Ontem acabei de ver a melhor série de TV de todos os tempos.
Twin Peaks é tudo aquilo que não queremos que seja. A ver se me faço entender.
David Lynch há muito que deixou as franjas do cinema underground, para se estabilizar como realizador de culto, amado por muitos e - convenhamos - pouco desprezado, quer pelo público quer pela crítica. Paradoxo à parte, Lynch é um realizador consensual (ou quase) que realiza filmes não consensuais (tome-se como exemplo o último INLAND EMPIRE). Tão simples quanto isto: quem não gosta de Lynch não diz que o odeia, diz apenas que não vai à bola com a sua estética cinematográfica. Enquanto realizador é um falso diplomata. Consegue enganar-nos com as aparentes estórias triviais e deixa-nos envolver nas experiências sensoriais que as imagens transmitem aos nossos neurónios. Depois tira-nos o bolo. A maioria não ficará agradada com este roubo consentido de Lynch, outros, como eu, ficarão agradecidos por lhes tirarem a guloseima que tantas calorias iria injectar nas nossas retinas.
Twin Peaks é a novela (soap) mais atípica de todos os tempos.
Dividida em duas temporadas (a primeira com sete episódios e a segunda com vinte e dois), a novela gira em torno de um suposto crime cometido numa pacata cidade no norte dos E.U.A.
Não vou repisar o que provavelmente já todos sabem: Quem matou Laura Palmer?
A primeira temporada é genial. As personagens estão brilhantemente modeladas, a direcção de actores é fantástica e, tal como nos seus filmes, nada é conclusivo do ponto de vista da construção dramática do argumento. Antevia-se uma segunda temporada. As pessoas gostam que lhes fechem o espaço mental, gostam de resposta para as questões.
A magia do cinema e, cada vez mais da TV, é que as respostas às questões não precisam de ser dadas. Existe um espaço aberto que o realizador ou o argumentista deixa ao critério do espectador. Nesse espaço existe liberdade para fazer toda a espécie de conjecturas, deambulações mentais ou simplesmente adormecer.
A primeira temporada deixa um espaço exagerademente obeso para as mais diversas ramificações especulativas. A segunda temporada responde à questão que todos queriam saber e que aparentemente parece ser o centro nevrálgico do drama.
Com o passar dos episódios da segunda temporada, nota-se que Lynch deixou uma margem maior de liberdade criativa aos realizadores. Talvez se tenha chateado com o facto de que a tão ansiada resposta tenha sido dada a meio da série.
Desprendeu-se.
Nota-se depois que a linha narrativa vai sendo construída quase ao discorrer das imagens. Uma ideia leva a outra, uma personagem conduz ao aparecimento de outra. E assim, a meio da série a quantidade de estórias dentro da plotline principal é enorme. O sonho é anarquicamente organizado. As estórias embrulham-se, cruzam-se perceptivelmente. E depois, no final, Lynch filtra tudo e dá-nos o tal espaço. Tira-nos do labirinto novelesco que até aí havia sido criado e introduz-nos no espaço hábil de sonho negro, pontuado aqui e acolá de contornos oníricos - Annie e Cooper como exemplo maior.
Não conclui, não constrói um edíficio sólido, mas sim uma casinha de lego, daquelas que podemos desmontar e voltar a construir de acordo com o nosso estado de espírito. Mas é apenas uma novela... Daquelas que eu gosto, daquelas que a Globo nunca iria comprar.
Graças a dEUS.
Twin Peaks é tudo aquilo que não queremos que seja. A ver se me faço entender.
David Lynch há muito que deixou as franjas do cinema underground, para se estabilizar como realizador de culto, amado por muitos e - convenhamos - pouco desprezado, quer pelo público quer pela crítica. Paradoxo à parte, Lynch é um realizador consensual (ou quase) que realiza filmes não consensuais (tome-se como exemplo o último INLAND EMPIRE). Tão simples quanto isto: quem não gosta de Lynch não diz que o odeia, diz apenas que não vai à bola com a sua estética cinematográfica. Enquanto realizador é um falso diplomata. Consegue enganar-nos com as aparentes estórias triviais e deixa-nos envolver nas experiências sensoriais que as imagens transmitem aos nossos neurónios. Depois tira-nos o bolo. A maioria não ficará agradada com este roubo consentido de Lynch, outros, como eu, ficarão agradecidos por lhes tirarem a guloseima que tantas calorias iria injectar nas nossas retinas.
Twin Peaks é a novela (soap) mais atípica de todos os tempos.
Dividida em duas temporadas (a primeira com sete episódios e a segunda com vinte e dois), a novela gira em torno de um suposto crime cometido numa pacata cidade no norte dos E.U.A.
Não vou repisar o que provavelmente já todos sabem: Quem matou Laura Palmer?
A primeira temporada é genial. As personagens estão brilhantemente modeladas, a direcção de actores é fantástica e, tal como nos seus filmes, nada é conclusivo do ponto de vista da construção dramática do argumento. Antevia-se uma segunda temporada. As pessoas gostam que lhes fechem o espaço mental, gostam de resposta para as questões.
A magia do cinema e, cada vez mais da TV, é que as respostas às questões não precisam de ser dadas. Existe um espaço aberto que o realizador ou o argumentista deixa ao critério do espectador. Nesse espaço existe liberdade para fazer toda a espécie de conjecturas, deambulações mentais ou simplesmente adormecer.
A primeira temporada deixa um espaço exagerademente obeso para as mais diversas ramificações especulativas. A segunda temporada responde à questão que todos queriam saber e que aparentemente parece ser o centro nevrálgico do drama.
Com o passar dos episódios da segunda temporada, nota-se que Lynch deixou uma margem maior de liberdade criativa aos realizadores. Talvez se tenha chateado com o facto de que a tão ansiada resposta tenha sido dada a meio da série.
Desprendeu-se.
Nota-se depois que a linha narrativa vai sendo construída quase ao discorrer das imagens. Uma ideia leva a outra, uma personagem conduz ao aparecimento de outra. E assim, a meio da série a quantidade de estórias dentro da plotline principal é enorme. O sonho é anarquicamente organizado. As estórias embrulham-se, cruzam-se perceptivelmente. E depois, no final, Lynch filtra tudo e dá-nos o tal espaço. Tira-nos do labirinto novelesco que até aí havia sido criado e introduz-nos no espaço hábil de sonho negro, pontuado aqui e acolá de contornos oníricos - Annie e Cooper como exemplo maior.
Não conclui, não constrói um edíficio sólido, mas sim uma casinha de lego, daquelas que podemos desmontar e voltar a construir de acordo com o nosso estado de espírito. Mas é apenas uma novela... Daquelas que eu gosto, daquelas que a Globo nunca iria comprar.
Graças a dEUS.
2 comentários:
eu tive tb a oportunidade de ver a serie,bem a primeira temporada recentemente..depois fiz batota e vi o filme...bem fiz uma directa masvaleu a pena!
A Melhor Novela de todos os tempos em 16 capitulos. Penso que nos restantes, muito da qualidade do "plot" bem como a densidade das sensações que senti ao escrever ... se perderam. O Lynch apaixonou-se durante a rodagem e eu tive que ceder. No filme, recusei-me a participar.
Um abraço.
Mark Frost, algures na Grey Lodge.
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