sábado, novembro 18, 2006

Os Reis mag(r)os


Há um tempo atrás publiquei aqui no Rebuçados um desabafo onde manifestava a minha indignação face à discriminação dos monos.

A quadra natalícia aproxima-se e com ela a inevitabilidade do consumo desregrado, consequência do “bom desempenho” de uma poderosa máquina de marketing, que se alimenta de forma autofágica, num processo circular, muitas vezes confrangedor, mas sempre rentável e vencedor. É caso para dizer que o novo espírito natalício – distante daquele que herdámos dos nossos avós – comeu a galinha, o peru, ou ainda – num rectângulo à beira-mar plantado – o bacalhau com batatas.

Os valores esvaem-se numa inocente aparência de quem debita meia dúzia de balelas e frases feitas sobre a paz, o amor e a solidariedade. Os restantes 99% são árvores gigantescas, decorações estilizadas, luzes e neons coloridos apontados à retina de milhões de pessoas, que, perante tal cenário parecem libertar uma espécie de insanidade recalcada guardada exclusivamente para esta altura do ano.

“Bom” – diríamos – “mas isto é apenas o Natal”. Não, não é. Uma semana depois o espírito ganha novos contornos, as baterias da poderosa máquina são apontadas para outra direcção, mas a base de sustentação contínua a ser a mesma. O Natal foi “engolido” para produzir o “monstrinho” pagão do Ano Novo. Consome sem parar. Bebidas: espumante, champanhe, vinho, cerveja. É preciso é entrar com o pé direito e de preferência a cambalear. Menos mau. Já lá vão as bocas cheias de verborreia dos cínicos mandantes do mundo que aproveitam a semana anterior para propalar os seus beneméritos desígnios.

Lembram-se da história da discriminação que referi logo ao início? É aqui que ela entra.
Cresci a saber que a quadra natalícia só terminava no dia de reis. A “máquina” – provavelmente esgotada depois de duas semanas imparáveis – ainda não encontrou uma forma de rentabilizar as potencialidades deste dia. Não me parece que o bolo-rei dê crédito ao dia mais discriminado da quadra festiva. Por mim ainda bem. Acho apenas que o pobre dia merecia maior consideração; que se falasse dele (não que se aproveitassem dele). O 1º de Maio é um feriado mundial sem aproveitamento comercial aparente e toda a gente fala dele (será mesmo por ser feriado?). Pronto, até o dia 1 de Abril (vulgo dia das mentiras) tem maior promoção que o dia 6 de Janeiro. Quanto mais não seja pela mentirinha “marota” do pivot do telejornal.
É essa discriminação que me chateia.

Se a humanidade não consegue (ou não quer) encontrar um equilíbrio justo entre pares num mundo “sacaninha”, pelo menos que o tente fazer com os supostos dias importantes do ano…

E pronto, em 2007 o dia de reis vai ter um saborzinho especial…

domingo, novembro 12, 2006

Rebuçados Viajeiros


Os dias são curtinhos, mas o Verão de S. Martinho pode e deve ser aproveitado para fazer pequenas viagens. Aqui ficam cinco propostas para uma viagem bem passada:

  • "World Cup Fever" - Air Miami (Me, Me, Me, 1995)
  • "Beers before the Barbican" - Lambchop (Damaged, 2006)
  • "Beanbang Chair" - Yo La Tengo (I`am not Affraid of you and I`ll beat your Ass, 2006)
  • "Lazarus" - Boo Radleys (Giant Steps, 1993)
  • "Paper Tiger" - Beck (Sea Change, 2002)

"Memories - Work in Progress"

  • Maio de 2006 - Praia de S. Julião
A comemoração do dia da espiga em S. Julião (Ericeira) é no minímo peculiar. Uma praia que é também parque de campismo, o bar Limipicos a debitar o belo "barrão house", o Jonhy Cristino a tocar rock só com a mão esquerda, uma brasileira que, a dançar em cima de uma coluna vai rejeitando todos os pretendentes e um Dj animador de alto gabarito. Pró ano há mais.


  • Novembro de 1997 - Cartaxo
O meu aniversário. 80 convidados, muita bebida e distracção. Um fernesim de som com direito a jam session. E estava passada a barreira dos vinte.


  • Agosto de 2001 - Zambujeira do Mar
Rumo ao sul com a Joana para ver e ouvir o último dia de Sudoeste, com Divine Comedy (a promoverem o rebelde "Regeneration") e Flaming Limps. Tempo ainda para sentir a poeira levantar com os Sepultura.
Viagem de regresso atómica na mesma noite.


  • Março de 2002 - Gerês

Um acampamento de três dias no Gerês. Muita calma e descanso num ano atípico, mas proveitoso. Viagens madrugadoras pela serra abaixo, acompanhadas de vinho e cerveja.

sábado, novembro 04, 2006

E vão mais 5 castanhadas

  • Adeus Orelhas de Abano – Fausto (A Ópera Mágica do Cantor Maldito, 2004)
  • Prisioner of the Past – Prefab Sprout (Andromeda Heights, 1997)
  • The Vanishing Spies – Frank Black (Teenager of the Year, 1994)
  • Alegria, Alegria – Caetano Veloso (Tropicália, 1968)
  • Seymour Stein – Belle and Sebastian (The Boy with the Arab Strap, 1998)

e mais uma para comer à lareira enquanto se espreita o Novo Mundo:

  • Center of the Universe – Built to Spill (Keep it like a Secret, 1999)

Prisioneiro do Passado (sem Eládio Clímaco)


A Prisioner of the Past teria sido uma forte candidata à vitória do Festival Eurovisão da Canção de 1997, caso os Prefab Sprout não se ficassem apenas pelo bom senso da procura da canção pop perfeita (algo que almejam desde o início de carreira) sem pretensiosismos bacocos.
Para mim, os Prefab Sprout são uma daquelas bandas que, não sendo apaixonantes, vão deixando pequenos segredos em forma de canções, simpáticas e comedidas.
A fazer um paralelo com o que já aqui escrevi no rebuçados, diria que estão numa divisão de honra ao lado dos Pet Shop Boys, mas numa estética musical um pouco diferente.
A Prisioner of the Past é uma canção orquestrada a fazer lembrar os Divine Comedy, num exercício pop que mistura violinos e sopros com teclados naíves que por vezes parecem aqueles pequenos casios para crianças.
Essa conjugação de universos aparentemente ambíguos serve de ponte para o cruzamento com o tema principal onde Paddy McAloon canta sobre o (des)amor – afinal o que é isso? – “I'm a ghost to you now, I'm someone you don't really wish to see”. Enfim, é uma daquelas canções que se ouve em qualquer circunstância – num supermercado, numa discoteca, num bar, num jantar romântico – sem qualquer tipo de preconceitos, e isso só pode, obviamente, ser um elogio.

sexta-feira, novembro 03, 2006

"Memories: Work In progress"

Agosto de 1991 – Quinta da Graminheira (Vale de Santarém)

Em tempo de puberdade, dois jovens passam o tempo em amenas cowboiadas em plena lezíria ribatejana. O pequeno tractor Isuzu era motivo de discussão para as conduções aluadas de ambos.
O tanque de água fresca era o prémio merecido depois de um desgastante dia de trabalho.

Palavras / Nomes / Expressões chave:

  • Melão
  • Martelada
  • Tractor
  • Nirvana

Fevereiro de 2006 – Caldas da Rainha (Carnaval)

O último Carnaval caldense foi um épico de parvoíce e divertimento. Uma extensa família cigana criou o caos na cidade dos falos. Foi a despedida dos finalistas estagiários.

Palavras / Nomes / Expressões chave

  • Gipsy Kings
  • “lo lai lo lai… à mi manera”
  • Palácio Cigano
  • Nelo

Abril de 1994 – Cartaxo

A descoberta da “Margem de Certa Maneira” na comercial, e de que era possível ouvir boa música independente em Portugal.
1h/3h da manhã, num pequeno quarto, com os headphones a ouvir a colheita do “melhor” ano de sempre da música pop: Pavement, Beck, Frank Black, Madder Rose e outros na cartilha.

Palavras / Nomes / expressões chave

  • K7
  • Atenção
  • Golden Palominos
  • Frank Black
  • Rui Vargas

Maio de 2001 – Guitar Club (Pechão – Faro)

Uma jovem banda do Cartaxo ruma ao sul para participar na eliminatória do concurso “Maio Jovem”.
Valeu a óptima noite primaveril, o espírito e a amizade da banda e respectivas groupies…!!!
Regresso num intercidades com sabor a erva, desembocado num sereno cacilheiro.

Palavras / Nomes / Expressões chave

  • Temple of Noise
  • Pousada de Juventude
  • Cacilheiro

quinta-feira, novembro 02, 2006

Cinco Copos de 25

Para quem já provou as castanhas aqui ficam agora cinco copos de 25 de vinho novo para degustar durante o S. Martinho:


  • The Long Voyage - Hector Zazou com Suzanne Vega e John Cale (Songs from the Cold Seas, 1995)
  • Evangeline – Cocteau Twins (Four – Calendar Café, 1993)
  • Jumbo – Underworld (Beaucoup Fish, 1998)
  • Ain`t that enough – Teenage Fanclub (Songs from Northern Britain, 1997)
  • Big Gay Heart – The Lemonheads (Come on feel…, 1993)

e como, quem bebe cinco bebe sempre mais um aqui fica também uma das melhores pomadas de 2006:

  • Stamps - I´m from Barcelona (Let me introduce you to my friends, 2006)

quarta-feira, novembro 01, 2006

Do CCC pró DocLx

As artes visuais e performativas, fazendo parte de um extenso universo, onde, em última instância dão expressão e corpo a uma determinada cultura, devem ser alvo de uma atenciosa observação.
O espírito crítico desenvolve-se a partir da capacidade de argumentar através de opiniões, posições críticas, mas também de saber ouvir, dialogar e respeitar, para, em consonância, contra-argumentar, concordar ou discordar.
Nesta perspectiva sinto-me um espectador de diversas expressões artísticas e culturais com um espírito crítico cada vez menos passivo, mas sim mais mordaz e acertivo.
As diversas formas de expressão artística procuram de alguma forma despertar emoções e sentimentos no espectador.
Nos últimos dias e, apesar da escassez de tempo, tive a oportunidade de ver uma peça encenada pelo grupo de teatro “O Bando”: “Gente Feliz com Lágrimas”, no Centro Cultural do Cartaxo. Tive também a possibilidade de assistir a dois filmes na última sessão de Terça-Feira na terceira edição do DocLisboa a decorrer na Culturgest até ao próximo dia 29 de Outubro.
Curiosamente, nenhum destes três produtos culturais me suscitou particular sensação. Este sentimento de alguma frustração deriva, talvez, do facto de não me ter conseguido imbricar nas obras, em não ter sentido que, de certa forma eu era também uma peça essencial do produto artístico. Não me senti envolver pelos actores, cenas ou locais representados.

Sábado, 21 de Outubro

“Gente Feliz com Lágrimas” é a adaptação de uma obra de João de Melo, autor que, confesso, desconheço.
No palco está uma estrutura giratória – metáfora da passagem do tempo. Dois actores. Ele interpreta sublimemente todo um processo metamórfico de personagens e estados de alma. Ela cumpre bem o seu papel, mas não excede.
Não me parece que o facto de não ter conhecimento de causa da obra em questão seja um requisito essencial para a apreciação da adaptação da mesma para o palco. Vi Bestia da Stile três vezes consecutivas na Culturgest sem nada conhecer do seu autor – Pier Paolo Pasolini e ainda assim achei a peça um portento de interpretação, de expressão verbal e corporal, sem recurso a grandes dispositivos técnicos e cénicos.

Terça-Feira, 24 de Outubro

Uma sessão da terceira edição do DocLisbboa com direito a dois filmes.
O primeiro, uma curta-metragem de Edgar Pêra – confesso que também desconheço o seu trabalho – que explora de forma cínica dois acontecimentos mediáticos do ano transacto: a morte do Papa João Paulo II e respectivas exéquias, homenagens e funeral e na mesma perspectiva, mas no ângulo ideológico – social inverso, a morte de Álvaro Cunhal e também o respectivo funeral.
Não deixa de ser curioso o cruzamento de símbolos aparentemente antagónicos e que acaba por acentuar o paroxismo que normalmente acontece inconscientemente em situações limite. Exemplos concretos que extraí da visualização da curta: imagens de um povo simples, pobre que presta homenagem ao chefe de um dos Estados mais ricos do mundo (senão mesmo o mais rico). Na segunda parte uma espécie de reverso complementar, o povo que acorre em massa ao funeral a um dos ícones maiores do comunismo a nível mundial. As bandeiras vermelhas, com a foice e o martelo esvoaçam ao lado das cruzes no cimo dos jazigos.
Alusão ao 11 de Setembro na imagem de uma implosão antecedida por um plano onde vemos dois aviões?

Arcana
O filme documentário que se seguiu procurou ser a fidelização a uma realidade recentemente desaparecida. Porquê o uso do preto e branco? Tentativa pretensiosa de dimensionar uma retrospectiva trágico – decadente de um lugar e respectivos habitantes? Falhada…
“Arcana” tenta retratar uma realidade – os últimos dias da prisão de Valparaíso no Chile – sem que o realizador Cristobal Vicente tenha conseguido escolher o enquadramento correcto para o seu retrato.
O filme é uma amálgama de imagens frias, palavras secas, proferidas pela voz dos prisioneiros que parecem, ora intimidados pela presença da câmara, ora com um à vontade desarmante, como se tudo estivesse meticulosamente preparado para resultar num registo natural e imprevisível. “Arcana” é a antítese da surpresa, dessa imprevisibilidade.
É todo um registo extenso, redundante, sem chama, com uma clarividência tão óbvia que nem o uso do preto e branco deixou ocultar.
Uma desilusão, até porque os planos iniciais, em registo quase Slide show prometiam uma visão peculiar e original dessa realidade. Foi isso que me ficou na retina, bem como os últimos minutos (que contam a história toda sem comunicação verbal), e o plano final em zoom out, em distanciamento formal (uso da cor), num redimensionamento espacio – temporal politicamente correcto num registo documental audiovisual.
Pobrezinho
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