sexta-feira, julho 21, 2006

Pixies no Atlântico - Continuação da aula anterior

20 de Julho de 2006. Passaram cerca de 14 anos depois da dissolução dos Pixies, mas passaram também dois anos e meio depois da tão aguardada reunião. Eles fizeram-nos a vontade.
A digressão da reunião em 2004 trouxe-os a um Super Bock Super Rock completamente apinhado e louco para ver a banda que fez as delícias da adolescência de muitos trintões que se encontravam na assistência. A descarga de energia foi tal que em pouco mais de uma hora a banda tocou 28 temas, sem fraseados ou interlúdios pelo meio.
Em 2005, nova aparição, desta vez num cenário mais idílico: cabeças de cartaz do terceiro dia do Festival de Paredes de Coura. A única diferença digna de registo foi o início mais contido. Depois, a embalagem para nova descarga sem palavras, mas muitos gestos de simpatia e agradecimento - especialmente de Kim Deal.
Menos de um ano depois voltam para uma actuação em nome próprio. Momento propício para os fãns mais acérrimos poderem comprovar (ou não) a boa forma da banda e com eles partilhar as canções.
Os Vicious 5 saem do palco depois de uma actuação electrizante. mas demasiado redundante. A energia está lá, o vocalista instiga o povo a mexer-se, mas os temas (devedores de uns At-the-Drive-In ou até de uns Rage against the Machine) são demasiado parecidos entre si. De qualquer forma é uma banda cada vez mais consolidada no movimento rock português.
Uma longa espera entre as actuações. Tudo deve estar bem preparado para receber aqueles que todos querem (re)ver, ouvir, sentir...´
Às dez horas em ponto e como que por magia, David Lovering corre e senta-se na bateria (não fosse ele o simpático mágico de serviço). Reconhece-se a batida de "Bone Machine". Povo aos saltos. Logo de seguida, Joey Santiago, Kim Deal e Frank Black (Francis). Ovação geral de cerca de cinco mil gargantas.
Mais uma vez os temas surgem a um ritmo alucinante: "Crackity Jones", "Broken Face", "Levitate me" e todas as seguintes são tocadas sem paragens.
A qualidade sonora é sofrível com o Pavilhão dividido ao meio.
Kim Deal vai dizendo "muchas gracias", apercebendo-se mais tarde que Espanha é só no dia seguinte. Fuma quase ao ritmo dos temas debitados pelo P.A. do Atlântico. Velocidade relâmpago.
Frank Black (Francis) apenas canta e balança o corpo enquanto dá uns passos para trás no final dos temas ou quando não é ele o protagonista principal.
Joey Santiago está concentrado, olha para os colegas enquanto faz os tão característicos pseudo-solos. David Lovering é todo sorrisos - especialmente quando canta "La la love you" no segundo encore da noite.
Kim Deal já agradece timidamente em português. O sorriso também não lhe sai da face e os cigarros continuam a ser acesos regularmente. O público gosta dela: "Tame" e "Gigantic" provam-no.
Frank Black (Francis) continua "calado" e sereno, subvertendo alguns dos temas onde a sua voz se destaca pela irreverência ("Vamos" é um claro exemplo), berrando nas "linhas musicais" mais improváveis.
"Caribou" é o ponto alto. Voltei a ter quinze anos.
Frank parece olhar para mim e para a t-shirt que levava vestida. nela estava apropriadamente escrito "Fast Man" (Título do primeiro disco do ábum duplo a solo de Frank Black, lançado à um mês atrás). Esboça um sorriso e faz um trejeito de assentimento com a cabeça. Aparência? Talvez...
Mais tarde despedem-se do público que grita desalmadamente por eles. Joey continua tímido e David divertido.
Sem pronunciarem uma palavra percebemos que a brincadeira consiste num suposto entorse do pulso de David que fica impossibilitado de tocar e consequentemente continuar o espectáculo. Frank Black (Francis) abre e fecha os braços como que a dar por terminado o concerto e diz as únicas palavras para além das letras: "Muito Obrigado". Subitamente David beija a suposta mão magoada, "et voilá", um toque de magia cura o entorse e permite um encore com nova revisitação a "Surfer Rosa". "Where is my mind?" abre e "Ed is Dead" fecha em grande, mas o público quer mais. Voltam. Tocam "Here comes your Man". Despedem-se de novo. O público grita, chama por eles, mas são onze e meia. Hora certa.
Onde é que eu já vi este filme?

Sem comentários: