segunda-feira, abril 10, 2006

Revolucionaram, odiaram, depois amaram e sem ideias acabaram


1995. Onze anos passados sobre o lançamento de um dos álbuns mais polémicos e influentes da história da música pop. Em 1984, Psychocandy foi a pedrada no charco que os Jesus and Mary Chain decidiram mandar, molhando todos aqueles que acharam que pouco ou nada podia ser feito na cena pop-rock depois da revolução punk dos Pistols e dos Clash (pra não falar da cena no outro lado do Atlântico com os Ramones ao leme).
Psychocandy foi o manifesto feito de guitarras em ponto de rebuçado, prestes a explodir no acorde (feedback) seguinte. À simplicidade e arrojo dos Velvet Underground juntaram as melodias dos Beach Boys e depois carregaram na panóplia de efeitos (distorções, phazers, fuzzs, eu sei lá que mais) e mandaram as boas maneiras às urtigas (concertos de 15 minutos voltados de costas para o público que normalmente acabavam em motim incontrolado). Em 1995, dizia então, já depois de alguns pequenos tropeções (Automatic de 1989) e das pazes feitas com as canções (Stoned and Dethroned de 1994), os Jesus and Mary Chain tentaram mais uma vez revolucionar. "I Hate Rock n`Roll" foi o ep lançado em formato "tentativa de pedrada no charco, pt. 2". O problema é que a pedrada desta vez passou ao lado do charco, acertando por ventura nalguns ouvidos menos propensos a frases de ordem ditadas contra as máquinas de divulgação e comunicação do universo musical (e porque não cultural) mais mainstream e mais massificado: "I hate the MTV, I hate them when they`re pissing on me". Os rapazes rebeldes sem causa de 1984 tornaram-se nos homens sem causa que decidem disparar em todas as direcções procurando porventura a atenção que deixaram de ter durante toda a primeira metade dos anos 90.
Esta atitude de quem está inserido no sistema e o denuncia de dentro para fora é por demais conhecida e quando bem usada consegue realmente abanar algumas estruturas, sem no entanto as conseguir derrubar. Aliás, parece ser mesmo assim que a indústria se alimenta. Músicos, performers, artistas no geral denunciam, e a "máquina industrial", numa atitude aparentemente ignorante promove as obras que à partida a levariam à ruína, mas incrivelmente, os discos e as obras vendem, perpetuando assim um ciclo viciado, dificilmente desconstruído.
Ora, se em 1995 os Mary Chain dizem estar fartos do rock e especialmente da indústria viciada que o promove, fazem-no de uma forma terrivelmente cínica e infantil e como exemplo temos mais uma vez: "I hate the BBC, I hate when they´re shittin` on me". Ahh, e depois há ainda a parte final da faixa em que, de rebeldes mercenários, passam a vítimas de uma "guerra injusta": "Rock n`Roll hates me". Obviamente não poderiam ser levados a sério. Chavões deste género são proferidos todos os dias por músicos mais ou menos frustrados que têm de encontrar a culpa para o seu insucesso num qualquer bode expiatório mais próximo da mira das suas armas verbais.
O exercício dos Mary Chain teria ainda assim um valor de contestação (pobre é certo) datado, não fosse o desmentido que acabaria por sair 3 anos depois no derradeiro album "Munki", "I love Rock n` Roll". Afinal eles gostam de rock, estavam só a brincar. Em que ficamos? Já cresceram? Amadureceram? Assentaram ideias ou ainda gostam de disparar a pistola em qualquer direcção? Hoje não gosto de favas com chouriço, mas amanhã é o meu prato favorito.
Contudo, " I hate Rock n` Roll" é um exercício vazio apenas liricamente. Instrumentalmente, o ep e especialemente a canção não trouxe nada de novo ao som "Mary Chain", mas não deixa de ter pormenores muito interessantes, designadamente no emparelhamento de efeitos e ruídos a meio da faixa.
Caso para dizer: gostava de ter de novo 16 anos e enredar-me nas minhas próprias contradições.