quinta-feira, dezembro 30, 2010

Dois Mil e 10 de Revés

Eis que o diabo esfrega um olho e os rebuçados voltam a colorir-se para a despedida da década que nos trouxe torres em ebulição, achaques afegãos, Saddam pela corda, Nova Orleães em estado de sítio, tsunamis irrequietos (porque já nos achamos no direito de culpar o inculpável). A década ainda tem o desplante de se despedir em crise agudizante. Agudizai, digo eu enquanto 2011 põe os olhos no horizonte. Olhos de lobo faminto. Talvez...
2010 esvai-se em tom solene. Com ele leva-me algumas canções, umas de pleno direito, outras saqueadas a anos de maioridade.
Round and Round - Ariel Pink's Haunted Graffiti (2010)
On Melancholy Hill - Gorillaz (2010)
Cinema Star - Black Francis (2010)
Juveniles - The Walkmen (2010)
Boring Fountain - Someone Still Loves You Boris Yeltsin (2008)
Kiss your Lips - Allo Darlin (2010)
I'm not Living in the Real World - Belle and Sebastian (2010)
When I'm With You - Best Coast (2010)
White Magic - Ceo (2010)
Hey, Snow White - Destroyer (2002)
With a Girl Like You - David Sitek (2009)
Novias - El Guincho (2010)
In Excelsis - Killing Joke (2010)
Freeway - Kurt Vile (2008)
I Wanna Destroy You - The Soft Boys (1980)
Sometimes I Don't Need to Believe in Anything - Teenage Fanclub (2010)
Evol - Black Rebel Motorcycle Club (2010)
At the Indie Disco - The Divine Comedy (2010)
Best Friend - The Drums (2010)
UFO - Torche (2010)
I Was Wrong - The Morning Benders (2008)
Diplomat's Son - Vampire Weekend (2010)


sexta-feira, outubro 01, 2010

O fim do começo ou outra coisa qualquer

O caminho é apertado
Crescem espinhos, soluços engavetados.
Soslaios de sorrisos,
Tímidos, como o amanhã que não chega,
Como as letras que brotam em espasmos viscerais
e o sémen que escorre quente no teu ventre.

quarta-feira, agosto 18, 2010

Mi visión de Portugal

Podría decir que he estado a punto de ir dos veces, pero es una mentira. La primera opté por recorrer Italia para practicar una lengua que día a día me gusta más; la segunda cambié el boleto de avión por unas gafas de sol (decidí dejar a un lado mis miradas exorbitantes y a medio párpado, es decir, me operé). Así que aseverar que he estado por ir es una mentira, sin embargo he recorrido un par de veces Alfama, me he quedado horas parado frente al Tejo, contemplando su cauce, me he perdido en la voz de Teresa (Salgueiro, que otra podría ser) Amalia o Mísia y junto con ellas he visto bares, iglesias, calles, puertos, tristezas o mejor dicho saudades. He visto en las letras de Saramago y de José Prata las partes sórdidas de este país que de un modo u otro me atrae, me fascina. Portugal es algo así como mi amor platónico, ese que intercambia miradas, gestos y sin embargo hay algo entre nosotros, más allá del mar y las horas de viaje que nos impide vernos, acariciarnos. He soñado sus calles (Wenders me ayudó un poco en esto, lo confieso) y las he transitado montado en un tranvía, añorando ver el café que a diario visitaba Pessoa...todas son imágenes vanas, lugares comunes, portadas de revista o vídeos de youtube, pero a veces mis oídos perciben el aleteo de las gaviotas, mis labios saborean el oporto y mi olfato se llena de un olor de frutas maduras...sé que tarde o temprano estaré ahí, para desmentir o potenciar esta imagen que me rodea...hasta entonces Portugal seguirá siendo ese lugar entre sueños, fados y poesías ajenas que espero un día hacerlas propias mientras camino en el parque Eduardo VII o el Parque das Nações o mientras espero, afuera del estadio, entrar para celebrar un gol del Benfica...

quarta-feira, agosto 11, 2010

Reflexão Coração



Não existe a circularidade flamejante que por vezes buscamos, como se fosse possível cumprir a mesma promessa uma segunda vez. O eterno retorno é apenas o mito. Os círculos não se fecham, não se selam com lacre.

Não acredito no Fim. O Fim é a utopia que, ora temos como presença certa, ora fazemos de conta que não existe. E Como se faz de conta de uma coisa que realmente não existe? Tentando fintar o insconsciente, que por vezes nos guia por bonitas encruzilhadas. E, se, a memória nas mais diversas formas, perpetua indefinidamente uma experiência vivida, é essa mesma experiência que serve de paradigma para aferir a ausência de um tutto finito. A experiência é o ad eternum da Vida.

Deito-me sob uma torre de pedra antiga e no peito carrego alguns registos "memográficos" dos momentos que passei e passámos há momentos, não os mesmos que passei e passámos há muitos dias atrás naquele mesmo espaço, transformado agora pelo tempo e pela emoção do regresso, com outra matiz.


quarta-feira, maio 12, 2010

Fruta Madura


O som é distinto. Destroyer rasga o éter por entre notas dissonantes e batidas distantes.
Ao fundo sopram os ventos numa antiga sala monasterial, enquanto ecoam as guitarras, ora suaves, ora aguerridas, mas sempre imberbes dos Ozma, como se L.A. estivesse aqui ao lado pejada de biquinis audazes enquanto caminho incógnito numa multidão de neons coloridos e promessas vazias. Assim como diz a canção, "Baseball" de seu nome.
Calam-se os ventos, nascem os vibrafones. Será Califórnia? Será o Noobai pelo sol quente, nas barbas do Adamastor? O contágio resulta e os Ruby Suns são os Animal Collective do Mediterrâneo. Também sabem a mar, com aura cosmopolita na reverberação psicadélica, no ritmo descompassado e sedutor. Olé Rinka.





Durante a adolescência tendemos a desvalorizar o que gravita em redor do nosso epicentro. Temos a sensação de que tudo se eterniza, ainda que a pilosidade facial não dê tréguas e as hormonas se movimentem a uma velocidade estonteante.
Quando passamos à fase adulta e o eterno se evapora, prometem-nos a impossibilidade de voltarmos a ser quem já não somos. Dizem-me "Shady Lane" e "Wish I Could". O júbilo fica lá atrás.
Entretanto o percurso segue por outro caminho enquanto os ventos voltam a soprar ao longe... como antes, como sempre... para sempre.

terça-feira, janeiro 19, 2010

Velho Diabo

Sidney Lumet gosta do desespero. Conheço-o. Sei do que falo.
Lumet é um pequeno rebelde. Não se entusiasma como Scorcese, nem devaneia como Tarantino.
A filmografia que conheço demonstra uma acertividade lancinante que desemboca inevitavelmente na deseperança - A Dog Day Afternoon, Serpico e Network comprovam-no.
Nesta sua mais recente incursão pelo thriller dramático assistimos a diversas reminiscências da época áurea da sua carreira - os anos 70. O recurso ao flashback, o mise en scene com disfarces a preceito, a concepção imatura do crime perfeito. Chavões que reverberam no ecrã, mas que não comprometem a competência da película. E, se Al Pacino foi durante algum tempo a coqueluche dos anos 70, Ethan Hawke poderia enfatizar, no novo século, a rebeldia que ficou pelo caminho. Seymour Hoffman é apenas competente.
Before the Devil Knows You're Dead é um thriller prevenido, com a dose certa de calorias para nos entusiasmar q.b., como um "Corpo Danone".
Sem me dispersar mais: é a lareira que acendi há dias atrás: assei um robalo, mas não me aqueci como gostaria.