Uma garrafa de água, o som dos Gorky's Zygotic Mynci e Roma de Fellini são os convidados especiais para o casamento entre a Páscoa e a Primavera. Tempo de celebração, renascimento, cor e vigor. Embriago-me nas boas vibrações que o ar da nova estação persiste em renovar, como se estivesse sentado numa esplanada à Beira-Tejo perdido entre cubas libertas, whisky's demolhados em cola, ou um bonito e saboroso Quinta do Falcão Reserva de qualquer ano após 2000. A seguir um Fonte Bela de 2007 enquanto a brisa fresca que calcorreia os ferros da Ponte D. Amélia - mesmo ali em Porto de Muge, pouco antes de Valada - me alenta para novo intenso rodopio.
Deixemos chegar os convidados para celebrar os estilhaços do Sol brando.
1993 - 2008. 15 anos. A selecção é declaradamente influenciada pelo saudosismo de um "petiz" com 30 anos. O mesmo que ouviu o nascimento e a morte do grunge. Aquele que, amiúde, ouviu ser pronunciada a morte do rock. Os Noventas fizeram vénias ao pop rock britânico, proclamaram a morte do rock e deram início ao advento do revivalismo electrónico perdido entre o alvor dos oitentas e esquecido à entrada da nona década de 1900. Ok, esta é um selecção engavetada, mas desprentiosa, porque antes e depois tudo foi válido e continua a sê-lo.
A BASF Ferro II continha algumas destas pérolas:
Golden Palominos - I'm not Sorry (1993) - A composição parece ter sido feita à medida de Lori Carson. Uma audição cuidada desmente o assunto e põe a inocência e a versatilidade de Carson a cantar uma das melhores canções dos anos noventa. Um autêntico bálsamo para um teenager que vivia os seus primeiros sérios desgostos amorosos.
Madder Rose - Panic On (1993) - Uma melodia melancólica com traços rítmicos a fazer lembrar o emergente trip hop "Bristoliano". E aquela voz...
Sonic Youth - Bull in the Heather (1994) - Um trilho tumultuoso a demarcar-se do sucesso imprevisível de Dirt. Um limão ácido marca presença no repertório suave de meados de 90.
Beck - Loser (1993) - Antes da escala planetária o esguio cantautor passou no éter da Comercial sem que (quase) ninguém desse por ele. Foi preciso chegar o Verão de 94 para pôr toda a gente a cantar: "Soy un perdedor"... O resto da história é por demais conhecida.
Frank Black - Headache (1994) - Os meus 16 anos não se aperceberam que os Pixies tinham terminado apenas 2 anos antes. O fascínio pela figura de proa da banda era imenso. Headache é uma das canções mais refrescantes da história da pop e o álbum que a contém (Teenager of the Year) é uma caldeirada condimentada com, rock sem espinhas, pop refinada, reggae electrónico, punk, e outros géneros descomplexados (favor ver um dos primeiros posts deste blog).
Pavement - Cut Your Hair (1994) - A banda mais séria de todas as que aspiram apenas a um cantinho pequenino na história do rock independente. Todos os discos dos Pavement são bons, mas esta canção é a afirmação de uma tendência sonora e estética já a querer demarcar-se do lo-fi caro ao registo de estreia, Slanted & Enchanted.
Crash Test Dummies - MMM, MMM, MMM, MMM (1993) - Acreditem ou não os C.T.D. já foram uma banda de franjas mais alternativas. Não é uma canção de que alguma vez tivesse gostado muito. É morninha e ouvi-la recorda-me os doces 16 anos.
Weezer - Undone (The Sweater Song)(1994) - A nerdice aplicada ao rock. Quando a simplicidade se aliou a uma ingenuidade sincera e mesmo pueril, a guitarra de Rivers Cuomo tocou por desamor. Desamor de uma adolescência gozada e pouco levada a sério. Rivers não se importou de a escrever. Que bem fez ele...
Boo Radleys - Wake Up Boo!(1995) - Algures neste blog mencionei um dia, que esta canção tinha sido considerada a mais alegre de todos os tempos, segundo parâmetros de avaliação que incluíam a estrutura harmónica e melódica, a letra, entre outros. Este tipo de estudo vale o que vale, mas os B.R. embarcaram na pop fresca de meados de 90 sem qualquer tipo de recurso a artíficios ou pose de super estrelas. Talvez por isso nunca tenham obtido o mérito que lhes é devido.
Inspiral Carpets - Saturn 5 (1994) - Injustamente engavetados na segunda linha de Manchester, os Inspiral Carpets misturavam o espírito mais efusivo e sorridente dos Doors com o ácido dos Happy Mondays e de toda a movida de Manchester.
Que bom era ouvi-los às duas da manhã.
Renegade Soundwave - Positive ID (1994) - Provavelmente a música de dança que ouvi durante mais tempo. Do meu quarto rumava até uma imaginária Nova Iorque fora de horas.
Luna - Tiger Lily (1994) - Embora na K7 tenha ficado outro registo (Great Jones Street) do mesmo disco (Bewitched), Tiger Lily foi a canção pop-mistério de 1994. Percorri lojas de música nos anos seguintes à procura do dito disco que infortunadamente, por via da lei da oferta e da procura, nunca consegui encontrar até uma belíssima tarde na antiga Virgin dos Restauradores onde finalmente consegui adquiri-lo a peso de ouro. Valeu a pena.
A alma viageira não descola. Os Meridianos e os Trópicos tendem a fundir-se e, no pequeno espaço que ocupo cabe o mundo inteiro. Chego-lhe com a mesma facilidade com que coço o nariz. Na impossibilidade de tocar e escutar todas as latitudes e longitudes, sou forçado a fazer uma ambiciosa selecção que a seu tempo poderá ter alguns acrescentos:
Madrid (Espanha) - Fica aqui tão perto e ainda não tive o prazer de visitar a "outra" cidade que não dorme. Em breve... quiçá...
Maputo (Moçambique) - Há qualquer coisa em Moçambique que me impele a uma visita demorada. Será por ser África? Será por se falar português? Pois... Será? Talvez...
Nova Iorque - Los Angeles (E.U.A.) - Não quero guardar apenas as memórias descritivas de Kerouac, quero senti-las. Um pouco apenas.
Puerto Ordaz (Venezuela) - Um entre vários destinos sul-americanos a visitar...
Colónia de Sacramento (Uruguai) - Uma cidade fundada por portugueses no Uruguai? Património da Unesco desde 1995? Razões de sobra...
Manchester (Inglaterra) - Madchester, Happy Mondays, Stone Roses, Oasis, Manchester United... Um dos poucos destinos acinzentados que gostaria de visitar.
Santiago do Chile (Chile) - Um país que é uma finíssima linha costeira e cuja capital se assemelha arquitectonica e culturalmente a algumas das capitais europeias. Huummm... Uma curiosidade há muito instalada.
Oslo e Fiordes (Noruega) - O país com maior indíce de desenvolvimento humano do mundo merece uma visita.
Auckland e excertos da Nova Zelândia - Os cinco continentes imersos num só país, já para não falar da aventurosa distância de uns tantos mil km...
Dilí e Timor Leste - Segundo rumores que ouvi após a independência, a extensão territorial de Timor é mais ou menos equivalente à do Alentejo. Depois de ver as deliciosas imagens daquele país remoto numa conhecida revista de viagens, o apetite ficou ainda mais aguçado.
Teerão (Irão) - As imagens de Abbas Kiarostami revelaram pequenos fragmentos de uma capital que parece ter tanto de tristeza como de fascinante melancolia.
Barrow (E.U.A.) - Apenas por ser a localidade mais a norte do Estado do Alasca. Chris Nolan e Al Pacino tiveram influência neste destino em potência (Insomnia). Aqui a noite não chega. Pena o sol não espreitar com a regularidade desejada.
Ouagadougou (Burkina-Faso) - Esta a acontecer será com o amigo Guru. Não há mar, mas há fronteiras com: Mali, Togo, Níger, Benim, Gana e Costa do Marfim. Ah, e estamos "dentro" de África.
Porto Alegre (Brasil) - O estado brasileiro de Rio Grande do Sul está deslocado dos olhares massificados dos turistas que vão à procura de sol, praia, samba e outras virtudes paradísiacas no maior país sul-americano. Esmiuçando o olhar sobre São Paulo até à fronteira com o Uruguai, passando por Porto Alegre, talvez se vislumbre o porquê de o Brasil estar actualmente entre as 10 maiores economias do mundo.
Monsaraz (Portugal) - Pensam vocês: "Olha o espertinho que é tão viajado e nem sequer conhece uma das mais importantes aldeias históricas do país". Pois é, mas as melhores fatias do bolo devem ser saboreadas mais delicada e intensamente, e Monsaraz terá esse privilégio em breve... muito em breve mesmo.