Existem coisas para as quais dificilmente conseguimos encontrar uma explicação lógica e razoável. Ainda bem. Não gosto de perder muito tempo a tentar encontrar uma explicação para factos que não padecem de todo da falta dela.
Há algumas noites atrás, pouco antes de adormecer - durante aquele pequeno período de efervescência intelectual (passe a hiperbole) antes de entrar em definitivo no chamado sono mole - fiz um rewind mental e passei em revista o que andava a consumir nos últimos tempos, no que à cultura diz respeito. Cheguei a uma interessante conclusão. Nunca estive tão ligado à cultura americana mais profunda como agora.
Comecei a ler o "On the Road" do Jack Kerouac. Uma road trip descrita à velocidade do pensamento pela América dos anos 40. A descrição de uma experiência de vida, sem espinhas, sem politiquices correctas. Pura e simplesmente: Deixem-me viver, beber cada segundo como se fosse o primeiro, o segundo ou o último. Saborear cada pedaço de terra e viver... viver intensamente. Ainda nem a meio vou e é já uma referência...
Por mero acaso ou talvez por não ter conseguido arranjar bilhete para uma das sessões do IndieLisboa no King, acabei por ir parar ao Londres onde cheguei à justa para ver o documentário ficcionado "Requiem for Billy the Kid" da francesa Anne Feinsilber. Interessante exercício de memória sobre uma das muitas figuras mitícas norte-americanas. Não cai na modorra tentativa de encontrar uma verdade absoluta sobre as circunstâncias que levaram à suposta morte de Billy the Kid nas mãos do Xerife Pat Garrett, mas antes marcar uma posição onde realidade e ficção se acabam por conjugar, romanceando subtilmente a narrativa histórica. Serve-se para isso das pessoas que habitam os locais onde passou Billy the Kid, e que, de forma indirecta, à distância de cerca de 130 anos, têm um relação com a história dele. Mais do que um relato cientificamente correcto "Requiem for Billy the Kid" é uma homenagem às pessoas da América profunda - Novo México, no caso - que não têm medo de expressar as suas emoções (sim, sente-se aqui um espírito pró-Bush, mas não é nisso que Feinsilber está interessada). Foi o melhor dos 3 que vi no Indie.
Na música continuo fascinado com os songwritters americanos. "The Letting Go", o último registo de Bonnie "Prince" Billy (mais um Billy. E esta?) tem passado frequentemente nas colunas do pc.
A alma e a dolência de uma forma estar muito própria prespassa nos acordes e nas palavras de Bonnie. Não só de Bonnie, mas também de Howe Gelb, Matt Ward, Kurt Wagner e do infiltrado Frank Black.
Um mero acaso ou estarei mesmo a juntar sangue cowboy ao ribatejano e africano que já possuo?
Vou ter de guardar espaço para juntar o sul americano que me falta.