A vontade de escrever, de transmitir opiniões e sensações tinha-se esvanecido há algum tempo.
Tamboro resgatou-me dessa preguiça mental alojada e pronta a criar raízes intransponíveis, como se a minha alma tivesse sido sugada para um buraco negro pejado de espirais amorfas.
O realizador brasileiro Sergio Bernardes criou um poema visual universal transbordante que não uniformiza o problema ambiental à realidade brasileira, antes servindo-se dela para criar a metáfora da realidade global que o próprio título da película clarifica objectivamente - Tamboro - para todos sem excepção.
Estilisticamente Tamboro segue a linha de Baraka e da obra-prima Koyaanisqatsi, como o provam os longos travellings aéreos sobre paisagens rurais e urbanas de um Brasil multifacetado. O contraste e o confronto latente e desigual entre Natureza - Homem / Máquina são sinais presentes ao longo de todo o filme.
O discurso dos intervenientes não é facilitista nem moralista, regra tão cara aos os pseudo ambientalistas da actualidade que teimam em apregoar as suas verdades absolutas, quase sempre sem conhecimento de causa.
O discurso dos intervenientes não é facilitista nem moralista, regra tão cara aos os pseudo ambientalistas da actualidade que teimam em apregoar as suas verdades absolutas, quase sempre sem conhecimento de causa.
Saliento: é um registo confuso a espaços, mas mágico na sua totalidade. Os mil e um "Brasis" filmados por Bernardes são diversos mundos implantados num mundo só(lido).
Recordei Almada: 1+1=1. Tamboro faz crer que a soma de unidades infinitas e distintas entre si são também uma única e exclusiva unidade em ebulição permanente. E é em ebulição que Tamboro se desenrola ao longo dos seus 100 minutos, com cenas devedoras do realismo mágico tão caro aos latino-americanos, mas também com uma clareza e sobriedade dilacerantes.
É documentário, é ficção, documentário ficcional, ode, tragédia grega, côr. São Mundos no Mundo.
É Tamboro - para todos sem excepção.
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