Escrevi uma frase. Uma daquelas frases que nunca devem ser escritas.
A sua essência era pura, mas a razão da sua existência era nula. As letras permaneceram visíveis... algum tempo.
Certo dia apercebi-me que essa frase pura, escrita num caderno aberto em frente aos meus olhos, deixara de fazer sentido. Tinha de apagá-la.
Lentamente peguei na borracha e apaguei letra a letra cada uma das palavras. A frase desaparecia lenta e harmoniosamente.
Sentimos a cumplicidade dos primeiros tempos.
Preparava-me para fechar o caderno quando de repente, como um raio fulminante o caderno aberto vê acercar-se dele uma nova frase proibida. Olhei as minhas mãos, agora inocentes.
A frase grotesca tinha um ponto final.
4 comentários:
Ah, nem Steinbeck ou Hemingway o teriam escrito melhor!
Também não exageremos, no entanto é sempre bom expressarmos as emoções, não é anonymous?
Revela-te e caminha...
Destruiste assim uma frase proibida que por isso, se tornava urgente. Se a apagaste, foi por nunca a teres concluido. Ao pensardes nela como "inutil" e grotesca, as palavras em espelho se compunham, com o medo da língua, das letras e do que da sua união brotava. Quantas montanhas poderá mover uma simples vírgula... Neste caso nunca saberemos a não ser que restem os pedaços da "cinza" do fósforo que foi um lápis, confundidos pelo tempo ou as impressões mecânicas do gesto que sobre a folha actua. A mesma mão que escreve é a mesma que destroi ou que da outra se torna cumplice por deixar... TRAIÇÃO é o sentimento patente desses "inocentes" gestos que, tentando apagar memórias imortalizadas em folhas, tremem em seus riscos. EUTANÁSIA LÍNGUISTICA: aquilo em que quero acreditar, pois deveremos prolongar o sofrimento das palvras que vivem numa frase descontextualizada?!
Queriria apenas dizer, e obrigado pela oportunidade, que considero e aceito que tenha levado AVANTE esse seu belo e corajoso gesto se, tudo quanto foi escrito e feito, tenha sidounica e exclusivamente com a força e acção da maravilhosa mão esquerda! Abençoados os canhotos de outrora, julgados hereges e seres demoníacos.
Obrigado.
Anonymous de Sousa
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