Mesas redondas dispostas em semicírculo, ordenadas num cenário caótico. A pauta é rica em elementos e variantes sonoras; as vozes que planam no ar, mescladas com o som das portas rolantes dos sanitários, os passos atribulados dos viajantes, os sacos de plástico, os jornais e revistas, os telefones - “rec, rec, rec, rec”, “tutu ru tu ru turu”. Garrafas de água, de refresco, de cerveja; garrafas de vidro; garrafas de plástico.
Uma vez mais as vozes imperceptíveis de uma multidão que se arrasta para outras paragens. Agora a sirene de um carro patrulha; passos que se aproximam,
outros que se afastam. Rostos anónimos. Imensos. Centenas… E o edifício gira…
Dos corredores adjacentes chegam mais rostos anónimos ao átrio central.
Alguns divagam, outros apressam-se e outros, ainda, sentam-se numa dessas mesas
redondas alinhadas em semicírculo. Quase sempre uma única intenção: chegar a
outro lugar, a um destino distinto. Alguns têm tudo planeado, outros improvisam
sem lhes importar horários, vicissitudes meteorológicas ou demais certezas
absolutas. Também estes se sentam nessas mesas redondas. Observam o ambiente
envolvente, captam momentos com miradas fotográficas.
Há quem durma e há quem sonhe. Os que dormem são corpo presente. Os que
sonham são a pura vibração da vida. São os criadores deste e dos outros
mundos. Mundos onde existem também mesas redondas alinhadas em semicírculo em
edifícios ruidosos, onde se sentam homens e mulheres a sonhar com esses e os outros mundos.