Frank Black voltou a juntar os Pixies há cerca de ano e meio (talvez dois), tal como os houvera dissolvido há 13 anos atrás. Serve esta assumpção para concluir que nunca ninguém teve dúvidas de que Frank Black sempre foi a força criativa por trás da sua banda. Depois da dissolução desta em 1993 isso voltou a ser provado, com Frank Black a lançar-se de imediato na aventura a solo com o álbum homónimo do mesmo ano. Foi um bom prenúncio para uma carreira a solo com 12 anos que se viria a revelar com alguns altos e baixos.
Esse primeiro disco foi muito bem recebido pela crítica, mas não tanto por um público que teimava em não esquecer o passado de uma das bandas mais importantes da cena alternativa dos finais dos anos 80 (curiosa a aparição de Gilby Clarke que havia tocado no último disco dos Guns n`Roses).
As pistas deixadas nesse álbum mostravam um escritor de canções empenhado em desvincular-se do seu passado com os Pixies, sem no entanto calcorrear caminhos demasiado arriscados. Isso só viria a acontecer um ano depois.
Em meados de Agosto de 1994 lembro-me de sair da antiga Valentim de Carvalho do Rossio com o novo disco de Frank Black nas mãos. Ao contrário de muitos fãns dos Pixies, eu continuava interessado na carreira a solo de Black, portanto a expectativa era de facto grande (até porque o cartão de visita do disco, "Headache" tinha-me deixado boas impressões 3 meses antes).
Ao colocar o cd no leitor de um amigo, lembro-me de lhe comentar aos primeiros acordes de "Whatever happened to Pong": "Era mesmo isto que queria". O ínicio sumptuoso com os teclados de Eric Drew Feldman (Beefheart e mais recentemente dEUS) e as guitarras descontroladas de Black e Lyle Workman aguçaram-me o apetite para o que aí vinha. E o que aí vinha era mesmo muito bom. "Thalassocaracy" (mas porque raio uma música sobre o domínio dos mares que junta também o czar Romanov?), é rápida, quase punk rock com um vigoroso solo final de guitarra de Workman. Depois vêem as pérolas: "Calistan" com um teclado subtil e cumpridor e a guitarra (quase slide) a pontuar a harmonia; "The Vanishing Spies", com a bateria de Nick Vincent a comandar e os teclados a terem papel preponderante em toda a ambiência; o primeiro single "Headache", canção despudoradamente pop, tal é a simplicidade e a inocência de toda a composição; "Freedom Rock" é rock puro, quase visceral, pontuada por um ambiente reggae no meio; "Big Red" é swingada com refrão em crescendo.
As letras de Black são o equivalente musical de alguns filmes de David Lynch (ninguém lhes consegue descortinar um sentido que propositadamente não existe, mas quase toda a gente gosta deles). A imensa bagagem cultural do músico é despejada num caldeirão e misturada para dar origem a temas que tanto falam, numa única música, de um antigo jogo de máquinas, como do escritor H. G. Wells.
Poderia ficar por aqui a falar das vinte e duas faixas que compõem "Teenager of the Year", até porque na minha opinião não existe neste disco uma má canção. Seria, no entanto, um exercício moroso e eventualmente maçador.
Miguel Franscisco Cadete escreveu assim num conhecido semanário musical da nossa praça aquando da saída do disco: "Teenager of the Year é uma máquina de viajar". Eu acrescento que nesta máquina de viajar todos os pontos assinalados no mapa são de visita obrigatória.
P.S. : O único ponto menos positivo de "Teenager of the Year" é a capa que não sendo um primor do design gráfico evidencia o tom jucoso e provocador de Black relativamente à indústria discográfica.
Tennager of the Year:
Frank Black: Voz e Guitarra
Eric Drew Feldman: Baixo, Teclas, Sintetizadores
Nick Vincent: Bateria, Baixo
Lyle Workman: Guitarra
Joey Santiago: Guitarra
Moris Tepper: Guitarra
David Bianco: Engenheiro de som, mistura
Al Clay: Produção
Pitta