segunda-feira, outubro 30, 2006

Cinco Castanhas para o S. Martinho

Aqui ficam cinco castanhinhas para acompanhar com uma boa jeropiga ou água-pé durante os primeiros dias de Novembro:



  • The Certainty of Chance - The Divine Comedy (Fin de Síècle, 1998)
  • 23 minutes in Brussels - Luna (Penthouse, 1995)
  • Mad as Snow - Kitchens of Distinction (The Deatho of Cool, 1992)
  • St. Rosa and the Swallows - The Thermals (The, body, the blood, the machine, 2006)
  • Come on - The Jesus and Mary Chain (Stoned and Dethroned, 1994)

Kitchens of Distinction

domingo, outubro 29, 2006

Camera Obscura, Teatro Académico Gil Vicente – Coimbra, 26 de Outubro de 2006




22 Horas. O Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra está totalmente cheio, pronto a receber os convidados especiais da noite, a pretexto da apresentação da nova grelha de programação da RUC (Rádio Universidade de Coimbra).
Chamam-se Camera Obscura, são escoceses e esta é a única actuação na sua passagem por Portugal.
Cinco minutos depois (de muita publicidade) abrem-se as cortinas e surgem seis músicos prontos a adocicar-nos as almas com pequeninos bombons pop, country e folk.
Mais uma vez a comprovação de que da fria terra escocesa brotam talentos capazes de aquecer os corpos mais tímidos e envergonhados em terras lusitanas.

Tracyanne Campbell é a anfitriã, tal como Stuart Murdoch o havia sido no concerto dos conterrâneos e padrinhos Belle and Sebastian no concerto do Coliseu dos Recreios no passado dia 17 de Julho (comparação inevitável).
O começo é morno, mas ao terceiro tema, “Tears for Affairs”, surge a primeira grande ovação para um convidado muito especial, Francis MacDonald, baterista dos amigos Teenage Fanclub. Tracyanne explica que Francis e a sua namorada acabaram de ter um filho, mas ele ali está, sorridente, pronto a dar uma ajuda nas percussões. É disto que se faz uma banda pop ao vivo. Das pequenas subtilezas, das coisas simples e delicadas e do sentimento de irmandade que emana do palco.

“Lloyd, I´m ready to be heartbroken” arranca alguns dos presentes para a frente do palco, quando Tracyanne já o havia sugerido momentos antes: “…to dance a little, maybe…”.
“Let`s get out of this country”, tema título do super elogiado ultimo disco da banda recebe rasgados aplausos.

Tracyanne convida-nos a beber um vinho do Porto, enquanto o guitarrista diz estar muito contente por estar a ser tão bem recebido na sua primeira visita a Portugal.
Francis vai entrando e saindo do palco, tocando em pedacinhos de temas, coadjuvando o baterista…

“Teenager” é um dos momentos mais bonitos do concerto… Curto infelizmente. 45 Minutos e os músicos saem do palco depois de tocarem o magistral “Razzle Dazzle Rose”. Voltam para um pequeno encore de 15 minutos onde incluiram “Suspended from Class” do seu segundo album, “Underachievers please try harder”. O público aplaude de pé, mas as cortinas fecham-se.
Os Camera Obscura deixa-nos ficar com muita água na boca na gestão do tempo/música que fizeram do seu espectáculo, como se aquele fecho de cortinas fosse apenas um “até breve… temos ainda muito para vos dar”.
Talvez tenha sido mero capricho do acaso, mas o dia seguinte raiou com um saudoso sol outonal. É caso para dizer que, com os Camera Obscura o Verão de S. Martinho chegou mais cedo.
Viessem os Teenage Fanclub até final do ano, e 2006 seria o ano perfeito em campos verdejantes salpicados por pequenas centelhas alaranjadas.

segunda-feira, outubro 23, 2006

DocLisboa 2006

A verdade é que o evento já começou, mas nunca é tarde para relembrar que a edição 2006 do DocLisboa está a decorrer na Culturgest (edifício sede da Caixa Geral de Depósitos),desde o passado dia 20 até ao próximo Domingo, dia 29.

Informações detalhadas em: http://www.doclisboa.org/

sexta-feira, outubro 20, 2006

Jesus "reeditados"


A propósito da reedição da discografia dos Jesus and Mary Chain algumas linhas se têm escrito muito recentemente nas páginas dos meios de comunicação social impressa especializados.
Este facto só vem acentuar a importância e a influência da banda durante a segunda metade dos anos 80 e o início dos anos 90 (sim, "Loveless" dos My Bloody Valentine nasce dos escombros de "Psychocandy").
Ontem li num livro de "Contos Apátridas" uma frase que dizia algo do género: o que tentamos esquecer é o que mais dificilmente conseguimos esquecer. Nesta simples aferição se aplica o que me apraz dizer sobre o que foi comentado sobre a supracitada reedição de quase toda a discografia dos Mary Chain.
Ponto 1 - Há um disco chamado "Psychocandy" que ninguém quer esquecer. As razões óbvias são por demais conhecidas: foi uma pedrada no charco num meio musical pejado e obeso de "beats" hiperbólicos da desgastada "New Wave". Torrentes de feedback ao lado de melodias "à la" Beach Boys, as vozes profundas dos irmãos Reid, a bateria primária e grostesca de Bobbie Gillespie fizeram do disco um marco na história da música pop.
Ponto 2 - Depois de "Psychocandy" e com uma distância temporal de 8 anos desde a edição do último disco ("Munki" de 1998) e posterior dissolução da banda, existe toda uma discografia (4 discos reeditados à excepção do último), que alguns pretendem esquecer mas não conseguem.
Urge a questão: o que fazer depois de "Psychocandy"? A resposta foi fácil e surgiu na forma de um disco chamado "Darklands".
Em "Darklands" a muralha sonora de distorção e feedback foi praticamente abolida (excepção para "Fall"), para deixar despidas as melodias melancólicas que marcam transversalmente todo o disco.
O baixo e a bateria passam a ser programados e é aí que reside o único defeito do disco. Onde "Psychocandy" é agreste e orgânico, "Darklands" é apenas cumpridor, característica que acabou também por passar para o seu sucessor, "Automatic".
"Automatic" é para muitos o patinho feio da discografia dos Mary Chain, mas se pensarmos bem é a sequência natural de "Darklands". Repetem-se na diferença. Estão lá de novo os 3 ou 4 acordes básicos, os "riffs" gordos, mas desta vez a estética volta a mudar: Rock directo, a roçar o FM - "Head On" comprova-o.
Novo hiato e em 1992 regressam com "Honey´s Dead", numa tentativa de exorcismo aos fantasmas da crítica que quase arrasou "Automatic".
"Honey`s Dead" é a primeira parte de uma tentativa de súmula da carreira da banda. É um disco semi-híbrido que tenta conciliar estilhaços punk ("Reverence") com canções delicadas ("Almost Gold").
Dois anos depois sai o último disco desta reedição e o penúltimo da banda: "Stoned and Dethroned". Dez anos depois de "Psychocandy", os Mary Chain fazem nova revolução sonora... maneirinha. Mais uma vez conseguem sair da encruzilhada e encontrar um caminho por desbravar na sua carreira. A história repete-se... em formato (quase) acústico, numa pradaria texana, com a as colaborações de Hope Sandoval (Mazzy Star) e Shane MacGoawn (The Pogues) e tudo faz sentido. 10 anos e a curva faz 180º.
"Munki" que não está incluído no lote da reedição, é a segunda teentativa de resumo de carreira. Denunciada em faixas como "Birthday" no recurso à batida de "Just like honey" (primeira faixa de "Psychocandy"). Este sim, é um verdadeiro híbrido. Está lá a recolha de alguns pedacinhos deixados por terra em cada um dos discos. Ouço "Psychocandy", "Stoned and Dethroned" ou "Automatic", naquilo que acaba por ser o seu pecado maior: a falta de coerência e consistência que os seus antecessores não revelavam.
Contudo, o canto do cisne não é disco desprezível e fica bem ao lado das reedições agora apresentadas.
Nesta perspectiva e caindo no facilitismo de classificar e engavetar tudo o que é produção musical, a crítica sempre tendeu a subvalorizar a discografia pós "Psychocandy", caindo no erro - no meu entender - de não perceber que a qualidade de um disco não se mede pela sua relação de proximidade com outro, mas sim pelos ingredientes que contém, de não perceber também que as circunstâncias da germinação de qualquer um dos discos seguintes foram substancialmente diferentes daquelas que elevaram "Psychocandy".
Obra essencial, "Psychocandy" é o cérerbro neurótico da sua carreira, "Darklands" e "Stoned and Dethroned" são o coração, "Automatic" é o estômago, "Honey´s Dead" e "Munki" são os membros.
Metaforizei, mas não engavetei. Façam o vosso juízo se escutarem cada um dos discos, mas desde já vos digo que não deverá ser nada fácil esquecer a falta dos pés ou das mãos...

sexta-feira, outubro 13, 2006

O "crooner" solitário



Uma terna noite de Inverno. “Cole`s Corner”, o mais recente de Richard Hawley sai voluptuosamente das colunas da aparelhagem em arranjos belos, doces e quentes.
Esqueço o frio Invernal e embrenho-me nas canções de Hawley. Sou transportado pela sua suave melancolia.

Deambulo pelas ruas de uma grande cidade. De repente ouço ao longe uma voz grave e delicada, acompanhada por acordes que saem de uma guitarra subtilmente acariciada. Persigo essa misteriosa elegia sonora. À medida que me vou aproximando vão surgindo novos sons, arranjos mais complexos. Ouço violinos e teclados harmoniosos. Agiganta-se a curiosidade
Entro numa viela pouco movimentada. O som grandiloquente que ouvira à pouco vai baixando de intensidade, e, ao virar a esquina para uma pacata avenida deparo-me com um senhor de meia idade, óculos de massa e uma guitarra a tira colo. Fico a contemplá-lo por uns instantes. O senhor volta a usar a sua voz grave, acompanhada pelos sublimes arranjos de há pouco. Arrepio-me.

“I´m going downtown where there`s people…”, canta ele ignorando a minha presença. Depois, “here in my arms”, sustendo a respiração, esperando a atenção de uma bonita rapariga que passa ao nosso lado. De simples mirone passo a espectador atento. Durante cerca de três quartos de hora sou embalado pelas suas melodias e vejo, enfim, que ele me olha e esboça um sorriso de apreço pela minha atenção. Sou o seu cúmplice, o companheiro de uma noite - entre muitas - passadas numa solene solidão.
Depois de esgotar o reportório, confessa-me que tem mais para me mostrar numa outra ocasião. Por agora pergunta-me apenas se quero ir com ele até à baixa sentir o ambiente, ver pessoas…

quinta-feira, outubro 12, 2006

De novo... O "nerd rock"

Quando penso no "nerd rock" lembro-me do carácter pueril da sua estética, musical, lírica e visual.
Musicalmente o "nerd rock" é a antítese da puberdade mental que nunca se perdeu. Digamos que é a capa rebelde que mascara os conflitos interiores de quem escreve letras sobre os amores frustrados da adolescência, sobre o gozo de que eram alvo por parte dos colegas na escola ou sobre os primeiros actos de rebeldia juvenil.
E o mito constrói-se. Três ou quatro acordes melosos, distorção q.b., ritmos gordos e preenchidos et voilá: a aparência rebelde.
O mito preenche, no entanto apenas o espectro sonoro/instrumental.
Tanto no aspecto lírico como no visual a máscara decompôm-se e os rapazes rebeldes voltam a ter 16 anos e a pele impregnada de acne. Nas letras aí estão os conflitos interiores e na aparência visual os grandes óculos de massa, as t-shirts e camisas colegiais desvirtuam a rebeldia musical emanente dos rapazes.
Quando se cresce demasiado, mas a tentação "nerd" permanece corre-se o sério risco de se cair na idiotice e na nulidade pretensiosa de achar que ainda exista quem acredite nas palavras secamente cantadas. Ouçam o último de Weezer e tirem as conclusões.
Não há pachorra para a inocência e a maquilhagem forçadas...
*Na foto: OZMA

quarta-feira, outubro 11, 2006

O elogio da circularidade




Quando era criança adorava carroceis. Particularmente aqueles carrinhos que andavam em círculo sobre dois pequenos carris. Por alguns minutos era um exímio condutor, uma criança com o sonho de poder viajar em círculos contínuos, como se a felicidade residisse nesses infímos cinco minutos. Triste ficava quando terminava a voltinha mágica. Tornava a replicar junto dos meus pais por mais uma moeda com direito a nova viagem.
"23 minutes in Brussels" dos Luna é essa pequena/grande viagem circular, mas ainda assim cheia de pequenos apontamentos deliciosos, prontos a serem descobertos em renovadas audições.
Metaforizando desta vez com um exemplo actual, diria que "23 minutes in Brussels" é aquela viagem que me dá sempre prazer fazer. É como percorrer todos os dias os 12 km que separam o Cartaxo de Valada sem me cansar, encontrando em cada viagem um novo pedacinho de terra fértil, uma nova ilha no meio do Tejo ou um touro que pasta pacatamente na imensidão da lezíria ribatejana.

"23 minutes..." tem uma base consistente, um ritmo circular... como a viagem no carrossel, como a viagem a Valada, mas ao longo dos cerca de 7 minutos de duração vai sendo polvilhada com condimentos que coloram o tema.
No início a base rítmica dá o mote. As guitarras entram fortes, mas o refrão é apaziguador e a verdadeira viagem mágica começa com o "solo" (palavra feia) de guitarra. Talvez um dos melhores momentos de guitarra que já ouvi até hoje. Tão válido para a versão original incluída em "Penthouse" de 1995, como para a versão ao vivo de 2001, a qual me habituei a ouvir ultimamente com maior frequência.
Dizia eu que esse momento de guitarra nada tem de virtuoso ou de tecnicamente esplendoroso, mas é de uma simplicidade, de uma pureza e de um recorte de bom gosto tão refinado que não me canso de o ouvir.
A versão ao vivo consegue captar apenas em registo sonoro toda a ambiência do espaço, o desenrolar da viagem, as curvas e contracurvas que me passam ao lado em circunstâncias normais, mas que aqui me seduzem.
O mais engraçado é que a viagem continua na mesma via. Ok.... quando chegar ao destino final vou voltar atrás e recomeçar de novo.
Talvez a lezíria se transfrome em savana...

Portalegre-Marvão-Albuquerque-Badajoz-Évora-Almendres-Cartaxo


Começamos o concerto sem saber o que nos espera. Alguns aplausos vigorosos quebram a irrisória monotonia do "levanta copo e emborca" tão cara a esta época de recepções por vezes a roçar o limite da estupidez. É, para alguns a compensação da baixa auto-estima em actos violentos e bárbaros... Já divago...
Os meus amigos - os 4/5 - estão um pouco desiludidos. Eu estou contente. Eles acabam por ficar também depois de algumas opiniões mais pragmáticas de quem vê, sente e ouve de fora.
Adoro este ritual de convívio: de jantar, de vestir, de conversar e gozar, e por fim de subir ao palco e transpirar as entranhas.
A imprevisibilidade é um dado adquirido. Os locais, as pessoas, as conversas, são elementos do ritual, da mística, da maior ou menor carga de sensações que guardo comigo; as memórias que não esqueço.
Não estou sózinho. Partilho, mas com a consciência da pessoalidade intrínseca de cada expressão, movimento, som ou ruído.
O complemento é uma viagem a um píncaro inconquistável com cerca de 700 metros de altura, com direito a visitar um castelinho de lacraus.
Um pequeno desvio para ouvir os estremadurenhos??? em Badajoz, uma visita fugaz ao património mundial alentejano e o pôr-do-sol no cromeleque dos almendres.
À chegada ficam saudades e memórias passadas... Bonitas essas...

terça-feira, outubro 03, 2006

"Charentais" à solta


Hora de abrir.

Imagino a "pole position" à entrada de Kermani. De seguida o tiro de partida e o início da corrida. Para alguns o consumo desregrado, para outros o desespero, a raiva, o ódio, o medo...
Eu... continuo sentado, olhando vagarosamente o pequeno espaço que me rodeia, impecavelmente arrumado.
É estranho escrever num pedaço de papel solto. Habituei-me ao meu "Charentais", à sua desorganização, às ideias e frases empilhadas, mas especialmente aos pedaços de mim que nele expus.
Habituo-me... que remédio. O "Charentais" ficou em casa e tu que me olhas de cima, hoje vais à solta até te firmar em pequenos parágrafos de uma máquina que não descansa.

..."Agora que eu já não estou aqui."