria
Rick Ocasek – Produção

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e