1995. Onze anos passados sobre o lançamento de um dos álbuns mais polémicos e influentes da história da música pop. Em 1984, Psychocandy foi a pedrada no charco que os Jesus and Mary Chain decidiram mandar, molhando todos aqueles que acharam que pouco ou nada podia ser feito na cena pop-rock depois da revolução punk dos Pistols e dos Clash (pra não falar da cena no outro lado do Atlântico com os Ramones ao leme).
Psychocandy foi o manifesto feito de guitarras em ponto de rebuçado, prestes a explodir no acorde (feedback) seguinte. À simplicidade e arrojo dos Velvet Underground juntaram as melodias dos Beach Boys e depois carregaram na panóplia de efeitos (distorções, phazers, fuzzs, eu sei lá que mais) e mandaram as boas maneiras às urtigas (concertos de 15 minutos voltados de costas para o público que normalmente acabavam em motim incontrolado). Em 1995, dizia então, já depois de alguns pequenos tropeções (Automatic de 1989) e das pazes feitas com as canções (Stoned and Dethroned de 1994), os Jesus and Mary Chain tentaram mais uma vez revolucionar. "I Hate Rock n`Roll" foi o ep lançado em formato "tentativa de pedrada no charco, pt. 2". O problema é que a pedrada desta vez passou ao lado do charco, acertando por ventura nalguns ouvidos menos propensos a frases de ordem ditadas contra as máquinas de divulgação e comunicação do universo musical (e porque não cultural) mais mainstream e mais massificado: "I hate the MTV, I hate them when they`re pissing on me". Os rapazes rebeldes sem causa de 1984 tornaram-se nos homens sem causa que decidem disparar em todas as direcções procurando porventura a atenção que deixaram de ter durante toda a primeira metade dos anos 90.
Esta atitude de quem está inserido no sistema e o denuncia de dentro para fora é por demais conhecida e quando bem usada consegue realmente abanar algumas estruturas, sem no entanto as conseguir derrubar. Aliás, parece ser mesmo assim que a indústria se alimenta. Músicos, performers, artistas no geral denunciam, e a "máquina industrial", numa atitude aparentemente ignorante promove as obras que à partida a levariam à ruína, mas incrivelmente, os discos e as obras vendem, perpetuando assim um ciclo viciado, dificilmente desconstruído.
Ora, se em 1995 os Mary Chain dizem estar fartos do rock e especialmente da indústria viciada que o promove, fazem-no de uma forma terrivelmente cínica e infantil e como exemplo temos mais uma vez: "I hate the BBC, I hate when they´re shittin` on me". Ahh, e depois há ainda a parte final da faixa em que, de rebeldes mercenários, passam a vítimas de uma "guerra injusta": "Rock n`Roll hates me". Obviamente não poderiam ser levados a sério. Chavões deste género são proferidos todos os dias por músicos mais ou menos frustrados que têm de encontrar a culpa para o seu insucesso num qualquer bode expiatório mais próximo da mira das suas armas verbais.
O exercício dos Mary Chain teria ainda assim um valor de contestação (pobre é certo) datado, não fosse o desmentido que acabaria por sair 3 anos depois no derradeiro album "Munki", "I love Rock n` Roll". Afinal eles gostam de rock, estavam só a brincar. Em que ficamos? Já cresceram? Amadureceram? Assentaram ideias ou ainda gostam de disparar a pistola em qualquer direcção? Hoje não gosto de favas com chouriço, mas amanhã é o meu prato favorito.
Contudo, " I hate Rock n` Roll" é um exercício vazio apenas liricamente. Instrumentalmente, o ep e especialemente a canção não trouxe nada de novo ao som "Mary Chain", mas não deixa de ter pormenores muito interessantes, designadamente no emparelhamento de efeitos e ruídos a meio da faixa.
Caso para dizer: gostava de ter de novo 16 anos e enredar-me nas minhas próprias contradições.
Psychocandy foi o manifesto feito de guitarras em ponto de rebuçado, prestes a explodir no acorde (feedback) seguinte. À simplicidade e arrojo dos Velvet Underground juntaram as melodias dos Beach Boys e depois carregaram na panóplia de efeitos (distorções, phazers, fuzzs, eu sei lá que mais) e mandaram as boas maneiras às urtigas (concertos de 15 minutos voltados de costas para o público que normalmente acabavam em motim incontrolado). Em 1995, dizia então, já depois de alguns pequenos tropeções (Automatic de 1989) e das pazes feitas com as canções (Stoned and Dethroned de 1994), os Jesus and Mary Chain tentaram mais uma vez revolucionar. "I Hate Rock n`Roll" foi o ep lançado em formato "tentativa de pedrada no charco, pt. 2". O problema é que a pedrada desta vez passou ao lado do charco, acertando por ventura nalguns ouvidos menos propensos a frases de ordem ditadas contra as máquinas de divulgação e comunicação do universo musical (e porque não cultural) mais mainstream e mais massificado: "I hate the MTV, I hate them when they`re pissing on me". Os rapazes rebeldes sem causa de 1984 tornaram-se nos homens sem causa que decidem disparar em todas as direcções procurando porventura a atenção que deixaram de ter durante toda a primeira metade dos anos 90.
Esta atitude de quem está inserido no sistema e o denuncia de dentro para fora é por demais conhecida e quando bem usada consegue realmente abanar algumas estruturas, sem no entanto as conseguir derrubar. Aliás, parece ser mesmo assim que a indústria se alimenta. Músicos, performers, artistas no geral denunciam, e a "máquina industrial", numa atitude aparentemente ignorante promove as obras que à partida a levariam à ruína, mas incrivelmente, os discos e as obras vendem, perpetuando assim um ciclo viciado, dificilmente desconstruído.
Ora, se em 1995 os Mary Chain dizem estar fartos do rock e especialmente da indústria viciada que o promove, fazem-no de uma forma terrivelmente cínica e infantil e como exemplo temos mais uma vez: "I hate the BBC, I hate when they´re shittin` on me". Ahh, e depois há ainda a parte final da faixa em que, de rebeldes mercenários, passam a vítimas de uma "guerra injusta": "Rock n`Roll hates me". Obviamente não poderiam ser levados a sério. Chavões deste género são proferidos todos os dias por músicos mais ou menos frustrados que têm de encontrar a culpa para o seu insucesso num qualquer bode expiatório mais próximo da mira das suas armas verbais.
O exercício dos Mary Chain teria ainda assim um valor de contestação (pobre é certo) datado, não fosse o desmentido que acabaria por sair 3 anos depois no derradeiro album "Munki", "I love Rock n` Roll". Afinal eles gostam de rock, estavam só a brincar. Em que ficamos? Já cresceram? Amadureceram? Assentaram ideias ou ainda gostam de disparar a pistola em qualquer direcção? Hoje não gosto de favas com chouriço, mas amanhã é o meu prato favorito.
Contudo, " I hate Rock n` Roll" é um exercício vazio apenas liricamente. Instrumentalmente, o ep e especialemente a canção não trouxe nada de novo ao som "Mary Chain", mas não deixa de ter pormenores muito interessantes, designadamente no emparelhamento de efeitos e ruídos a meio da faixa.
Caso para dizer: gostava de ter de novo 16 anos e enredar-me nas minhas próprias contradições.
2 comentários:
O Psychocandy é daqueles rebuçados que num instante te adocicam a boca, como de seguida deixam sair o recheio amargo que te provocam aftas dolorosas. É nesse limbo constante que o disco vai avançando, sem nos apercebermos se no passo seguinte estaremos com os pés em chão sólido ou pendurados apenas por uma mão num precípicio infidável de ruído delirante.
Quanto ao I Hate Rock N`Roll vale mais como curiosidade pelo carácter cómico-juvenil que referes, mas especialmente pela muralha sonora devedora exactamente do espírito Psychocandy.
Um abraço
Ola, what's up amigos? :)
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Thanks and good luck everyone! ;)
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